Trinta

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Noah

"O mal dentro de você nunca vai embora. Você só pode aprisioná-lo e rezar para que ele não seja mais forte que as grades."

Eu matei uma pessoa.

Não, eu não atirei nela, ou cortei sua garganta com uma faca. Também não a joguei na frente de um carro, nem nos trilhos de um trem. Não fui eu quem segurou a arma do crime e decidiu pôr fim na vida de Katrina Campbell.

Eu lhe dei o gatilho. Eu a induzi. Eu fiz seu vício. Eu vendi um maldito pacotinho de droga para ela um dia antes da sua morte.

Foi uma overdose, ter caído na banheira com o secador ligado foi apenas uma consequência. Então, mesmo de um modo indireto, eu causei essa merda. E isso pesa na minha consciência como uma tonelada.

A pior parte é que essa é a segunda. A segunda garota de quem a morte pesa nas minhas costas.

Meu plano com o Mason já estava na reta final. Eu tinha vídeos e fotos. Tudo o que era necessário para incriminar Lia estava no bolso da minha carteira. Mas agora tudo pareceu perder o sentido.

Minha maior motivação era a Liv, e eu a perdi. Eu sou esse estúpido idiota chorando no chão do banheiro com uma garrafa de Jack Daniels quase no fim e um coração partido.

No fundo, eu já sabia que isso iria acontecer. Que em algum momento, bem no futuro, a vida se encarregaria de trazer essa mentira para a luz. Eu só não imaginei que seria desse jeito.

Eu não vou te ouvir! Eu não quero nem te ver! Nunca mais, Noah James!

Os olhos da minha Pequena, cheios de lágrimas, sua mágoa evidente em cada palavra, o modo como ela pareceu sentir mil dores ao descobrir a farsa que eu sou.

O que eu estou sofrendo é pouco.

Eu não sei quantas horas já se passaram. Eu vejo o sol entrar pela janela, mas não consigo dizer se são sete da manhã ou quatro da tarde.

Ela não me atende. Foram cinquenta e sete ligações e ela rejeitou todas sem esperar pelo terceiro toque.

Mason está esperando enquanto a água fria me acorda. Na verdade, eu continuo anestesiado desde que a vi sair correndo pelas escadas e não pude fazer nada, mas não vou falar e estragar a felicidade de Mason em me ver um pouco mais calmo.

Calmo. Fala isso para as rachaduras na parede do banheiro e o espelho quebrado. O sangue escorrendo dos meus punhos e o álcool presente nele diz muito sobre mim, e o mais importante é que eu não estou nada calmo.

Eu vou foder a vida do idiota que fez isso. Que falou alguma coisa sequer para a Liv, porque eu sei que ela jamais iria naquela festa sem um ótimo motivo. Eu vou foder com a vida de Lia Donovan, de um jeito que ela nunca mais irá se recuperar. E é com esse pensamento que eu saio de casa na madrugada silenciosa em busca de vingança.

...

Lia me falou sobre um fornecedor da Califórnia que veio para a cidade. Ela ficou tão empolgada com a notícia, que nem notou as informações confidenciais que vazava.

Ele tinha muito poder. Não mandava nessa confusão, mas tinha grande investimento por trás disso.

Eu só preciso ligar. Eu acho que o álcool ainda fala por mim, pois sinceramente nem sei o que vou dizer. Eu só me preocupo encontrar uma alternativa de sair dos negócios sem afundar toda minha vida.

O cartão queima no meu bolso, avisando que já está na hora, que eu não posso protelar mais.

Alguns números, dois toques e uma voz rouca soa pelo meu celular.

Desastre Sensual (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora