Acima do Céu | COMPLETO |

Capítulo 36

Raphaella

Olhei para trás ouvindo passos nas folhas secas e me assustei vendo Beliel a me seguir no meio da escuridão. Esse homem me causa arrepios, até mais que Lúcifer. É sério que eu estive na casa do diabo? Acho que estou num pesadelo e só irei acordar quando estiver fora daqui.

Continuo com os braços cruzados, apertando firmemente minha bolsa e tentando aplacar o frio que sinto. O vento está muito forte e o barulho que ecoa pelas árvores me causa um medo devastador, como se a qualquer momento todos os monstros que um dia acreditei existir quando criança, pudessem aparecer e me levar daqui. A verdade é que os monstros existem, eles são muito piores e cruéis do que um dia foram minhas fantasias.

A realidade é como uma pedra lançada com toda força em você, ou desvia e continua submersa num mundo aparentemente normal, ou se deixa atingir por ela e por toda a dor que isso causará, e aceita que o mundo não é como se imaginou. Todo meu coração e parte da minha alma se estilhaçam mais uma vez ao lembrar das palavras de Lúcifer essa manhã, é como se as cenas agora se misturaseem em minha cabeça, formando um tornado capaz de me engolir. Cada fria palavra que penetrou em meus ouvidos, foi como se um pedaço de mim se partisse e se misturasse a todas as outras partes que já perdi dia. Me sinto quebrada, culpada...

Será que um dia ela irá me perdoar?

Meus olhos ardem, mas mantenho minha aparentemente força em não chorar, exceto minha vulnerabilidade que está exposta para quem quiser ver. Essas foram as piores horas da minha vida, as horas que eu desejaria apagar da minha memória pra sempre.

O vento diminuiu, olho para trás mais uma vez e não vejo mais Beliel. Não sei se fico aliviada ou com mais medo por estar sozinha num lugar que desconheço e num completo breu. As árvores começam se mover em minha direção, fechando o caminho e prestes a me engolir. Me desespero com a velocidade em que isso acontece e corro como se essa fosse minha última salvação, já não vejo mais nada, apenas desespero. Meu corpo se choca em outro, com o impacto fico estática e de imediato braços me envolvem fortemente.

Conheço esse perfume, esses braços e enfim essa paz que acaba de me preencher. Estou livre do pesadelo.

— Sou eu, está tudo bem agora — sua voz exala calmaria e cuidado.

Deixo minha bolsa cair e passo meus braços entorno dele, aperto-o tão forte, a ponto de esmagá-lo.

— Que bom que você veio, Rafael, eu senti tanto medo de você não me encontrar e eu ter que ficar presa naquele lugar — falei com a cabeça enterrada em seu peito.

— Sempre irei te encontrar e te proteger, essa é minha promessa. Nem que eu precise ir até o inferno pra buscar você — afagou meus cabelos e beijou minha testa.

— Obrigada, você é incrível! Sei que foi poucas horas, mas eu senti muito a sua falta — e sem perceber as lágrimas rolaram por meu rosto.

Abri os olhos, ergui a cabeça e enfim olhei em seus olhos. Como é bom vê-los brilhando novamente, como é bom estar em seus braços e me sentir protegida. Seus dedos suavemente passaram por minhas bochechas, secando meu rosto molhado.

— Eu senti a sua falta de uma maneira que não faz ideia, não parei de pensar em você por um milésimo de segundo sequer — disse com um sorriso, que se estende até os olhos.

Levei minha mão para seu rosto e acariciei lentamente, ele curvou-se e fechei os olhos, sentindo seus lábios macios colando-se aos meus. Nossas bocas se moviam sem pressa e dentro de mim é como se tudo tivesse se iluminado, apenas com a presença dele. O sentimento que nos envolve, sinto que em mim só aumenta e embora eu esteja mais que ferrada, penso que foi o melhor que já me aconteceu.
— Precisamos sair daqui — ele disse sério e olhou para os lados.