Capítulo 22

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Elásio já está a minha espera na porta do palácio junto com o resto da cavalaria. Me despeço do rei e de Mathew, agradeço por ter sido convidada para o festival. Cada momento foi único e especial.

Gálio não tem mais princesa, nem rainha, acho que por isso que eles me receberam com tanta comoção e animação. Será que é assim que minha mãe se sente quando vai para algum evento especial?

-Tchau Lia, obrigada por ter vindo para o festival.

Mathew diz segurando a minha mão.

-Tchau Mathew, eu que agradeço pelo convite. Diga para Neli que eu amei ela e que se ela quiser, pode ir conhecer o palácio de Florence.

Ele assente com a cabeça e sorri, eu retribuo o sorriso e vou andando até meu cavalo. Passo a mão sobre sua crista, e subo em cima dele.

A cavalgada foi rápida, a cavalaria ia a minha frente e atrás de mim, a maioria das pessoas preferem andar de carro, mas eu não.

Os portões do palácio se abrem e eu adentro. Desço de meu cavalo e vou andando até o palácio. Vejo meus pais, meu avô e meus irmãos me esperando na porta, é claro que eu senti saudades, dou um abraço apertado em cada um deles, mas a cara de meus pais denunciam que as coisas não estão tão bem assim.

-Oi pessoal. Senti saudades.
Digo sorrindo.

-Também sentimos minha netinha. Como foi a viagem?

Meu avô parece ser o único a se interessar no meu passeio.

Meus pais me dão um beijinho e saem, Ezeque sai também, sem ao menos me falar um oi, e Sebastian, bom, Sebastian sai correndo indo em direção a cavalaria.

-A viagem foi ótima vovô. O palácio de Gálio é lindo e aconchegante, as pessoas são simpáticas, sorridentes e muito receptivas. Comi tantos tipos diferentes de pães que até enjoei. A cidade cheirava a trigo moído, e todos os dias foram super festivos. Eu AMEI!

Falo com meu vô, e nós dois entramos no palácio.

-Que bom minha filha. Lembro quando eu e sua avó fomos para Gálio para um festival lá também, mas foi no aniversário de casamento do rei e da rainha. Sua avó era uma grande amiga da rainha.

Eu sorrio, imaginar a rainha e minha avó juntas só melhora meu humor. Sem contar que elas deviam ser super parecidas.

-O rei é uma figura vovô, ele fala alto, sai andando no meio do povo sem se preocupar, faz Mathew passar vergonha na frente das garotas e muitas outras coisas.

-Isso é verdade, me lembro do dia em que estávamos numa reunião dos quinze reinos, quando eu ainda era rei, e Hélio simplesmente perguntou "Essa reunião vai demorar muito ou eu vou continuar aqui passando fome?". Ele é o típico rei de bom humor, mas perdeu um pouco disso depois da morte da rainha.

Meu avô suspira. Minha avó morreu antes da rainha, mas sei que meu avô também perdeu algumas coisas.

-Eu não consigo imaginar o rei mais animado. E me diga vovô, por que tá todo mundo de cara feia?
Pergunto curiosa.

-O duque de Princeton vai vir para cá, com outros duques para conversar com Ezeque. Mas seu irmão se recusa a falar com eles.

-Outra vez? Ah, me poupe vovô, eu não aguento esse humor bipolar de Ezeque. Uma hora ele é o rei, responsável e autruista, outrora ele é o adolescente pirracento que não quer conversar com o duque.
Falo irritada.

-Não fale assim do seu irmão Lia, você sabe que ele não quer ser rei, que ele não nasceu pra isso. Mas não tem o que fazer, se ele renunciar o cargo, vai ter que sair de Florence, e isso com certeza ele não vai fazer. Só dê espaço para o seu irmão pensar.

Meu avô fala calmo e docemente.

-Ah vovô, como eu queria estar no lugar de Ezeque. Sendo chamada por embaixadores, duques e reis, tendo a responsabilidade de um reino todo, podendo ser mais do que uma mísera princesa​ que nasceu sem nenhuma missão, sem nada mais importante para ser.

Meu avô para de caminhar, ele entra na minha frente e pega minhas mãos.

-Você não é só uma princesa Lia. Olhe para todas as coisas que você já fez, criou escolas de dança, um jardim comunitário, faz as pessoas se apaixonarem por você. Por favor, não diga isso de si mesma. Você sabe o quanto sua vó acreditava em você.

Eu respiro fundo, uma, duas vezes. Meu avô tem mais que do razão, eu não posso ficar me desmerecendo, basta acreditar, pois no final tudo dará certo, ou não.

Subo as escadas em direção ao meu quarto. Quando eu entro dou de cara com Miranda, nós nos abraçamos forte, e eu enfim mato a saudade da minha amiga.

-Que bom que você voltou! Não aguentava mais te esperar!
Ela fala sorridente.

-Ah, você nem sentiu tanta saudade assim, tenho certeza que passou os cinco dias costurando vestidos lindos, e nem lembrou de mim.
Falo fazendo cara de triste para ela.

-AI QUE DRAMA!
Ela diz revirando os olhos e eu rio.

Me jogo na cama, deixo um sapato cair de um lado, e ou outro também. Sinto o conforto da minha cama, da minha casa.

-Viajar é legal, mas voltar para a sua caminha é melhor ainda.

Miranda ri e se senta na cama atrás de mim, ela trata de começar a desfazer o coque que Neli tinha feito no meu cabelo.

-Quem ficou com você durante a estadia?
Ela pergunta.

-Neli. Uma mulher de quarenta e cinco anos, que tinha um sotaque engraçado, e uma mão bem firme na hora de arrumar meu cabelo. Mas posso dizer que ela é incrível.

Falo me recordando de Neli.

-Ata.
Ela fala.

-Deixa de ser ciumenta Mi, você sabe que daqui a um tempo você não vai mais ser minha criada. Você vai ser estilista!

-Só nos seus sonhos dona Liana. Você sabe que isso é impossível.
Ela fala terminando de desfazer o coque, eu me sento na cama, e olho bem para ela.

-Não é impossível não. Você é muito mais do que talentosa. Mesmo que eu não me torne rainha, Ezeque vai me dar algum título, e com isso, eu dou um para você também.

Ela sorri junto comigo.

-Então, me diga como que o príncipe é.
Ela fala mudando de assunto, talvez para não sonhar demais, mesmo que isso seja mais do que um sonho, e sim uma promessa.

-Ah Mi, o príncipe é carismático, super educado com o pai, tem um monte de cachorros, e é meu amigo também.

-Amigo é? Hmmmm.

Jogo uma almofada nela.

-Sim, A M I G O! Nós conversamos sobre nossas vidas, meio que do nada. Ele é confiável.

-Amigo com Gulliver?

Eu suspiro.

-Não Mi. Eu e o Gulliver nos conhecemos desde que eu era criança, ele me conhece, sabe tudo sobre mim. Mas parece que me esqueceu.

-Ele não te esqueceu Lia. Ninguém é capaz de esquecer a pessoa que enfiou a cara dela no bolo de aniversário do rei da França.

Eu rio, rio muito. Quando eu e Gulliver tínhamos doze anos, fomos para a festa de aniversário do rei da França. Nós estávamos tendo uma briguinha besta, então eu simplesmente enfie a cara dele no bolo de cinco andares do rei. E para eu não levar bronca, ele ainda me protegeu dizendo que escorregou e caiu de cara no bolo. Boas lembranças...

-Quando sera que ela volta?
Miranda pergunta.

-Espero que logo!

Nos olhamos e eu começo a sentir o cansaço de cinco dias vindo sobre mim.

"O Trono e a Espada"Onde histórias criam vida. Descubra agora