DESCONFIANÇAS

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Marcos Cappati e os poucos membros do Paraíso que sabem sobre o futuro passaram esses dias bastante preocupados porque o dia X em que a tragédia ocorrerá está próximo. Jean Ávila já aparenta ser um rapaz forte e jovem, o seu braço está quase todo limpo. Eles revisaram tudo o que está pronto e apressaram as equipes para finalizarem o restante. Verificaram cada elemento das intermináveis listas de segurança.

Marcos não tirava os olhos das plantas dos projetos e dos relatórios que Jean lhe mostrou sobre o que deu errado nas outras tentativas passadas.

Ele verificou que no momento em que as hastes de contenção eram movidas em direção ao núcleo, por alguma razão elas travavam e só chegavam a percorrer cerca de 1/3 do caminho. As hastes são de chumbo, na parte interna são cheias de água e nas pontas contém grafite. Elas servem para neutralizar a radiação contida no núcleo e desacelerá-lo até que ele desligue completamente. Existem mais de duzentas hastes em cada um dos quatro reatores interligados. Um dos prédios teve um rombo no teto, causado pela explosão, o segundo teve o teto arrancado, o terceiro foi destruído pelas explosões e o quarto foi afetado por um incêndio.

As explosões aconteceram porque parte dos sistemas de resfriamento dentro dos reatores não estavam funcionando devido a redes de energia danificadas, permitindo o superaquecimento; a água ferveu, as barras de controle que servem para interromper as reações nucleares e desligarem os reatore se aqueceram e as suas cápsulas de metal que as envolvem derreteram parcialmente e reagiram com o vapor, criando gás de Hidrogênio, altamente volátil e utilizado em explosões dos propulsores de ônibus espaciais, de tão poderosas as suas explosões.

Quando o gás escapou de dentro do tanque de contenção, vazando pelas conexões e juntas, as estruturas explodiram. As piscinas de supressão, estruturas cheias de água para condensarem o vapor, sofreram rachaduras e houve vazamento contínuo de vapor radioativo. Com as piscinas secas, a temperatura elevou-se a níveis críticos e o núcleo fundiu, separando rapidamente os núcleos dos átomos, criando uma explosão semelhante a da bomba atômica da segunda guerra mundial.

Jaílton diz:

— Eu vejo um padrão se repetindo nos relatórios. O problema inicial é praticamente o mesmo.

— Você está certo! Eu não havia notado isso!

— É estranho que para alguém que sabe do futuro, o Jean não tenha alertado sobre o problema da tentativa anterior. As hastes defeituosas! Alguma coisa está faltando aqui...

— Você tem razão! Como eu não percebi isso? Aqui não consta o relatório da primeira vez!

— Verdade. É porque os loucos conseguem detectar certas conexões com maior facilidade...

— Você acha que o Jean está escondendo algo? Talvez ele tenha o relatório do primeiro acidente!

— Eu não sei.

— Só tem um jeito de descobrirmos! Diga-me Jaílton, do que você se lembra do acidente?

— O mesmo que você já sabe, o Jean já lhe contou tudo!

— Não! Tente se lembrar, deve haver algum detalhe a mais, algo que ele não mencionou. Por favor, conte-me a sua versão do acidente!

— Tudo bem! Estávamos em um dos reatores para fazermos uma checagem em algumas mudanças que foram feitas no gerador...

— Que mudanças? — Pergunta interrompendo.

— Antes do grande acidente houve um ocorrido: na guia, apareceu que um novo modelo de bomba d'água havia sido instalado no lugar da antiga e fomos chamados para que pudessem realizar os testes com maior segurança. Notamos que a temperatura e a pressão estavam aumentando, porque a bomba d'água não estava fazendo um bom funcionamento então pedimos o acionamento do botão de parada de emergência e daí as hastes de controle, de chumbo, foram inseridas no núcleo, diminuindo a sua potência, mas o reservatório de água de arrefecimento secou e um incêndio começou. Corremos para conter com os extintores até que os bombeiros viessem e retirassem todos do prédio.

O Alvorecer de um novo amanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora