Capítulo XXVIII

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Quatro dias, só faltava isso para que Ravena estivesse livre do príncipe Gaspar. Aguentaria isso, mas como quem sentia que o seu tempo com a garota estivesse acabando o vestido que foi mandado naquela noite era o mais ousado de todos.

- Que merda é essa? - Adam disse saindo de baixo da cama, onde se escondia.

- Uma roupa? - Ravena falou se olhando no espelho muito desconfortável.

Ela já tinha visto meninas usando vestidos com um decote tão profundo, e tinha achado bonito, naquelas meninas. Nela parecia errado, era forçado e o descontentamento era estampado no seu rosto.

- Não que esteja feio... - Adam falou atrás dela no espelho - Só...

- Não é eu... - ela completou concordando. - Odeio ter que jantar com ele!

Na sua mente, ela repitiu o número quatro, só mais quatro jantares e ele nunca mais iria comer. Isso a tranquilizou de forma assustadora. Mas Adam não parecia compartilhar desse pensamento, olhando a amada pelo espelho pensava em dizer alguma coisa, só que não conseguia, Ravena andava fria e distante dele.

- Tenho de levar o violino... - ela disse para si mesma - Maldito seja! Ainda quer que eu toque para ele!

Adam sorriu sem alegria para ela pegando o instrumento e o entregando. Seus dedos se tocaram, mas agiram como se não tivesse acontecido nada. Ravena, apesar de magoada, se sentia extremamente aliviada por ter ele por perto de novo, não ficava o dia inteiro solitária enlouquecendo em seus pensamentos.

Houve uma batida na porta, os dois trocaram olhares concordando, Adam correu para de baixo da cama e Ravena disse que podia entrar. A porta foi destrancada e a velha criada apareceu a chamando, como todas as noites. Caminhou ao lado dela todo o percurso. Por que a velhinha nunca falava?

- A senhora trabalha aqui por quanto tempo? - Ravena se arriscou a falar. 

A mulher fingiu não escutá-la. Se era para que se sentisse ofendida, não conseguiu, ela tinha visto o suficiente daquela família real com o filho. Aquela velha poderia ter visto tantas atrocidades ou mandada a calar a boca de formas tão cruéis tantas vezes, que não conseguisse falar mais.

Na verdade a velha tinha os ombros pesados pelo trabalho que fizera a vida toda, sem nunca compreender o motivo de fazê-lo. Nunca perguntou, pois nunca foi ensinada que podia contestar, nunca falou, pois ninguém tinha mostrado que ela tinha uma voz e o que aquela velha senhora falasse podia interessar alguém. Até agora. 

Como que nota não ser mais uma ser invisível ela quase sorriu.

- Desde quando eu sou capaz de andar... - a velha disse abrindo a porta da sala de jantar, a voz era rouca de desuso. 

- Deve ter visto muita coisa. - Ravena deu um sorriso e um adeus a senhora. 

- Nem faz ideia, senhorita... - a velhinha disse baixo, apenas para si mesma. 

Na sala de jantar, Gaspar viu a garota que vinha o atormentando com um humor melhor, uma expressão mais leve e com olhos menos tristes. Aquilo o incomodou, acreditou que era a resistência anormal dela que tinha ficado mais forte. 

- Trouxe o violino? - ele disse dando um gole no vinho. 

- Sim, senhor... - ela respondeu esperando a permissão para se sentar. 

- Ótimo... - ele deu um sorriso malicioso - Vai apenas tocar hoje... 

Ravena olhou para ele incrédula, aquilo significava que não jantaria? Com um grande receio preferiu não falar nada, pegou o violino e tocou uma velha música de despedida que foi a primeira a aprender, quando acabou Gaspar ainda olhava para ele esperando mais.

🌹

O Sol raiava, Adam não tinha pregado os olhos esperando Ravena voltar. Por que demorava tanto? Já tinha desistido de responder essa pergunta, todas as ideias que veio a sua mente não eram agradáveis, muito menos reconfortantes. Estava quase saindo debaixo da cama quando a porta foi aberta, os pés apareceram e o barulho da porta sendo fechada e trancada soou pelo comodo. Ele saiu de baixo da cama rapidamente. 

Nunca em toda a vida de Adam ele achou que sentiria a raiva que sentiu ao ver Ravena naquele estado. A menina tinha os olhos vazios, claramente cansados, as mão tremiam e os braços caiam ao lado do seu corpo, sem força para carregar o próprio violino que ela soltou em cima da cama, ela chorava sem som, eram apenas lágrimas escorrendo pelo rosto. Mas o pior de tudo, era o machucado enorme que ela tinha no rosto, alguém tinha batido nela e com força.  

- Ravena... - Adam falou, queria muito descontar naquele desgraçado - O que...?

- Adam... - ela disse com um soluço - Eu só quero dormir. 

Mesmo que ela tenha dito aquilo, o corpo dela caiu para frente, os braços foram ao redor do corpo do rapaz e o pranto escorreu dos olhos dela para a camisa dele. Não tinha energia para sentir raiva ou ficar magoada, não tinha nem sentimentos o suficiente para isso, Gaspar naquela noite ele tinha conseguido o que queria, drenar cada gota do espírito dela. Tinha tocado sem parar, cada música que conhecido e repetido aquilo, não comeu, não fez pausa, nem bebeu nada, em um momento que o príncipe dormiu, ela ousou parar para beber água, mas ele acordou e bateu nela.

Se ela tivesse que passar por aquilo de novo...

Adam sentiu o seu coração sendo ferido ao ver aquela menina se desfazer na sua frente daquele jeito, ela soluçava, gritava e chorava mais, seu peito já estava encharcado. Ele a abraçou com força, pois aquilo era tudo capaz de fazer, pelo menos agora, silenciosamente ele prometeu matar aquele cara, mas não antes de fazê-lo sofrer um pouco. 

Ravena chorou e dormiu no peito dele que a carregou até a cama e se deitou ao seu lado, ela tinha sonhos agitados, murmurava coisas e chorava as vezes.

Adam já tinha dormido, então não ouvia a garota pedindo para não ser abandonada por ele, nem pedido para ter a confiança que uma vez teve nele de novo. Os dois não tinham ideia de quando a velhinha entrou no quarto e os viu abraçados em meio a sonhos, nem o sorriso calmo e sincero que ela deu ao fechar a porta.

Andando pelos corredores ela pensou que se não contasse aquilo para alguém poderia ser morta, mas a sua opinião e sabedoria nunca foi requisitada pelo príncipe e ninguém daquele castelos, por que agora?

Ela era invisível, e por isso iria guardar para si cada segredo sujo daqueles nobre ridículo. Porém, ajudaria aquela garota.

Rosas Vermelhas [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora