🌻 08| Miguel

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A sala do reitor da faculdade era fria e organizada. Um frio na barriga me deixou bastante desconfortável, mas eu estava certo da minha decisão. Eu não queria continuar com uma coisa que não estava me fazendo feliz. O Reitor Marcos Hernandes entrou e se sentou depois de me comprimentar com um aperto de mão forte.

- Então senhor Miguel Vasconcelos. Aqui estão seus papéis para o senhor assinar. Tem certeza que não quer continuar com seu curso de Arquitetura? É um ótimo curso e tenho certeza que o senhor seria um ótimo profissional na área, já que seu pai é um dos melhores Arquitetos do Rio de Janeiro. - Ele disse com certo orgulho na voz. Meu pai e o Reitor já foram colegas de faculdade, mas seguiram com profissões diferentes.

- Tenho sim Reitor! Apesar do meu pai ser um ótimo profissional, infelizmente no momento não é o que eu quero. Iniciei este curso por ele e não por mim. Pensei que pudesse gostar tanto da profssão quanto ele, porém isso não foi possível. Ainda não encontrei meu caminho.

- Entendo. Bom, as portas da instituição estarão sempre abertas para você. Se o senhor mudar de idéia, seu curso estará trancado, sendo assim poderá iniciá lo novamente no período em que o senhor saiu do curso. No mais eu lhe desejo uma boa sorte e que o senhor encontre o que procura.

- Muito obrigado Reitor. - Me levantei da mesa depois de assinar os papéis, apertei a mão do meu ex reitor e segui para fora da sala. Respirei fundo e tentei manter o máximo da calma. A melhor parte eu já fiz, tranquei um curso que estava odiando. Agora chegou a hora da pior parte, dizer a meu pai que acabei de desfazer seu maior sonho. E faze lo entender que deste sonho eu não compartilhava.

Desci as escadas e me concentrei na saída, queria dar o fora dali o mais rápido possível, minhas pernas tremiam, ainda assim eu me sentia mais leve. Passei pela minha antiga sala e vi rostos conhecidos que eu nunca mais veria, não na mesma sala de aula.

Meu olhar se repousou em Caio, meu melhor amigo. Ao contrário de mim ele adorava o curso e sonhava em se tornar um arquiteto de mesmo calibre que meu pai. Ele me olhou e deu um sorriso acenando a cabeça em sinal de apoio. Ele não me questionou quando disse que trancaria o curso. Na verdade ele me apoiou muito e disse que sabia o quanto eu estava infeliz e que há muito tempo percebeu minha total falta de interesse nas aulas. Meu melhor amigo me apoiava e o melhor de tudo, estava feliz por mim.

Segui adiante.

Chegando na calçada ouvi uma voz me chamando. Ao me virar vi Alexia saindo da biblioteca com alguns livros nas mãos. Seu cabelo preto caia nos ombros e por um momento eu me lembrei de uma época, não muito distante, de como eu gostava de alisá-los.

- Miguel... Oi. Aconteceu alguma coisa? Por que não está na aula? - Apesar de não estarmos mais juntos, Alexia se preocupava comigo. Eu sabia que ela ainda era apaixonada por mim e por isso fazia o possível para ficar longe dela. Não queria lhe dar falsas esperanças. Eu sempre gostei da amizade dela. Antes de nosso relacionamento tudo era muito bom. Ela era a minha amiga e depois que terminamos tudo ficou muito estranho.

- Não. Não aconteceu nada. Estou indo embora. Tenho que resolver umas coisas.

- Miguel. Olha só. Me desculpe se estou sendo tão irritante nos últimos dias. Eu... Eu só sinto a sua falta, entende? Mas, eu não quero perder a nossa amizade. Mesmo que não tenhamos dado certo, eu ainda quero ser sua amiga. - Olhei pra ela e fui em sua direção. Dei um beijo em sua testa.

- Eu não sei se isso daria certo, Alexia. Eu não quero te dar esperanças falsas e se a gente continuar com essa amizade e você virar uma louca de novo? - Ela ficou trêmula e seus olhos se encheram de tristeza.

- Você está falando isso por causa da tal de Pérola, não é? Você está gostando dela? - Como ela sabia da Pérola?

- Como você... Está me vigiando? - Ela hesitou antes de responder.

- A Maria me contou sem querer. - Ah, sim. Alexia sabia bem como tirar coisas das pessoas.

- Olha, não é porque eu te deva explicações, mas ela é só uma garota que eu conheci e transei com ela uma vez. - Na hora em que vi suas lágrimas percebi que deveria ter deixado a parte do transar de fora.

- Porra, Miguel. Por que você faz isso comigo? Eu te amo. Eu sinto saudades de você. Você deveria estar transando comigo. - E a Alexia insistente voltou. Ela se aproximou de mim. Agarrou meus cabelos e me puxou para um beijo, seus lábios eram macios e o beijo dela era feroz. Um beijo ansioso e desesperado. Afastei-a deixando ela decepcionada. - Por quê você tem que ser tão cafajeste? Por quê não me ama da mesma forma que eu te amo?

- Porque eu não te amo, simples assim. Eu não quero magoar você. Já conversamos sobre isso... Cara... Você queria de qualquer forma se casar comigo e eu... Eu definitivamente não sou o cara certo pra casar Alexia! E você me sufocava e eu estava ficando louco. Por isso terminamos, você merece mais... Eu gosto de ser solteiro, eu gosto de sair e ficar com várias mulheres. Mas, eu nunca te traí, nunca fui desrespeitoso com você. Eu só não estou preparado pra me apaixonar por alguém. Eu não sirvo pra você. - Ela secou as lágrimas e se aproximou mais um pouco de mim. Me preparei para o caso dela querer me beijar novamente.

- Você está ferrado Miguel Vasconcelos! Eu posso ser louca e desesperada, mas eu amo intensamente, eu te amo. E o seu coração vai ser dilacerado. Ninguém acorda da noite para o dia e escolhe que vai se apaixonar. O amor acontece Miguel, quando você menos espera. E quando acontecer com você será desastroso. - O olhar de Alexia era de decepção e raiva.

- Isso é tipo uma praga que você está jogando em mim? Porque se for não vai dar certo. - Ela sorriu com desdém.

- Idiota. - Ela se retirou me deixando sozinho com meu coração que um dia será despedaçado por alguém.

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora