🌻 09| Pérola

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Tomei café às pressas, pois queria chegar logo ao restaurante para conversar com a minha mãe e pedir desculpas pela noite passada.

O táxi seguiu no caos das ruas do Rio de janeiro. Acontecia um protesto pelo alto preço da gasolina. Caminhões parados atrapalhavam o fluxo de carros e o trânsito estava lento. Por sorte o restaurante era bem perto da minha casa, cinco minutos de carro. Mas, hoje duraram vinte minutos.

Assim que entrei no restaurante notei o quanto estava cheio e nem eram onze horas ainda. Vários homens sentados nas mesas conversando e reclamando do alto preço do diesel. Supus no mesmo instante que todos eles eram responsáveis por toda aquela bagunça de protesto. Passei por Lavínia no caixa e perguntei onde estava a minha mãe.

- Bom dia, Pérola. Até que enfim você voltou. Fico feliz. - Ela me deu seu sorriso gentil de sempre. Ela era uma boa menina. E linda. Preta, como ela gostava de ser chamada, de olhos escuros e cabelos muito encaracolados. Ela me lembrava muito a Taís Araújo. - Sua mãe está no escritório em uma reunião com um dos arquitetos responsáveis pela obra do segundo andar e pediu pra não ser interrompida.

Sem dar muita importância ao que ela disse, agradeci e segui para o escritório. Pensei em bater na porta, mas decidi entrar sem bater. Tomei um grande susto quando vi minha mãe encostada na parede aos beijos com um homem não muito novo. Eu daria a ele uns cinquenta anos.

- Mamãe! - Ela deu um sobressalto assustada. Com o batom borrado e cabelos bagunçados retirou o homem de cima dela quase o fazendo cair sobre a mesa. - Se divertindo na reunião Dona Victória? - Eu conti uma risada. O homem ajeitou o terno, muito envergonhado com toda a situação. Ele era alto e tinha um olhar bastante familiar. Eu poderia jurar que já o tinha visto antes. Seus cabelos grisalhos estavam muito bagunçados, o que significava que a farra dele com a minha mãe estava bastante interessante. Ele era um homem muito bonito.

- Oh! Pérola, minha filha. Eu já lhe disse que é falta de educação entrar sem bater! - Disse ela retomando a postura de executiva. E falhando. Suas bochechas estavam coradas de tanta vergonha.

- Ah, mamãe. Como eu ia advinhar que você estaria se atracando na nossa sala com um coroa gostosão? - Agora quem ficou corado foi o bom senhor. Mas, eu não mentia. Ele era mesmo muito lindo. Poderia dizer que ele e Bon Jovi eram parentes.

- Pérola! - Disse minha mãe me fuzilando com o olhar. - Me desculpe, Sr. Roberto. Minha filha às vezes é muito sincera. Quase sempre lhe falta um filtro. - Ah, sim. Agora vamos nos tratar formalmente.

- Mamãe... Não precisa ficar com ciúmes. Ele não faz muito meu tipo. - Ela soltou mais alguns sermões e depois me apresentou ao Sr. Coroa gostosão. - É um prazer conhecê-lo Sr. Roberto. E me desculpe interromper a brincadeirinha de vocês.

- Não se preocupe, eu é quem peço desculpas pelo constrangimento. Eu e sua mãe... Nós... - Ai que blá blá blá.

- Nós estamos juntos, Pérola! É isso. Eu ia te contar, mas não te via havia semanas. Nós nos conhecemos quando eu estava procurando um arquiteto para a construção do segundo andar e ele é o melhor da cidade. - Minha mãe olhou para aquele homem com um brilho intenso. Ela estava gostando dele e isso encheu meu coração de alegria.

- Certamente esse é um momento inapropriado para esse tipo de conversa, mas Pérola, eu queria te convidar para um jantar na minha casa. Para podermos conversar com mais calma. Eu tenho um filho e ele ainda não sabe que eu e suas mãe estamos juntos. Minha mulher morreu faz alguns anos e não sei bem como ele vai lidar com essa situação. - Quanto mais ele falava mais nervoso ficava. Aquele homem me pareceu tão bom. Minha mãe me fitava, estava muito aflita, era como se esperasse que eu desse um chilique. Ela tinha medo que eu não aprovasse aquilo por causa do meu pai.

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora