Capítulo XXIX

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Ravena sentia seus braços tão doloridos que se ela os levantasse lágrimas escorriam pelo seu rosto e ela tinha que parar. Adam acabou sendo o responsável em ajudá-la a fazer coisas básicas, como levantar algo ou comer.

Aquele dia tinha passado tão rápido, que os dois se viam olhando para o Sol no ponto de se por quase implorando para que ele ficasse mais.

- Será que você pode não ir? - Adam disse amarrando o cabelo dela sem jeito.

- Você viu meu rosto... - ela sussurrou de volta - Não quero passar por isso.

Adam fez uma careta, o local onde o rosto de Ravena estava vermelho ganhou um tom roxeado, parecia que os boatos do príncipe Gaspar bater nos criados eram verdadeiros, tanto quanto aos que diziam sobre o humor do próprio Adam.

A imagem da garota daquele jeito fazia seu peito inflar de raiva e quase transbordar. A sua vontade era ir atrás do príncipe e socá-lo até que o rosto dele ficasse amassado.

- Já viu algo assim acontecer? - Ravena falou olhando para ele

- Isso o que? - ele falou tentando não encarar o hematoma

- Mulheres apanhando. - ela disse suspirando - Eu tinha uma vizinha que o marido batia muito nela. Era assustador...

- O que aconteceu com ela?

- Um dia - Ravena falou olhando para longe - Ela sumiu... simples assim. Um dia ela estava lá e no outro se transformou em uma lembrança.

- Por que você está pensando nisso? - Adam falou preocupado

- Porque era só nisso que eu pensava. Eu estava contando os dias em que eu me tornaria nessa lembrança, me perguntado se era assim que ela se sentia. - os olhos dela se encontraram com os do dele - Eu estou com medo...

- Se você não estivesse, eu me preocuparia. - ele se aproximou dela a abraçando.

- Não espere... - ela disse aceitando o abraço - Que isso seja o suficiente para que eu te perdoe. Ainda vamos conversar sobre tudo.

- Eu sei. - ele disse sorrindo triste- Não ia querer algo diferente.

🌹

Dois dias, dois dias para o assassinato do príncipe Gaspar. Mesmo que ela estivesse preocupada pela falta de plano, só de imaginar em sair daquele lugar inteira, fazia o coração se encher de esperança e criar coragem o suficiente para ela passar por mais um jantar.

- Parece melhor, Ravena... - Gaspar disse observando o garfo da menina ir até sua boca sem tremer.

- Estou melhor sim, obrigada. - ela falou com calma tomando mais um gole da sopa.

- Por que a senhorita nunca bebe? - ele perguntou olhando para o copo dela cheio do vinho.

- Não gosto de bebida com álcool, senhor. - ela falou olhando receosa para o príncipe na sua frente

Ele deu uma risada seca bebendo mais, hoje em especial ele estava apreciando a mais o vinho. Duas garrafas vazias estavam na sua frente e os olhos dele sempre gelados estavam apenas vagos. Mas a pior parte não era isso, e sim, quando ele ficava em silêncio por um momento e a encarava mordendo o lábio, o coração de Ravena disparava e ela tentava de todas as maneiras disfarçar o seu desconforto.

- Quantos anos você tem mesmo? - ele disse corrigindo a postura na cadeira.

- Dezenove, senhor... - ela disse olhando para baixo

- Dezenove. - ele falou a palavra, quase a saboreando - Já é uma mulher...

Ravena sentiu um frio enorme na espinha descendo, a garganta ficou seca e a coragem de olhar aquele homem no olho sumiu, parecia que ela ficaria congelada ali para sempre. Ela escutou a cadeira sendo arrastada e passos até o seu lado, uma mão pegou o seu queixo a fazendo olhar para cima.

- Já é uma mulher, mas nunca foi tratada como uma! - ele disse como se aquilo fosse um absurdo - Vamos mudar isso.

- O que você quer dizer? - a voz dela saiu assustada e desesperada

- Senhor. Se lembre de falar isso sempre! - ele falou um pouco irritado - Eu quero dizer que eu irei fazer o que Adam tinha que ter feito! Amanhã você vai ser minha!

Ravena sentiu o seu corpo gritar por socorro. Ela não queria aquilo, sentia tanta repulsa por aquele homem que só de sentir a mão dele em seu ombro a fazia querer recuar o mais longe possível, porém já tinha aprendido que isso era uma opção idiota.

🌹

Ravena nem tinha acabado de ouvir a porta do quarto fechar quando ela correu até a janela abrindo desesperadamente para vomitar todo o jantar. Adam correu até ela segurando a sua cintura, temendo que ela caísse da janela.


- Ravena, o que houve? - ele disse quando ela já parecia melhor.

Ela se virou e olhou para o rosto do rapaz, os olhos verdes dele brilharam, estavam claramente preocupados e assustados. Como ela iria falar o que aquele homem horrendo tinha proposto? Como explicar que ela não conseguia recusar pelo medo que sentia? A vergonha tomava conta dela.

Um barulho estranho aconteceu no canto do quarto, os dois olharam para aquilo sem acreditar, a parede foi aberta e ali Edgard entrou junto a criada velhinha. O príncipe sorriu para a senhora balançando a cabeça em forma de agradecimento.

- O encontrei tentando entrar pelas muralhas, senhorita. - a velha disse com calma - Creio que seja seu visitante.

- O que? - Ravena se levantou olhando assustada para a mulher.

- Eu sou sua criada... - a mulher falou calma - Sua sombra. Tudo o que você faz, eu vejo, tudo o que você fala, eu escuto. Ordens do senhor.

- Ele...? - a garganta da garota secou.

- Ele nunca pediu para que eu falasse algo. - a velha sorriu com malicia - Só que eu ficasse de olho em você.

- Por que? - Ravena disse se aproximando da anciã.

- Porque a gentileza merece ser correspondida. - a velhinha sorriu - Você foi a primeira pessoa que, apesar do seu berço, se importou em falar comigo.

- Senhora Sara... - Edgard disse para a criada - Se você deseja poderia ir até os cavaleiros que estão escondidos na mata. Eles irão cuidar de você.

- Obrigada... - a mulher disse dando mais um sorriso, era muito bonita - Senhorita, não deixe que Vossa Alteza faça o que deseja com você.

- O que? - Adam falou desconfortável, olhando Ravena

Ravena não respondeu, tinha que primeiro agradecer a senhora na sua frente, mas como? Ela não tinha feito o suficiente para ter sido agradecida daquela forma, nem o nome dela ela tinha perguntado. Começou a se perguntar o que aquela velhinha tinha passado e sofrido a vida toda, afinal, ela considerava gentileza uma pequena pergunta. Sem saber o que fazer abraçou a anciã.

- Ah! Criança...

- Obrigada!

Sara saiu pela porta e Ravena ficou observando até perder a luz da vela da mulher de vista. Assim que isso aconteceu abraçou Edgard muito feliz em vê-lo, quase riu ao pensar que se falasse desse sentimento com ela mesma há quase um ano atrás isso seria um grande choque.

- O que ela quis dizer com Gaspar fazer o que quiser com você? - Adam disse assim que ela terminou de cumprimentar o irmão.

Ravena ficou vermelha e desviou o olhar, aquilo foi o suficiente para Adam compreender, abraçou a menina. Edgard piscou algumas vezes completamente confuso da situação em que se encontravam.

- Ravena, depois falamos sobre isso. - Adam falou sério - Mas agora temos uma guerra para ganhar!

- Uma guerra para ganhar! - ela disse colocando a mão na frente do corpo esperando que os outros dois colocassem a deles em cima.

- Sério? - os irmãos falaram ao mesmo tempo olhando com descrença para o gesto da garota.

- Chatos!- revirando os olhos, ela abaixou a mão.

Rosas Vermelhas [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora