Capítulo 10

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Rafael

Raphaella me encara com dúvidas no olhar, não sei o que se passa em sua cabeça, pois não sou capaz de ler seus pensamentos. Não seria nada interessante poder ouvir o que as pessoas pensam. O que consigo sentir através de seus olhos são seus medos e imagino que seja por eu ainda não ser alguém de sua confiança. Eu a entendo, esse mundo tem muita maldade e Giulie é a pessoa mais importante de sua vida.

― Tudo bem, você me conhece há pouco tempo e é normal que não confie em mim ― lhe dou um sorriso de compreensão.

― Não é isso ― franze a testa, negando rapidamente. ― Eu confio em você, até por que se não confiasse não te convidaria pra entrar na minha casa. Costumo ser sincera com as pessoas e vou ser com você ― remexeu em seus dedos sobre a mesa. ― Meu medo é que a Giulie se apegue demais a você, já deve ter percebido que ela é carente e é porque sou um pouco ausente na vida dela ― lamenta.

Raphaella confia em mim! Depois dessa confissão, sinto-me mais culpado ainda por estar omitindo o meu real motivo de estar me aproximando delas. Não sei por quanto tempo conseguirei guardar, quando se tornar pesado demais dividirei com meus irmãos e não sei como será, mas terei que contar à Raphaella.

― Você não é ausente, eu vejo o quanto se dedica, o quanto se sacrifica, o quanto a ama, e isso é sublime, mas nunca ser ausente ― digo, com sinceridade.

― Voltei ― Giulie entra na cozinha, pulando animadamente.

― Pequena, estou falando um assunto sério com o Rafael.

― Ok, assunto de adultos. Volto depois ― sai novamente, mas antes pisca para mim.

― Continuando ― volto a olhá-lo. ― Tenho medo que ela se apegue demais a você, queira te ver sempre e você tem uma vida para viver. Consegue me entender?

― Consigo ― passo a mão em meu queixo. ― Não pretendo sair da vida de vocês tão cedo, nem me ausentar, a menos que queiram ― não desvio o olhar do seu, transparecendo a veracidade de minhas palavras.

Raphaella não escondeu o sorriso, revirou os olhos e acabou rindo.

― Tá bom, você pode sair com ela.

Depois que Giulie soube que iria passear comigo, ela só sabia pular, agradecer e dizer o quanto amava a irmã. É bonito ver as duas assim, um amor que não precisa ser dito em palavras, o brilho nos olhos quando se olham responde qualquer dúvida.

No sofá da sala, Giulie me mostrava álbuns com fotos da família, senti que Raphaella não estava muito confortável. Descobri que elas não têm parentes em Nova Iorque, têm alguns tios paternos que são distantes e moram na Itália, mas nunca tiveram contato. Raphaella é muito parecida com a mãe quando jovem, Giulie também tem alguns traços e outros são de Lúcifer. Há muitas coisas que gostaria de saber sobre a mãe delas, mas irei guardar minhas perguntas por enquanto.

― Rafael, você conta uma história pra eu dormir?

― Posso contar ― sorrio, passando a mão em seus cabelos.

Alguns minutos depois, em seu quarto, eu lhe contava uma história de princesas. Ela dormiu rápido. Fiquei observando a doce menina que dormia serenamente. Larguei o livro ao lado da cama e beijei sua testa, abençoando-a.

Meu pai não colocaria em meu caminho uma missão que eu não pudesse cumprir. Isso tem um propósito, a vida delas não pode ser trágica, eu não me perdoaria se algo acontecesse.

― Ela dormiu ― informo, voltando para a sala. Raphaella lia um livro, distraidamente. ― Preciso ir, está tarde e você acorda cedo.

Ela levantou-se de imediato e me olhou com carinhoso.

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