🌻 29| Pérola

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Miguel e eu conversamos e pensamos bastante no que iríamos fazer. As chances de dar certo eram mínimas. Mas, ainda assim eram chances.

- Por muito tempo eu não me importei, ou talvez fingi não me importar. Com a doença e o fato de que eu estou morrendo. - Eu disse para Miguel, enquanto estávamos abraçados na cama. Senti seu corpo tremer e ele suspirou.

- Não diz isso! Não diz que está morrendo. Eu... Eu não suporto nem pensar nisso. - Seu olhar era de tristeza e medo. Dei um beijo em seus lábios macios.

- Me desculpe. Prometo não falar mais assim.

- É que quando estou assim com você. Te amando, te beijando é tão real que eu não quero perder. Eu sei que a nossa realidade é outra e isso me dói muito. Mas, eu quero aproveitar cada segundo que eu puder com você. - Ele passou as costas das mãos no rosto. Estava chorando. - Eu amo você.

- Eu também amo você.

- Nunca mais diga que está me deixando. Machuca.

- Mas, eu nunca vou deixar você. - Peguei suas mãos e entrelaçei nas minhas e as pousei na minha barriga. - Não completamente.

🌻

Dr. Sebastian estava com um semblante sério depois de ouvir tudo o que eu disse.
Por uns longos minutos ele olhava meus exames e meu prontuário. Eu sabia qual era a sua decisão médica. Ele queria o meu bem estar, para ele minha filha era uma pedra no meu caminho.

Eu estava tremendo. Miguel segurava minhas mãos firmes transmitindo calma. Eu já estava quase perdendo o controle quando meu médico resolveu falar.

- É muito arriscado. Pérola, eu fui bem claro quando disse que essa gravidez coloca a sua vida em risco e nesses casos o mais aconselhável é o aborto. Tanto você quanto essa criança correm perigo.

- O aborto não é uma opção pra nós. Eu quero ter esse filho, doutor! Se o senhor ver que tem pelo menos uma chance de que tudo pode dar certo eu quero que o senhor faça. Eu faço qualquer coisa, eu tomarei qualquer remédio. O senhor pode até me internar se quiser, mas eu vou ter essa criança! - Eu disse com firmeza mal reconhecendo quem era essa pessoa que eu acabei de me tornar.

- Se você seguir com essa gravidez, essa criança pode nascer antes do tempo. Poucas crianças sobrevivem a isso e se sobreviverem têm uma alta chance de ficarem com sequelas. O risco é muito alto.

Olhei para Miguel que estava assustado. Será mesmo que essa era a melhor decisão a tomar? Se eu morrer nunca vou conhecer o rostinho da minha pequena bomba, se eu tirá-la a força vou conviver com essa culpa de que "poderia ter dado certo".

Eu tenho que tentar.

- Doutor, com todo respeito. O senhor é um médico ótimo e muito respeitado, porém, se não for me ajudar eu lhe peço desculpas, mas vou atrás de outro que ajude. Eu não vou permitir que tirem a minha filha de mim. - Eu me levantei e senti uma tontura. Miguel me acudiu e eu sentei de volta na cadeira. - Eu não posso deixar que a matem! A minha esperança, doutor. Me diz que ela existe!

Vários minutos angustiantes se passaram entre ligações para especialistas e amigos de confiança do Dr. Sebastian. Tentando buscar uma solução que agradasse a todos. Mesmo sabendo qual seria o final dessa história eu estava feliz com a mera possibilidade de poder salvar a vida do meu bebê.

- Bom, Pérola. Estou de mãos atadas. Eu não posso seguir com um procedimento sem o seu consentimento. Existe sim uma chance de tudo dar certo, mas é algo muito arriscado. O que você está me pedindo vai contra todas as minhas opiniões médicas. Mas, eu não posso deixar uma paciente minha se arriscar com outro profissional, eu não ficaria em paz. Enfim, eu vou tentar mesmo sendo arriscado. - Eu dei um sorriso que não cabia no meu rosto. - Eu vou precisar de exames e provavelmente você ficará internada algumas vezes. Não será um caminho fácil Pérola. A quimioterapia tende a ser muito dolorosa e a gravidez já vai exigir um esforço enorme do seu corpo. Eu preciso que você assine um documento em que você confirma que está ciente dos riscos.

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora