🌻 28| Pérola

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Eu tinha duas opções. Tentar ou aceitar.

A primeira infelizmente não deu certo e quando a segunda já estava se encaixando na minha realidade eu recebo uma bomba em minhas mãos. E não sei qual fio cortar. De qualquer forma qualquer tentativa me leva para um mesmo final. A morte.

Mas, agora é diferente.
Eu tenho que decidir entre detonar a bomba e ter mais algum tempo de vida ou continuar com ela e esperar que ela acabe comigo.

Bomba, uma bomba.

Um bebê.

Meu bebê.

Me pego pressionando a barriga de leve. Esperando sentir algum movimento, algum indício de que está tudo bem.

Começo a chorar. E não consigo parar. Em meio aos soluços começo a ter algum tipo de diálogo estranho com a minha pequena bomba.

- Eu sinceramente não sei o que fazer. Por quê eu? Tantas pessoas no mundo, por quê Deus te mandaria pra mim? - Deitei no chão da minha sala em posição fetal. - Por quê me fazer sofrer mais?

Ouvi um clique na porta seguido de um grito.

- Pérola minha filha! - Minha mãe me aconchegou em seu colo me fazendo chorar ainda mais. O calor do seu abraço. O conforto. Será que vou sentir falta quando eu for embora?

- Mamãe. Eu vou ter um bebê!

- Como isso foi acontecer? - Limpei minhas lágrimas e me sentei ao lado dela. Depois de alguns minutos eu já estava mais calma.

- Eu não sei! Talvez eu tenha esquecido de tomar a pílula. O Dr. Sebastian disse que o remédio que ele me passou para amenizar os sintomas do câncer pode ter cortado o efeito dela.

- Mas, como ele pode ter receitado o remédio se ele sabia que isso poderia acontecer? Ele deveria saber que um remédio atrapalharia o outro. - Minha mãe estava ficando nervosa. Mas, sua observação fazia sentido.

- Eu não sei. Talvez eu tenha mesmo esquecido algum.

- Você tem que fazer outro exame. Ele pode estar enganado!

- Não mamãe! Ele já fez todos os exames possíveis.

- Como você foi parar naquele hospital? Quem avisou ao Dr. Sebastian que você estava lá? - Eu também me questionei isso por muito tempo.

- Eu não sei. Ele disse que estava de plantão lá. Mas, isso não importa agora. Eu tenho uma decisão a tomar. Eu... - As palavras não saíam.

- Eu queria mesmo saber o que falar pra você, minha filha. Te ajudar de algum jeito, mas... - Minha mãe queria chorar, mas, se conteve. Ela entendia o quanto eu precisava do seu apoio. Ela estava sofrendo tanto quanto eu. - Você já conversou com Miguel sobre isso?

- Nós não nos vemos desde o dia do hospital. Depois que contei tudo, ele saiu e até agora não o vi. - Eu estava com medo de ter sido abandonada. Mas, não deixei que minha mãe percebesse isso. Ela arracaria as bolas do Miguel na hora. Ela não sabe da história da mãe dele. Eu sei e por isso estou dando esse tempo a ele.

- Você não pode decidir isso sozinha. O filho também é dele! Ele não pode cair fora agora.

- Mamãe ele tem muito pra digerir. Eu não fui muito honesta com ele. E se ele estiver com raiva, tem razão pra isso!

- Eu sei, mas isso não diminui a responsabilidade dele!

- Sim. Eu vou esperar até amanhã e depois eu ligo pra ele.

- Tudo bem! - Minha mãe me abraçou de novo e eu comecei a chorar, de novo. - Eu estou aqui. Sempre estarei aqui! Eu amo você!

- Eu também amo você! - Minhas mãos pousaram novamente na barriga. E em minha mente e meu coração eu estava admitindo que também amava aquela pequena bomba.

Plano B (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora