Epílogo - Os cinco estágios da dor

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"No sono ele cantou para mim, nos sonhos ele veio. Será que eu estou sonhando? Porque eu acho que sim... O fantasma da ópera está lá, dentro da minha mente." - The Phantom of the opera.

Ei, coração, você pode bater mais devagar? Podia, por obséquio, me dar um descanso?

Ei, mente perturbada, será que você já não cansou de trabalhar? Acho que está na hora de dormir e afastar esses pensamentos ruins.

Eu me sinto tão doente. Intoxicada, para falar a verdade — o que é engraçado, porque eu nem lembro a última vez que comi.

Corie já desistiu de tentar me animar. Depois de se certificar que eu estou viva toda manhã, ela me deixa em paz.

Faz um mês desde que eu o perdi. Há um mês, eu deito nessa mesma cama e fantasio uma realidade diferente em que ainda podemos estar juntos. Eu sinto seu cheio tão vivo em meus sonhos, seu calor me abraçando no meio de uma crise. Eu entendo que nada disso é real, mas é o que tenho, e me agarro com unhas e dentes nesses delírios.

Eu não tive coragem de o visitar na cadeia — e mesmo se quisesse, meu pai não permitiria. O que mais doeu foi ter as acusações dos James sobre como eu influenciei o filhinho deles e que a culpa era totalmente minha. Meio ridículo, mas eu deixei passar. Compreendi a barra pesada que eles estavam segurando e apenas ignorei.

Noah mentiu para mim, porra. Eu sou uma trouxa por ainda chorar por ele, mas a dor precisa ser sentida. Eu acredito que em algum momento tudo isso vai passar. Eu vou chorar hoje, lavar toda essa sujeira dentro de mim, colocar para fora o que restou dele no meu coração, e então ter paz. Finalmente, ter paz.

Bom, enquanto a paz não chega, eu corro para o banheiro e vomito qualquer coisa que esteja no meu estômago. Água, basicamente.

Eu vou foder com a minha saúde, eu sei, mas qualquer comida que chega perto de mim me faz querer vomitar até o pâncreas.

Eu acabo pensando que posso estar grávida. Coisa nenhuma. Eu não estou grávida de Noah James, não poderia estar. Poderia?

A possibilidade me ocorre e em milésimos de segundos eu caio no chão do banheiro, chorando feito um bebê. Não, nada de bebês, nada de choro de bebês ou algo parecido.

Corri até a farmácia mais próxima e me certifiquei de sair de lá com cinco testes, cada um de uma marca diferente.

Nada de falso positivo por aqui.

Um minuto.

Eu não estou grávida, é até uma idiotice toda essa apreensão por um teste no qual eu já sei a resposta.

Dois minutos.

E se eu estiver? Se dentro de mim existir mesmo uma vida? Maldito, maldito, maldito! Não o bebê, o Noah. Aquele imbecil me deixou grávida e sozinha! Já me imagino sofrendo o resto da vida tentando criar uma cópia daquele crápula! Isso não pode estar acontecendo comigo, é injusto...

Três minutos.

Ok, não levei muito tempo para descobrir que a raiva não é a chave de tudo. Eu preciso negociar com o destino. Qual é, por que a vida não me manda esse bebê daqui há alguns anos? Vai ser melhor para todo mundo. Se isso for uma punição, eu adoto um cachorro! Um gato, um peixe, um cavalo, qualquer coisa. Qualquer coisa, menos o filho de Noah James.

Quatro minutos.

Vendo que a vida não me levaria à sério, deixo de implorar. Eu simplesmente sento no chão do banheiro e deixo o medo me abraçar. Permito que as lágrimas salgadas desçam pelo meu rosto, percorrendo o mesmo caminho das anteriores.

Cinco minutos.

É agora. A hora da verdade. Eu levanto rápido, e sem querer adiar aquela revelação, viro todos os cinco testes.

Positivo.
Positivo.
Positivo.
Positivo.
Positivo.

Bem, parece que não há nada mais que eu possa fazer. Vou aceitar minha condição.

E nem quero ouvir aquela pequena parte do meu cérebro que fala sobre o aborto. Eu tenho condições de criar um filho, eu só não quero isso. Nesse caso, querer realmente não é poder.

Nesse dia, faço desses cinco testes os meus melhores amigos. Eu não desgrudo os olhos desses palitinhos, esperando que o resultado mude, ou que eu esteja apenas tendo uma alucinação.

Bom, parece que não. Estou grávida mesmo. Gravidíssima. Grávida pra caralho, merda.

Eu tento não pensar sobre quem é o pai desse bebê. Imagina a confusão que vai dar com a família James, ou com a minha família! E essa criança? Vai crescer com o pai na cadeia? Nem por um milhão eu vou deixar aquele criminoso tocar no meu filho!

Eu o amo, amo o Noah com força, mas me amo mais. Eu sei que o amor que terei por esse feto vai superar todos os outros. Eu não posso mais ser egoísta ao ponto de deixar essa criança sofrer só para fazer o que é politicamente correto.

Acho que lamentei o suficiente por uma perda, e mesmo se não tivesse, essa história não se trata mais de mim, do Noah, ou do que tivemos juntos. Se trata dessa nova vida se formando em algum lugar da minha barriga. Agora é sobre ele, e ninguém mais.

Depois de mandar uma foto para Corie dos testes de gravidez, obrigo meu estômago a digerir qualquer coisa. Comecei com um pequeno pão doce, e quando vi já estava devorando tudo que tinha no armário. O sabor da comida na minha boca era como o paraíso na terra, quase ouvi meu estômago me agradecendo por ter criado algum juízo.

— Bom, bebê. — Me escorei na ilha da cozinha enquanto fitava minha barriga desnuda. — Parece que ainda tem muita história pra contar.

Desastre Sensual (REPOSTANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora