Capítulo XXXI

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- Vadia! - Gaspar gritou virando o rosto para ela - Você vai me pagar!

Ele avançou para cima dela ao mesmo tempo que ela impunhava a faca para acertá-lo de uma vez por todas. Porém ele era bem mais rápido que ela achava possível, batendo o braço no dela jogou a faca para longe e pulou em cima da garota.

A cabeça bateu no chão e Ravena viu vários pontos brancos, a faca estava um pouco a sua direita, era só estender o braço, mas agora ela tinha problemas maiores. Gaspar estava em cima dela, batendo sua cabeça no chão várias vezes.

- Está tentando fazer o que? - ele riu - Me matar? Onde conseguiu aquela faca, vadia?

Quando ele parou de bater a cabeça dela, ela sentiu que tinha os cabelos molhados colados. Tudo rodava de dor e nada mais existia. As mãos de Gaspar foram ao redor de sua garganta a sufocando.

Ela arranhou as mãos dele em busca de afrouxar, ao mesmo tempo que tentava desesperadamente chegar na faca com a outra mão. A visão estava borrando aos poucos e os pulmões implorando por alguma coisa, estava queimando de dentro para fora.

Faltava tão pouco para suas mãos chegarem na faca... tão pouco. A visão ficou negra. Ela lembra de pensar que era uma merda que a última coisa que ela ia ver era aquele canalha. Então as cegas, quase desacordada ela sentiu a faca em suas mãos, e em seguida sentiu algo molhado e quente caindo no seu rosto.

A pressão contra seu pescoço foi retirada, ela puxou o ar desesperada. O peso que havia sobre o corpo dela sumiu, ainda sem ver o que estava acontecendo ela saiu bem depressa de onde estava.

Sua visão voltou a medida que Ravena foi puxando o ar com força para os pulmões. Gaspar se encontrava caído no chão com uma poça de sangue ao redor do corpo que se mexia como um peixe morrendo. A faca tinha sido cravada no pescoço dele, a cor sumiu rapidamente do rosto do príncipe.

Ravena achou graça por um segundo, tinha sido tão fácil, mais fácil do que matar o lobo com um graveto. Os olhos de Gaspar caíram sobre ela, e ali fixaram. O príncipe estava morto.

Um alívio bizarro veio sobre a mulher, se levantando ela pegou as rosas vermelhas semi-mortas e voltou elas na janela. Aquele era o sinal perfeito.

Se olhando no espelho, viu seu cabelo bagunçado e seu rosto com respingos de sangue. Percebeu que aquela roupa iria fazer tudo, menos ajuda-lá na batalha que viria a seguir.

Tirando a saia decidiu, a contra gosto, roubar a calça do príncipe. Ficou grande, mas ainda era melhor do que a saia volumosa que usava. Assim que pegou a faca ouviu gritaria e barulhos de luta.

- Senhor! - uma batida desesperada veio da porta - Senhor! O castelo está sendo invadido! Venha rápido!

Ravena não sabia se estava pronta, mas tinha que está. Suspirou e se preparou para lutar.

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O primeiro guarda que entrou tinha arrombado a porta, e morreu antes mesmo de entender o que estava acontecendo. Ravena desistiu da faca, pegando a espada daquele homem.

O segundo entrou e foi mais rápido de raciocínio que o outro, então partiu para cima de Ravena, que com muita dificuldade o matou. Com o tempo ela lutava desesperada, se escondia e corria pelos corredores sem ter ideia para onde ia. Os guardas tinham se transformado em lobos e o castelo uma floresta, ela tinha sobrevivido essa situação uma vez. Se encontra-se Adam, ia dar certo de novo.

A medida que Ravena se aproximava, ou esperava que se aproximava da entrada principal, o número de lutas e guardas aumentava exponencialmente.

Ela ia sobreviver!

No salão de entrada havia tantos homens, que ela teve que parar um minuto, tentando desesperadamente entender o que estava acontecendo. Os "lobos" estavam se matando com uma violência que a fazia perder o fôlego.

- Ravena! - ela olhou na direção da voz, Adam tirava a espada de um homem na beirada da escada, subiu correndo na direção dela - Ande!

Sem pensar, sentiu suas pernas correndo até ele que pegou a mão dela de leve e a puxou. Pararam algumas vezes para matar alguns homens que impediam seu caminho, mas mais rápido do que tinha achado possível eles estavam do lado de fora, longe da confusão.

🌹

- Você está bem? - era a terceira vez que Adam perguntava aquilo

- O curandeiro falou com você que sim... - ela disse impaciente

- Não quero dizer assim. - ele disse sentando ao lado dela - Você sabe...

- Adam, eu não disse nada de mais... - ela respondeu suspirando.

Mesmo irritada com tanta preocupação que ele estava sentindo, ela sabia que isso era graças ao grande roxo que tinha ficado na sua garganta em formato de mão. Além do machucado na cabeça.

Ravena olhou ao redor, estavam em uma cabana, muitos soldados se encontravam ali feridos. Uns tinham membros faltando, machucados profundos, e outros precisavam de uma bandagem apenas. Era aquilo que a guerra trazia? Morte?

Se ela tivesse aquela visão antes de planejar todos aquela defesa e ataque, teria tomado as mesma decisões? Teria tomado decisão alguma?

Uma comemoração corria no lado de fora, eles haviam ganhado rapidamente. A voz dos soldados embriagados deixa ela incomodada.

- Por que você não saiu pela passagem secreta do quarto? - Adam falou curiosos.

Ravena olhou para o rapaz, abriu a boca, mas apenas conseguiu xingar. Céus! Na confusão ela tinha se esquecido daquilo. Adam teve a audácia de ri e ela acabou fazendo o mesmo.

- Parabéns! - Edgard disse entrando na tenda e se aproximando dela - Sem você nada ia ser possível!

- Criativo... - ela se permitindo sorrir - Mas não quero ser responsável por isso tudo.

- Como você se sente? - Edgard falou se sentando ao lado do irmão.

- Por que vocês ficam me perguntando isso? - ela falou olhando para os dois.

- Você matou um homem. Isso muda as pessoas...

- Foi como matar um lobo. - ela disse sem expressão - Foi alguma coisa, mas nada grande de mais.

Adam olhou com desconfiança para ela, mas decidiu não falar nada. Edgard disse para ela entrar na comemoração, mas recusou dizendo que precisava descansar. Adam deu um beijo na sua testa antes de ir.

- Ainda vamos conversar... - ela disse pegando o pulso dele - Mas antes, eu queria ver minha família.

- Será a primeira coisa que vai fazer quando voltarmos. - ele falou sorrindo com tristeza.

Quando se viu sozinha no meio de tantos moribundos achou melhor dormir mesmo. Mas sua mente tinha outros planos, com os olhos fechados, ela pensou como foi mentira dizer que tudo aquilo não tinha mudado ela.

Matar uma pessoa não tinha que ser fácil, mas era, não afetava ela, não fazia ela se sentir um monstro, e por isso, ela se sentia um. Além disso tudo, ela ainda tinha que refletir, como explicar o que estava sentido para Adam, principalmente a parte que dizia sobre ele.

Uma lágrima caiu quando tinha chegado a conclusão dos seus pensamentos.

Rosas Vermelhas [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora