🌻 03| Pérola

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Meus pés tocaram a areia branca da praia, respirei fundo, tão fundo que senti uma pontada de dor no interior do nariz. Enquanto eu andava em direção ao mar podia sentir cada pedrinha de areia tocar minha pele, ela estava quente, mais quente que o normal em minha opnião.

A praia não tinha tantas pessoas como de costume, mas o bastante para manterem os garçons do quiosques ocupados. Me aproximei de um deles e comprei uma água de coco. Doce e gelada. Uma delícia.

Sentei na areia enquanto esperava minha mãe chegar. Minha doce Victória. Depois que meu pai morreu ela trabalhou muito, apesar da herança que recebemos.

Ela dizia que nunca deixaria de trabalhar, foi criada assim. Meu avô ensinou a ela, filha única, a sempre trabalhar para ter suas coisas e não depender de homem algum. E assim ela fez e me ensinou o mesmo. Eu tenho tempo para as minhas farras, mas não deixo de trabalhar.

O Garcia's restaurante sempre foi o sonho do meu pai e eu e minha mãe juramos em seu leito de morte que continuariamos com o negócio. E ele é o maior sucesso de Copacabana. O mais famoso restaurante de comida caseira do Rio de Janeiro. Meu pai ficaria orgulhoso.

Senti mãos macias e com um cheiro doce de macadâmia. Minha mãe havia chegado. Ela usava uma tanga e chapéu de praia. Ambos combinavam com o biquini azul que acentuavam a cor bronzeada da sua pele. Assim como eu, ela também adorava a praia.

- Hoje o sol está mais quente. - Ela disse preparando a toalha na areia. Tirou a tanga e exibiu seu belo corpo.

Quem a olhasse não diria que ela aparentava ter a idade que tem. Quarenta e seis anos com um corpo de vinte. Minha mãe era linda. E amava se cuidar.

- É verão mamãe... - Eu disse rindo.

- Minha querida. Com todo esse aquecimento global, não me surpreenderia que a terra pegasse fogo no inverno. - Sempre exagerada.

Ela pegou o protetor solar e se ofereceu para passar em mim. Aceitei. Minha mãe tocava em mim como se eu pudesse quebrar a qualquer momento. Desde que descobrimos que eu estava doente ela redobrou seu cuidado.

Depois de muita discussão ela diminuiu um pouco. Ela me sufocava com sua lista de alimentos que eu podia ou não comer, qualquer mal estar ela já queria me internar em um hospital. Por isso eu decidi me mudar.

No início foi difícil pra ela, mas aos poucos ela vai se acostumando a ficar sozinha. Ela precisa aceitar o fato de que nosso tempo juntas é curto e não quero passar o pouco tempo que tenho sendo tratada como uma boneca de porcelana.

Naquela tarde conversamos sobre tudo. Ela riu quando contei do estranho que dormiu comigo.

- Não sei onde está a graça! Eu devo ter bebido demais para deixar isso acontecer. - E era verdade. Na noite anterior eu bebi muito, não o suficiente para cair, mas o bastante para me deixar com amnésia. Não me lembrava de absolutamente nada!

- Você não devia beber tanto. Isso pode acelerar a doença... - Minha mãe disse em tom de preocupação. Mas, logo seu olhar se tornou triste depois da minha resposta.

- Tecnicamente eu já estou morta! - Eu e minha boca grande.

Lágrimas surgiram no rosto de minha mãe. A única coisa no mundo que partia meu coração era aquilo. Eu me arrependi amargamente por ser tão dura com ela. De nós duas ela era a que mais estava sofrendo com toda aquela situação. Perdeu meu pai e agora está prestes a perder a filha também.

Em menos de dois anos ela estaria sozinha, totalmente sozinha. Quem no mundo inteiro suportaria viver com essa dor?

- Mamãe! Por favor me perdoe! Eu... Eu não devia ter dito isso! Não chore! - Tentei abraçá-la, mas ela se afastou. Agora seu olhar estava duro e decepcionado.

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora