🌻 34|Miguel

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Fechei os olhos e me lembrei do sorriso dela. Como eu amava aquele sorriso e como eu amava o som das gargalhadas dela quando eu contava uma das poucas piadas boas que eu tinha.

Mas agora, eu não ouvia nada.
Eu devia ter ido com ela naquela maldita consulta, eu estaria lá e nada disso teria acontecido. Agora já era tarde demais.

- Onde ela está? – Gritei com Alexia. Ela me ligou desesperada dizendo o que havia acontecido.

- Ela está sendo atendida.

Eu tentei entrar na sala de emergência, mas Alexia me impediu. Eu precisava vê-la. Eu precisava dizer a ela para não quebrar o último item da lista.

Ela não podia morrer. A lista não servia apenas para mim.
Não mais.

Não depois de tudo o que a gente tem vivido. Eu sempre demonstrei a ela que estava tranquilo quanto a tudo. A doença, a possível morte dela. Possível sim, apesar do que o médico dizia eu tinha fé. Fé de que Deus não me tiraria outra mulher que eu amava. De novo não.

Mas no fundo eu não estava tranquilo, eu não queria que ela morresse. Ela não podia me deixar.
Ela não podia deixar a nossa filha como minha mãe um dia me deixou.

- Quanto tempo ela está lá dentro? – Perguntei olhando nos olhos de Alexia. Ela abaixou a cabeça.

- Miguel... Ela teve uma parada cardíaca e eu tentei reanimá-la. Os médicos estão fazendo o que podem por ela...

- Quanto tempo ela está lá Alexia? – Gritei fazendo ela se afastar de mim. – Me desculpe... Quanto tempo?

- Meia hora. Miguel, eu sinto muito... Eu...

- Não, não! Você tem que me dizer que vai ficar tudo bem. Por favor, por todos os momentos bons que a gente já viveu... Me diz que ela vai sair dessa...

Ela não respondeu e eu não aguentei mais segurar minhas lágrimas. Alexia correu até mim e me abraçou.

- Como médica, que eu ainda irei me tornar, eu não posso dizer mas... como amiga, eu digo pra você ter fé. Por todos os momentos que vocês dois já passaram juntos eu digo pra você acreditar que tudo vai ficar bem! E digo que apesar do que possa acontecer sua filha precisa do pai. Agarre-se a isso.

Abracei-a mais forte agradecendo por ela não se importar com meus soluços. Nenhuma lágrima que eu derramasse aliviaria o tamanho da dor que cobria meu peito.

- Obrigada. – Eu disse.
Ela me apertou mais forte em resposta.

Nos afastamos. Alexia estava mais tranquila, pois sabia que eu não iria tentar entrar na sala de novo.
Ela secou minhas lágrimas com suas mãos e começou a sorrir.

- O que foi? – Perguntei sem entender sua reação.

- Eu sei que é um momento doloroso pra você, mas, tem alguém que você precisa conhecer.

Eu franzi o cenho e no mesmo instante entendi o que ela estava dizendo. A minha filha nasceu e eu ainda não a tinha visto.

🌻

Alexia me conduziu até o terceiro andar. O andar da UTI neonatal. Quando chegamos ela conversou com a recepcionista de plantão e pegou o prontuário.

Ao entrarmos na sala havia uma pia com alguns frascos por cima.

- Antes de você ver sua filha, você precisa lavar bem suas mãos com sabão neutro. – Ela me mostrou o frasco com desenhos azuis. - Secá-los com papel toalha e em seguida passar álcool-gel. – Era o frasco de desenhos vermelhos.

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora