Capítulo 29

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Enquanto eu deixava meus pensamentos irem longe, nem percebi quando Ezeque entrou no meu quarto, sem bater.

-Oi.
Foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

-Oi.
E eu também.

O silêncio se instalou no quarto. Ele sabia que eu iria perguntar tudo, mas ele não queria responder.

-Sebastian disse que você é quem vai escolher a roupa dele na festa semana que vem.
Ele disse tentando puxar assunto.

-Tá, eu escolho.
Falei sem ânimo.

Ezeque então respirou fundo e se sentou na cama, na minha frente.

-Olha Lia, eu sei que você tem muitas perguntas, elas vão ser respondidas ok? Você só precisa ter a mente aberta para entender cada uma delas. Eu vim aqui para te levar até o centro de tudo. Todos já estão te esperando e felizes por você estar bem. Achamos melhor te contar do que esperar que você descubra sozinha e morra por isso. E só para deixar claro, eu apenas sei, não concordo nem discordo de nada. Okay?

Eu balancei a cabeça em sinal de sim. Ezeque então se levantou, me deu a mão, abriu uma passagem secreta e foi descendo várias escadas indo para um lugar que eu não fazia ideia de onde era.

Eu estava com um vestido fino, um roupão me cobria, e meu cabelo estava preso numa trança bagunçada.  Com certeza tomei "banho" mesmo estando dormindo, o sangue deve ter escorrido e me sujado toda. Essa roupa deve ter sido o máximo que as meninas conseguiram colocar em mim enquanto eu dormia. Mas aqui, nessas escadas escuras e vazias, o frio se instalava, e meus braços tremiam com ele. Onde será que Ezeque estava me levando?

Foi então que ele parou em frente uma porta. Exatamente uma porta.
Ele deu três batidas, o contrário do que ele sempre dava na minha porta, que eram apenas duas. Meu avô abriu e nós adentramos numa sala. Uma sala normal, com televisão, sofá, tapete, lareira, um chinelo no canto, e um porta retrato. Nele havia a foto de uma menina, com quatro ou cinco anos, segurando uma bebê no colo, eu simplesmente não entendi nada.

Minha mãe, meu pai, meu avô e um outro homem relativamente velho, estavam em pé, perto de uma mesa de madeira. Minha mãe parecia aflita, e meu pai respirava ofegante.

-Bom filha, nós não sabemos por onde começar, mas se é para te contar, vamos te contar tudo, desde o início.
Meu pai disse.

-Sente-se.
O homem desconhecido falou.

Todos nos sentamos em volta da mesa de madeira, e a primeira a falar foi a minha mãe.

-Bom, eu já te contei que conheci seu pai num baile, que eu sou órfã, que seus avós morreram em um incêndio, quando eu já era adolescente, e que eu estava no baile que conheci seu pai, por que eu era amiga de um guarda, e fui convidada para ser o par dele, nesse baile.
Ela disse.

-Sim, e aí você me disse que você e o papai acabaram dançando juntos, se apaixonaram, e se casaram.
Eu completei.

-É minha filha, mas não é bem assim que a história é. -Ela respirou fundo mais uma vez - Meus pais morreram quando eu tinha apenas cinco anos. Eles eram espiões de Florence, acabaram sendo descobertos pelo Reino Maior, e então eles mataram os meus pais. Porém o Reino Maior, não sabia que eles tinham uma filha, e isso permitiu que eu saísse viva. Como eu ainda era muito criança, e não adolescente, como eu te falei, eu fui morar com o melhor amigo do meu pai, que se tornou meu pai também. Esse homem é o Jey, meu pai de criação.

Ela apontou para o homem, agora não mais desconhecido, e ele acenou com um leve sorriso.

-Jey e meu pai foram irmãos de criação, e quando meu pai morreu, Jey prometeu que ia cuidar de mim. Ele até hoje é o chefe dos espiões, ele quem treina, capacita, faz tudo. Eu cresci nesse meio, sabia me esconder, fingir ser outra pessoa, usar uma espada ou um graveto para me defender. -AGORA TÁ EXPLICADO COMO ELA SABIA USAR UMA ESPADA QUANDO A BEATRIZ QUASE FOI SEQUESTRADA.- Quando eu fui naquele baile que conheci seu pai, eu estava na verdade para um treinamento, eu devia fingir ser amiga de um soldado, e assim eu fiz. Na época, eu já conhecia seu avô, o rei, mas não conhecia o príncipe, que era seu pai. Depois que nós nos conhecemos, e acabamos nos casando, o Reino Maior veio até nós para saber quem eu era, mas meu pai e seu avô já tinham deixado tudo pronto. As fichas do orfanato, uma identidade falsa, uma casa que eu estava quando meus pais morreram, tudo para que o Reino Maior não descobrisse quem eu realmente sou.

-E nós sabemos que você deve estar se perguntando quem é o Reino Maior. -Disse meu pai.- E nós também vamos te explicar isso. Lá na Guerra dos Mil Dias, o guerreiro de Florence, matou a filha do rei e depois ele matou o rei, e o Reino Maior se desfez.
O que ninguém sabia é que o rei tinha uma amante, e que essa amante tinha um filho. Esse filho cresceu nas sombras, fez aliados que também odiavam os novos reinos. E com o passar do tempo, esse reino voltou a ser grande, mas vivendo nas sombras, sem que ninguém soubesse. A partir dai, ele começou a controlar os reis, e matar todas as primeiras filhas, em forma de vingança a filha do antigo rei. O único reino que tem todas as filhas mortas é Florence. Os outros eles matam apenas quando querem.

-E por que ninguém acaba com eles definitivamente?
Perguntei.

-Porque não dá para acabar com aquilo que não vemos. E é por isso que temos espiões, para tentar achar eles, mas é quase impossível.
Jey falou.

-Então foram eles que mataram Selena?
Perguntei sendo bem direta.

-Então filha, essa é a outra parte da história. -Minha mãe começou a falar.- Quando sua irmã nasceu, eu entrei em desespero, já sabia o que aconteceria com ela. Invictus me deu três anos para ficar com ela, e depois ela seria morta.

-Porém, eles não imaginavam que seríamos capazes de fazer o que fizemos.
Meu pai completou.

-Quando Selena estava para fazer três anos, Invictus adoeceu, e um de nossos espiões descobriu isso. Esse foi o tempo para bolarmos a vida de Selena, ou a "morte". -Ela fez aspas com as mãos.- Eu trouxe Jey para o palácio, montamos esse porão, levamos Selena para viajar conosco, usamos a viagem como desculpa de que ela havia pegado pneumonia, quando voltamos anunciamos que ela estava doente, depois injetados uma dose de remédio que desacelerou os batimentos cardíacos dela, até ser inaudível ao estetoscópio. Foi então que conseguimos dizer que ela havia morrido. Poucas horas depois do anúncio, alguns soldados de Invictus vieram e viram que ela estava realmente morta. Sua temperatura estava baixa, ela não respirava nem tinha o coração batendo. Fiz o favor de gritar, chorar, me descabelar toda, só para eles acreditarem que ela morreu.

Foi então que eu entendi. E meu coração também entendeu.

-Então quer dizer...

-Que a Selena está viva.
Meu pai completou.

Respirei. Pisquei, apertei as mãos.

-Selena.
Meu pai a chamou.

Nesse instante, a porta que estava no corredor se abriu, e aqueles olhos verdes, me olharam com toda certeza e verdade.

-ELEN?
Minha nossa!

-Liana.
Foi o que ela respondeu.

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Olá meus amores! E ai, gostaram do capítulo de hoje? Muitas revelações né! Para todos aqueles que disseram que a Elen era a Selena, PARABÉNS, vcs acertaram hahaha. Era meio óbvio, mas esse não é o foco do livro, o foco está na saga pelo trono, que a Lia está enfrentando, a S(Elen)a faz parte dessa saga, por isso quis que ela tivesse um pouco mais de destaque no livro.
Enfim, não se esqueçam de dar a estrelinha 🌟, e até o próximo capítulo! 😘😘❤❤

"O Trono e a Espada"Onde histórias criam vida. Descubra agora