— Estamos num hospital? — Disse Edna olhando o ambiente, ela conhecia bem aquele ambiente, longos corredores brancos, várias e várias sala de cirurgia e quartos de pacientes. — Mas aqui a vida costuma sempre se acabar, doutor, por que estamos aqui?
— Calma Edna, talvez você não saiba, mas é aqui que a vida também surge. Veja! — Os dois entraram num sala, uma mulher estava deitada no leito, ela chorava e, de tempos em tempos, gritava, fazia um tremendo de um escândalo.
— Meu Deus, doutor! Veja só como ela sofre, ela vai morrer, não vai? — Edna disse aquilo e procurou abrigo próximo do doutor. Ele riu, achou aquilo tremendamente engraçado.
— Não, Edna, assista e verá o nascimento, a chegada, de uma vida ao mundo! — Doutor e paciente deram as mãos e, diante do clima de suspense que havia ali, assistiram, aflitos, a chegada de uma vida ao mundo. — Apesar de todo sofrimento, aquela mulher dará à luz, trará ao mundo uma nova vida, veja só... o momento está próximo! — O doutor apontou para a mulher, ela gritou, fez força e então no meio daquilo, surgiu o choro, o primeiro suspiro de uma criança, estava feito! Uma nova vida acabara de surgir diante de Edna Morthy, que durante 420 anos havia trabalhado e visto apenas a morte, agora diante de si lá estava, o surgimento de uma vida.
Em meio ao choro daquela pequena criança que a pouco chegará no mundo, Edna misturou seu choro ao dele. Ali, diante dela, surgia uma nova vida, uma nova possibilidade, talvez daquela vida surgisse algo bom, surgisse um herói, surgisse a cura de uma doença, surgisse o bem no formato de menino ou menina... A mãe estava bem, assim que lhe foi entregue a cria, ela sorriu, diante dela estava um pedaço de carne, um pedaço que continuaria a perpetuar seu sobrenome, um pouco de si, na vida.
— Mas ela gritou tanto, gritou tanto, pensei que fosse morrer. — Indagou Edna ao doutor, ele sabia muito bem como aquilo funcionava. A dor do parto normal era tremenda, aquela mulher que estava deitada na maca, passava por aquilo, sozinha ela tinha de fazer força e parir aquele pequeno pedaço de gente.
— É assim mesmo, querida, é assim que a vida segue e surge... Veja só, é um menino, um pequeno menino... — Que infinitas possibilidades surgiam agora, o menino podia crescer e se tornar qualquer coisa, podia ser presidente da república, advogado, ou escritor. O desafio havia sido dado àquela criança: viver. A criança foi entregue à mãe, o menino recebeu ali o primeiro abraço de sua genitora, lágrimas escorriam no rosto daquela mulher, assim como Edna, lágrimas e mais lágrimas inundavam seu rosto. O doutor se aproximou de sua paciente e disse, colado ao pé de seu ouvido:
— Você foi promovida, Edna. Depois de tantos anos promovendo a morte, a partir de agora você tem o dever de guardar uma vida, você agora vestirá branco e receberá de presente asas, asas brancas das mais belas plumagens...
Edna se virou e feito mágica agora via a cor branca tomando conta de seu vestido. Ela sentiu a maciez de suas asas ao tocar nelas, tudo aquilo parecia um sonho, algo impossível.
— Guardar... Guardar vidas?
— Melhor dizer: um anjo da guarda.
— Mas que vida?
— Ali, olhe. — O doutor apontou para a criança, ela foi posta no berço. — Você guardará a vida daquele pequeno menino, vai ficar ao lado dele, mas não para sempre... Quando completar dezoito anos, o menino passará a seguir pelo caminho da vida só. Depois você deverá cuidar de mais um cliente e assim por diante.
Edna deu um abraço no doutor, ele não esperava por aquilo. Aquele gesto foi tremendamente verdadeiro, dessa vez, quem sentiu um calor, uma força graças ao abraço, foi o doutor. De algum modo, Edna agora transbordava uma energia boa ao doutor Divinno. Eles saíram dali, sentaram diante da imensa sala, onde vários e vários bebês eram colocados, seus familiares estava ali conferindo a pequena obra que chegara ao mundo há pouco tempo. Ao redor deles, daqueles vivos, Edna percebeu a presença de seus mais novos companheiros de profissão, outros anjos da guarda. Ela foi muito bem recebida pelos colegas, do seu passado, daquele seu tempo de trabalho na Morte S.A, Morthy guardaria para si o que passou, aquelas lembranças, agora tudo seria saudade.
— Mas doutor, me tire uma dúvida. — Indagou Edna.
— Claro, sei de tudo e muito mais.
— Tantas crianças morrem no mundo, então por onde anda seus anjos da guarda?
— Querida, há poucos profissionais neste meio, poucos conseguem ser promovidos a anjos da guarda, entende? Estamos tentando suprir essa necessidade, mas é difícil. Mais alguma dúvida? — Ora, Edna tinha várias! Mas enfim, talvez existam algumas perguntas que não devem ser respondidas, ou talvez no momento certo, todas são respondidas de uma só vez. Morthy acenou negativamente, o doutor se levantou, ajeitou seu terno. Havia chegado o momento de despedida entre a paciente e o doutor.
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A Morthy no Divã.
Narrativa generaleEdna Morthy é uma funcionária, uma trabalhadora, como outra qualquer. Todo dia ela levanta cedo e segue sua rotina: bate o ponto, toma um gole de café com seus colegas de profissão e pega a lista, a lista com nomes de seus clientes para o dia, clien...