🌻 23| Pérola

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"Ela dormiu no calor dos meus braços.
E eu acordei sem saber se era um sonho..."

A voz de Dinho ecoava em minha mente. Mas, não era sonho. Era real. A música do Capital Inicial vinha direto da sala.

Olhei para a minha cama bagunçada e me lembrei do que havia acontecido.

Fui até a janela, a abri e deixei que o ar do fim de tarde tomasse conta do meu rosto. Avistei as pessoas e os carros que passavam na rua. Fiquei pensando em quantas delas passavam pela mesma situação que a minha.
Encarei o mar, infinito e azul. O céu, as árvores. Tudo se tornou mais intenso pra mim.

Desde que descobri a doença me sentia impotente. Nada fazia mais sentido.
Mas, desde que conheci Miguel e começamos a ficar juntos, aprendi a aproveitar cada momento como se fosse o último. Parei com as bebidas e passei a tomar os medicamentos corretamente.

Ele me faz feliz, eu me sinto bem ao lado dele. Pela primeira vez em muito tempo tenho vontade de viver, tenho planos e esperança.
Quando estou com ele esqueço da minha morte.

Já faz algumas semanas que estamos saindo. Que temos uma amizade colorida.
Estava tudo bem, tudo estava dando certo, mas agora...
Agora quebrei a minha regra mais importante.

Eu me apaixonei por ele!

Agora estou desolada, feliz, confusa e com raiva. Nós nos declaramos e nem estávamos bêbados! Bem, nesse momento eu queria que estivéssemos. Seria um motivo a mais para dizer que aquilo não passava de um engano.

Mas, a quem eu quero enganar?
Eu gosto dele demais.
Mas, terei que partir nossos corações ao contar pra ele o porquê de não poder ficar com ele.

Senti um cheiro agradável vindo da cozinha. Na mesma hora corri para o banheiro.
Eu preciso acabar logo com isso.
Saí do quarto e segui até a cozinha onde ele estava feliz cozinhando alguma coisa.
Quando olhou pra mim seus olhos demonstraram desapontamento.

- Eu ia levar seu lanche na cama.

- Miguel, nós precisamos conversar.

- Pode falar. Depois que a gente comer.

Eu sorri e me sentei na bancada da cozinha. Miguel sabia fazer um ótimo omelete com bacon. É uma pena eu ter comido bem pouco.

- Já vi você mais comilona. - Ele disse avaliando meu prato praticamente intocado.

- Não estou me sentindo muito bem.

- O que houve? Está doente? - Ele perguntou preocupado.

- Nada. Eu só... Não é nada. - Acho que não consigo fazer isso. O que vou dizer a ele?

- Então. O que você quer conversar? - Ele perguntou pousando sua mão na minha.

- Nós não devíamos ter dormido juntos.

- Eu sei! Me desculpe. Mas, agora isso é irrelevante. Nós já conversamos e até transamos. Você disse que está apaixonada por mim.

- Eu sei o que eu disse, mas isso está errado. Você deveria ter respeitado a minha decisão de não dormir com você. Miguel, você não entende. Você não vai me querer na sua vida. Eu não quero ser um fardo pra você.

- Um fardo? Pérola adimita que você só está inventando desculpas pra não assumir que está com medo!

- Sim, eu estou! Eu estou com medo porque estou apaixonada por você. Estou furiosa porque antes de você aparecer na minha vida eu já estava conformada com o meu destino. Eu tinha um plano traçado, mas aí você aparece e muda tudo! - As lágrimas já estavam escorrendo pelo meu rosto.

- Pérola, do que você está falando? - Ele perguntou confuso.

Meu coração quase saiu pela boca. E antes que eu pudesse começar a contar meu segredo a campainha tocou.

- Só um minuto. - Eu disse. Tremendo fui atender a porta. Do outro lado estava minha mãe. - Oi mamãe.

- Oi minha filha! Como você está? Melhorou os sintomas? - Ela disse sem pausa pra respirar. Me abraçando.

- Mãe! - Eu a repreendi com medo que ela dissesse algo mais e Miguel ouvisse.

- Sintomas? Que sintomas? - Perguntou Miguel confuso. - Pérola você está doente? É isso o queria me dizer? - Ele perguntou tocando meu rosto carinhosamente com as mãos. Olhei pra minha mãe que não estava entendendo esse gesto.

- Miguel... Eu... - As palavras não saíam.

- Vocês estão juntos? - Minha mãe perguntou.

- Bom, admitimos nossos sentimentos, mas Pérola ainda está um pouco relutante. - Miguel falou.

- Pérola, nós precisamos conversar. Agora! - Minha mãe disse um tanto furiosa.

- Mamãe, por favor!

- O que está havendo? - Miguel estava confuso.

- Eu preciso conversar com a minha filha e você precisa ir embora.

- Mamãe não seja grossa! O Miguel não tem culpa de nada disso. Por favor Miguel. Você pode ir e mais tarde nós conversamos.

- Mas, o que está acontecendo? Ela não quer que fiquemos juntos? É isso que você queria falar comigo? Olha só dona Victória. Eu posso ter sido um grande idiota com a Alexia. Eu admito que era um babaca, sim. Mas, o que eu sinto pela sua filha é verdadeiro. Eu jamais sentira isso por ninguém. Eu a amo.

- Pérola? - Minha mãe ficou impressionada com a declaração de Miguel e estava prestes a dizer o que não devia. Ela me avisou que isso um dia aconteceria. Que alguém poderia se apaixonar por mim e eu teria que dizer a verdade. Ela sempre sonhou que o amor batesse a minha porta com a esperança de que aquilo mudaria a minha visão e eu retornaria ao tratamento que ela nunca soube que havia falhado.

- Miguel. Por favor! - Eu disse a ele. E o levei até a porta. - Eu prometo que conversamos mais tarde.

- Tudo bem. Estarei te esperando lá em casa. - Ele disse me dando um beijo demorado e caloroso.

Fechei a porta deixando que Miguel fosse embora. Olhei pra minha mãe que estava com cara de quem viu um fantasma.

- Então você não contou a ele?

- Eu ia contar... Até você aparecer.

- Pérola? Você está apaixonada por ele? - Ela perguntou.

- Estou mamãe. Mas, não vou levar isso adiante. Eu não quero ser um estorvo pra ele. Eu sempre cuidei para que isso nunca acontecesse. Não me apaixonar por alguém e agora... Agora aconteceu e dói ter que deixar ele.

- Ah Pérola! - Minha mãe me abraçou enquanto eu chorava sem parar. - Conte a verdade pra ele e deixe que ele decida o que quer. Você ainda tem algum tempo. Você pode tentar a quimioterapia, mesmo que você corra um risco maior, ainda assim é uma chance de sair dessa.

- Não mamãe. Eu não vou fazer isso. Nada vai mudar a minha decisão. Eu vou na casa dele e vou terminar tudo antes que isso se complique. Vou voltar a minha vida e ele vai encontrar outra pessoa que possa dar a ele um relacionamento normal.

- Pérola! Você não está pensando direito.

- Eu estou sim! É o melhor pra todo mundo. Será menos doloroso pra ele se me perder agora.

🌻

Eita!! Será que a Pérola vai ter coragem de terminar tudo? E o Miguel vai aceitar assim tão fácil? Fiquem ligados, pois algo pode mudar muitas coisas nessa cabecinha dura da Pérola!!

Então amores, quero agradecer por estarem acompanhando essa história e me desculpem a demora para atualizar o livro, mas é que a minha semana anda bem corrida.

Obrigada pela compreensão.

Beijos, G. R. Lopes

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora