D o z e

4.5K 391 7
                                    


Me virei de costas.

-Louis. -Atendi.

-Princesa, o que houve? Por que não me ligou?

Sua voz parecia ter um tom de preocupação.

Eu nunca menti pra ele. Nunca tive motivos para isso. Sempre fui sincera, pois é o que prometemos um ao outro quando começamos a namorar. Mas Louis era ciumento, se eu dissesse exatamente onde estava e que estava com um cara, ele era capaz de aparecer ali em alguns minutos depois de rastrear o telefonema.

-Você se lembra da Madson, a diretora? Ela só estava resolvendo uma coisa com alguns garotos barulhentos e eu fui ajudar.

-Não é bom se meter em encrencas, princesa. -Avisou.

Me virei para Damon. O desgraçado sabia que era Louis no telefone. Ele estava com a sobrancelha arqueada e o cigarro entre os lábios. Sua expressão era de pura ironia.

-É, eu sei. -Acontece que já tinha me metido.

Na mais intensa e complicada encrenca.

-Eu preciso ir, amor. Tenho aula agora. -E não era mentira. Eu precisava voltar e ter as duas Últimas aulas.

-Tudo bem. Eu te amo, princesa.

-Mande lembranças ao Guto e Antonella. Beijos.

Desliguei o telefone e o guardei na minha bolsa.

-Hum, ela só estava resolvendo uma coisa com alguns garotos barulhentos e eu fui ajudar. -Damon disse, forçando a voz a ficar aguda.

Rolei os olhos. Algum ser na face da terra ser mais irritante que ele, era definitivamente impossível.

-Me leva daqui. Preciso voltar pra aula. -Pedi, ignorando sua provocação.

-Mentir é feio, sabia coração? -Ele também me ignorou, dando uma última tragada no cigarro e o jogando no chão.

-Damon, eu preciso mesmo voltar pra aula. -Insisti.

-Você pode viver com isso. -Ele deixou o capacete no guidão da moto e foi até o portão enferrujado que estava em nossa frente - Precisa ver uma coisa.

Minha cara deve ter sido muito engraçada, pois ele soltou uma risada alta e rouca. Me deixou espantada. Aquele som de Damon rindo era maravilhoso.

-Eu não vou ver nada. Me leve de volta!

Eu até iria a pé, se ele não tivesse me levado para tão longe. Longe do meu apart, longe da faculdade e longe de qualquer movimento.

Por conhecê-lo a pouco tempo, eu devia estar com no mínimo receio por ele ter escolhido aquele lugar para estacionar.

Mas acontece que tudo o que eu sentia, era raiva. Só podia sentir isso em relação a ele.

-Se quiser, pode voltar a pé. Mas se tiver paciência, em dez minutos eu te levo. Você só precisa ver uma coisa.

Ele ficou lá, parado me olhando enquanto segurava o portão velho. Confesso que aquela visão era tragicamente encantadora. Seus olhos prateados e avermelhados me analisaram e me deixavam completamente desconfortável.

Talvez foi por isso que cometi o erro de não pensar antes de simplesmente andar para dentro do lugar.

Era uma trilha estreita de subida. Tinha folhas secas no chão e cascalho. Uma coisa bem rústica, na verdade. Quanto mais eu subia, mais frio sentia.

Damon passou por mim e, segurando minha mão, me puxou para o lado. Eu nem tinha percebido outro caminho ali. Era tudo meio irreparável por causa das árvores e do mato. Se ele decidisse me matar, ninguém me acharia ali.

Quando chegamos no topo, ele soltou a minha mão e foi até a ponta de uma pedra. Eu andei até lá e fiquei absurdamente sem palavras.

Era o lugar mais lindo em que já estive. E eu já tinha conhecido vários lugares em vários países. Mas aquela era de uma beleza tão natural, exuberante e brilhante. Me deixou sem fôlego, sem palavras.

Havia nuvens um pouco abaixo dos meus olhos e o sol batia em rajadas em todos os lugares. Me senti como se estivesse no céu. Como se eu tivesse asas ou como se eu fosse a dona daquilo. Senti que Damon me olhava. Eu não liguei, pois queria que ele visse a minha expressão. Eu estava encantada e agradecida por ele ter me levado.

-Só tenta não se apaixonar por mim agora. -Sua voz rouca e baixa me fez olhar pra ele.

Então eu senti uma coisa muito estranha.

Senti como se eu o conhecesse a seculos. Como se, aconteça o que acontecer ou que eu fosse para onde for, era ali que eu estaria naquele instante. Era o certo para mim, para ele ou para aquele momento. Damon se aproximou e afastou uma mexa de cabelo que o vento soprou no meu rosto.

-Coração. -Ele sussurrou.

Sentir seus dedos em minha pele fez com que todo o meu corpo tremesse e, automaticamente, fechei os olhos. Meu coração estava a ponto de ter um colapso e saber que Damon estava cada vez mais perto não ajudou eu pensar direito. Sua respiração agora estava mais perto e minha boca pronta para recebê- lo.

Mas ai eu vi que aquilo era malditamente errado.

Que merda eu estava fazendo?

Eu não tinha que estar esperando aquilo. Eu tinha um namorado. Tinha uma vida e não ia estraga-la assim.

Damon não ia conseguir o que ele queria e imaginar o que poderia acontecer me deixou muito puta. Eu sabia exatamente o que é que ele esperava e que, se conseguisse, daria um jeito de infernizar a minha vida e desaparecer.

Eu o empurrei com todas as minhas malditas forças e me afastei.

-Damon, você perdeu a porra da sua noção? -Gritei.

Ele não estava com aquela cara de deboche. Estava apenas surpreso.

-Eu não sou como as outras. Eu não vou trair o meu namorado só por causa de um rostinho bonito!

Eu estava furiosa. Ele já tinha destruído muitos relacionamentos. Mais o meu ele não destruiria.

Quando olhei novamente, percebi que agora seu maxilar estava trancado. Era como se ele estivesse mastigando algo muito duro, mas com olhos fervorosos e as mãos fechadas em punhos.

-Não tenta isso de novo! -gritei uma última vez antes de virar as costas e correr para a moto.

Eu tinha certeza de que meu coração sairia a qualquer momento pela boca. Só estava esperando.

Ele vai te perder pra mim.

Ouvir aquilo se repetindo na minha cabeça estava me matando.

Não, Louis não me perderia pra nenhum mulherengo de merda! Eu terminaria a faculdade e me casaria com ele, o que restasse depois seriam só lembranças.

***

Como a traça atraída pela chama
Você me atraiu, não conseguia perceber a dor -Shawn Mendes

Todas as suas ChancesOnde histórias criam vida. Descubra agora