Capítulo XIV

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Ravena odiou a irmã por ela trazer essa história de novo, odiou ter que falar sobre aquilo, odiou a bisavó por ter sido uma pessoa tão ruim. Odiou a si mesma há 10 anos atrás.

Quando Ravena nasceu todos os criados falaram que ela era a filha mais bonita do rico comerciante, e isso ao longo dos anos foi prejudicial a sua cabeça. Aos oito anos tinha se tornado uma criança mimada e extremamente orgulhosa de sua beleza, seus olhos só viam isso nela mesma e nos outro... a felicidade tinha que ser tomada.

A mãe de Ravena morreu contando esse história a menina e alertando ela sobre o próprio comportamento, ela tinha de mudar, parar de olhar tanto o espelho, e principalmente parar apontar os defeitos dos outros. Ela tentou, tentou muito, mas um ano depois a família perdeu toda a riqueza.

Ela se culpou e isso fez com que ela não quisesse mais ser bonita, trocou os vestidos caros por roupas simples, cortava os cabelos curtos, mantinham bagunçados e tentava passar despercebida.

Deu certo quando era pequena, mas quando foi crescendo e virando mulher, os rapazes da vila foram caindo um por um aos seus pés, da mesma forma que tinha acontecido com as irmãs.

Só duas meninas na família dela foram felizes e amadas de fato, a mãe de Ravena e Flora. Ravena queria amor, não um homem atraído pelo seu rosto. Então ela nunca se relacionou com ninguém .

- Não foi sua culpa - Petunia disse com um rosto de desgosto - Todas nós eramos voltadas a nossa própria beleza. Não foi só você que fez a mamãe morrer ou papai perder tudo, uma criança sozinha não conseguiria, nem a criança mais amaldiçoada.

- Você não tem certeza... - Ravena sussurrou.

- Não, mas sei que eu não sou inocente! - após um silêncio ela suspirou dizendo - Você é a irmã mais bonita. Você é, das filhas da nossa mãe, a pessoa que carrega a maior maldição e você deixa!

- Eu o que? - Ravena não queria, mas sentiu a raiva subindo pelo seu peito.

- Petunia! - o pai gritou, indignado - A sua irmã luta contra isso dês de sempre!

- Não, pai, ela não luta! - a irmã mais velha disse com as faces vermelhas.

- Não luto? - Ravena se levantou - Não luto? E todas as vezes que eu escolhia as roupas mais simples? E todas as vezes que cortei meu cabelo? E todas as vezes que eu neguei uma pessoa? Isso não é lutar?

- Não! - a irmã agarrou a outra pelos ombros - Isso é sucumbir...

E pela primeira vez na vida Ravena viu nos olhos da irmã preocupação com outra pessoa além dela mesma, talvez a garota sempre foi assim, mas gostava da máscara de malvada. Ou não, com Petunia seria difícil saber.

- Ravena, você só vê beleza em si mesma... - Petunia disse sussurrando - Você só a vê e luta contra ela... você é bonita, não há outra forma de mudar isso.

- Então o que eu faço? - Ravena disse confusa.

- Não deixe a maldição ditar sua vida. - o pai dela sussurrou olhando as filhas.

- Finalmente! - a irmã falou soltando a outra - Alguém inteligente!

Ravena ficou com aquelas palavras na cabeça, não deixar a maldição ditar sua vida? Aquela porra era a única coisa que ditava sua vida. Afinal foi por causa dela que perdeu a mãe, por causa dela que perdeu a fortuna, por causa dela foi proposta ser concubina e por causa dela Adam tinha se apaixonado por ela. Será que poderia ser considerado apaixonado com uma maldição envolvida?

A parte que mais incomodava ela é que estava sentindo alguma coisa por Adam, uma coisa forte. Ficou muito feliz em saber que ele correspondia, mas decepcionada por ser algo falso.

Rosas Vermelhas [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora