Capítulo XXVII

989 128 1
                                    

Ravena acordou no meio da noite, a boca estava seca e o suor frio, uma chuva leve caia do lado de fora da sua janela e as rosas que ela tinha colocado ali já haviam secado há muito tempo. Ela não dormia direito fazia duas semanas, acordava sem motivo e não dormia mais, ficava olhando para o nada e seu pensamento vagava para nenhum lugar.

A noite ela não se importava com isso, mas durante o dia... isso a preocupava, ela não queria mais ler, nem tocar, nem nada. E se ela ficasse assim para sempre? Nunca mais recuperasse quem ela era? Vagando para sempre em seu pensamento.

Não. Ela ia sair dali, voltaria a ser a mesma garota de sempre. Só tinha que sair dali.

Uma batida na janela a fez dar um pulo, olhou para a direção dela assustada, primeiro achou que tinha sido um inseto grande ou um pássaro distraído, mas quando uma nova batida ocorreu e ela viu uma pedra voando até o vidro da janela, se levantou correndo. Abrindo, ela olhou para baixo, dois vultos se encontravam tentando subir pelas pedras da parede.

Quando eles chegaram dentro do quarto e abaixaram os capuzes, Ravena já chorava aliviada. Adam e Edgard tinham olhares atentos e assustados, ela os abraçou e por um segundo toda a raiva e magoa que sentia por Adam sumiu, dando lugar para a esperança de sair dali.

- Calma... - Adam falou sussurrando e fazendo um sinal para ela fazer silêncio.

- Por que me abandonou? - ela disse brava, ainda chorando.

- Eu não... - ele disse um pouco magoado - Eu não a abandonei. Eu nunca ia querer que algo assim acontecesse com você!

- Conta outra... - Ravena falou se afastando dele.

- Não está na hora para isso... - Edgard falou se colocando entre os dois - O turno dos guardas logo vai acabar, temos que fugir agora!

- Não... - Ravena falou - Ainda temos que matar o príncipe Gaspar!

Os dois príncipe trocaram olhares assustados, não esperavam que ela falasse algo do tipo, nem que ela gostaria de ficar mais tempo naquele lugar. Mas tinham uma semana para ele invadir o reino, se eles o matassem antes e o atacassem nessa hora a vitória era certa. Explicando tudo isso, não foi o suficiente para convencer Adam que aquele era o único motivo da menina.

- O que ele te fez? - ele falou sério, pegando na mão dela.

- Nada! - ela falou seca se soltando .

A mão dela. Deformada. Raramente Ravena dava atenção para ela, pois raramente queria pensar nela.

- Precisamos que um vá para o reino e volte com um exército em... - ela disse olhando para Edgard

- Consigo no máximo quatro dias.- ele falou preparado para sair dali.

- Então vá! - ela disse fazendo um gesto de espantá-lo - Eu e Adam vamos criar um plano para mata-lo antes disso.

Saindo do quarto pela janela Ravena observou Edgard até perde-lo de vista, ao se virar percebeu que estava sozinha com Adam. Era a primeira vez desde que ele tinha confirmado que havia matado o irmão e a primeira vez desde que ele a tinha abandonado.

Seus sentimentos brigavam entre si, ela sentia saudades, queria abraça-lo, beija-lo e se perder no seu cheiro, mas sentia tanta raiva e mágoa que só conseguia encará-lo prestes a chorar.

- Você me deve uma explicação... - ela sussurrou.

- Eu não te abandonei! - ele disse se aproximando dela seus olhos estavam cheios de água, mas aquilo podia ser atuação, tudo poderia ser atuação.

- Me poupe disso... - ela respondeu olhando para baixo, pronta para chorar - Por que você matou seu irmão?

- Ravena, você está com raiva de mim. Não é o melhor momento...

- Por que agora eu vou ouvir a história e interpretá-la de maneira correta? - ela disse se aproximando dele - Por que se eu tiver cegamente apaixonada eu vou aceitar tudo? Adam, por que você matou seu irmão?

- Por favor... - ele pegou a mão dela com leveza a levando para se sentar na cama - Lembre-se eu era uma pessoa diferente, você me mudou.

Ravena ficou em silêncio, como ela queria beija-lo! As lágrimas saíram dos seus olhos, ela teve que olhar para outra direção, qualquer uma sem ser os olhos verdes de Adam. Pareciam ser tão honestos.

- Eu nunca fui a pessoa mais legal do mundo, e dúvido que um dia eu vou ser. Mas teve uma época que eu nem tentava, gritava com todo mundo sem motivo. Acho que fazia isso porque eu podia, pelo menos na minha cabeça, ninguém me contestava, ninguém podia dizer não para mim. - Adam pegou o queixo de Ravena e trouxe o olhar dela até ele - Talvez por isso, meu irmão, tenha "proposto" para que você virasse a amante dele daquela forma. Ninguém diz não a um príncipe.

- Isso não é desculpa...

- Eu sei... - ele falou envergonhado - Meus pais podiam ter me dado uma criação melhor, assim como para Edgard e Edmundo. Mas nós três podíamos agir diferente a isso, e Edmundo era assim! Talvez por isso ele e eu brigávamos tanto e eu não podia suportar o fato dele ser rei e eu não. Um dia a briga foi além do que...

Adam olhou para baixo, passou a mão pelo cabelo e olhou para ela completamente sem graça. Estava arrependido? Ravena não sabia e seu coração doía com isso.

- O que eu fiz... - ele pegou a mão dela de leve a encarando - Não tem perdão e eu mereço minha punição, por isso que eu disse que você não deveria ter feito isso!

- Adam... - ela falou se levantando e tirando o vaso de rosas da janela - Sabe onde você erro?

- Sendo um babaca... - ele deu um suspiro leve - Ou seja, minha vida toda.

- Não... - ela falou tensa - Foi quando você não me contou toda a verdade. Como você quer que eu volte acreditar em você?

Adam olhou com tristeza para ela, não tinha como se defender, ele não havia feito algo pequeno, algo banal que tinha se esquecido de mencionar em uma conversa. Mas algo grande que ainda o assombrava, uma coisa que dizia muito sobre ele. Não podia ter escondido.

- Eu entendo seus motivos para não me contar... - ela falou mantendo o olhar sobre ele - Eu mesma não saberia como contar algo do tipo para você. Mas... eu sinto que você me enganou, me usou o tempo todo e...

As palavras dela sumiram em lágrimas, Adam olhou assustado para aquilo. Ravena, a pessoa que ele amava e queria proteger chorava por causa dele.

- Desculpa. - ele disse se levantando e a abraçando- Desculpa, desculpa.

- Eu quero acreditar! Eu quero mesmo, mas não consigo! - ela sussurrou o afastando - Vamos deixar para discutir isso depois! Não deveria ter levantado esse assunto naquele momento. Temos uma guerra para ganhar!

- Temos uma guerra para ganhar!

Rosas Vermelhas [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora