O Solar

Chegada

Era noite. Não havia lua no céu e mesmo que houvesse, os solares ficariam ali. Kris se lembrou de suas aulas. O alto Jenz lhe disse que as lunares se enfraqueciam em contato com o sol, mas os solares não se enfraqueciam tanto em contato com a lua, devido ao seu calor interno. Kris só estava sentindo um frio tremendo.
- Elas vão demorar muito? - Kris sussurrou para Ayana, que estava ao seu lado.
- Pelo visto continua com sua ansiedade, Kris. - Ayana respondeu. Parecia muito apreensiva. Muito mais ansiosa que Kris. - Vão surgir a qualquer momento.
O vento frio fazia barulho e nada delas chegarem. Até que após algum tempo, Kris ouviu um barulho. Na noite escura, começaram a surgir tochas. Mas não eram de fogo normal. Eram tochas com chamas brancas. Era a coisa mais linda que ja viu. Da floresta, várias mulheres de branco surgiram, cada uma carregando ou uma grande tocha ou uma vela de chama branca. Todas estavam vestidas de branco. A maioria carregava expressões de tristeza e cansaço, mas lá de cima dos muros, Kris notou alguém diferente. Tinha o cabelo repartido em duas cores. De um lado era branco e do outro negro. Tinha um brilho que faltava na maioria das mulheres da caminhada. Na mão, ela não tinha vela. A chama branca flutuava em sua mão. Tinha os pés descalços. Ao seu lado tinha uma mulher de preto, com a expressão severa. Do outro lado, havia uma mulher negra que usava vermelho.
- Kelene! - Ayana saiu de sua posição. Foi correndo segurando o vestido para diante dos portões, que foram abertos para que ela pudesse passar. Descendo as escadas com rapidez, ela chegou até a beira da floresta, onde deu um abraço forte na lunar que usava vermelho. Parecia que a conhecia a muito tempo. Ela disse alguma coisa a elas e aos poucos, todas as lunares estavam subindo as escadas, indo em direção ao grande salão. Ayana fez um sinal para Kris e ele desceu.
- As lunares vão jantar com os solares altos e o sacerdote agora... - Ayana deu um sorriso para ele. Tinha chorado novamente, mas talvez de alegria pela chegada das irmãs. - Escolhi você para jantar conosco.
- Eu? - Kris deu um sorriso bobo. - Mas eu sou um baixo e...
- O sacerdote disse que eu poderia convidar qualquer um. - Ayana disse. - E vai ser ótimo você passar inveja nesses solares metidos.
Ryan não pôde deixar de dar um enorme sorriso.

***

No grande salão, haviam sido postas dez mesas. Todas ficaram cheias, mas conseguiram comportar todas as lunares. Kris estava vermelho de vergonha. Não conhecia ninguém ali, mas acompanha Ayana para onde ia.
- Vamos sentar com ali. - Ayana fez um sinal e Kris a acompanhou. Era a maior mesa dali, onde estavam os solares altos e o sacerdote. Ayana fez outro sinal e Kris se sentou ao seu lado. Na mesa, estavam além dos solares, a mulher do cabelo de duas cores, a mulher de preto, a de vermelho e outras duas. Uma morena e uma branca de cabelo preto, que parecia estar meio triste.
- É um grande prazer tê-las aqui, lunares. - O sacerdote disse, gentil. - Conheço a grande reputação de Kelene e Garva, porém desconheço as outras. Poderiam se apresentar?
- Ah, claro, sacerdote. - Garva, a de roupa preta, disse. - Essa aqui é Meg.
Ela apontou para mulher morena, que era muito bonita por sinal.
- E esta é Luize. - Ela apontou pra garota de cabelos pretos que tinha os olhos prontos para chorar. - São as grandes amigas da nossa sacerdotisa.
- Sacerdotisa? - O velho Ífar olhou para todas as mesas. - Não sabia que tinham uma. Gostaria de conhecê-la.
- Aubrey Moon. - A moça do cabelo branco e preto disse. - É um grande prazer, sacerdote.
Isso gerou algo entre os solares altos que se sentavam ali. Todos se entreolharam. Uma sacerdotisa nova daquela maneira era um grande choque realmente. Kris sorriu vendo a cara de choque dos solares.
- Aubrey! - Ífar deu um sorrisinho nervoso. - Creio que ainda é muito nova para se declarar sacerdotisa. Tem certeza?
- Se não fosse por Aubrey, a fortaleza seria destruída. - Kelene disse com a voz grave. - Ela derrotou a traidora Elinor. Ela se transforma...
- Eu me tornei alta recentemente. - Aubrey disse, lançando um olhar para Kelene. Parecia que não queria que ela dissesse algo a mais. - Devo dizer que foi uma surpresa e tanto para mim quando descobri, sacerdote.
- Ah sim... - Ífar disse, ainda não convencido. - E onde está Ryan? Pensei que ele viria com vocês...
- Ryan possivelmente chegará amanhã durante o dia. - Garva respondeu. - Ficou para trás para descansar durante a noite.
Após isso as refeições chegaram e todos ficaram em silêncio. As lunares comiam avidamente. A viagem longa era realmente exaustiva. Kris não havia comido nada.
- Ayana. - Kelene disse após terminar de comer. - Não nos disse quem é o jovem.
Ela apontou para Kris, que sentiu o rosto queimar como nunca.
- Esse é Kris Sun. - Ayana disse sorrindo. - Eu o escolhi como embaixador das lunares aqui na fortaleza.
Se Kris não estivesse sentado, cairia no chão. Havia lido nos pergaminhos espalhados que o embaixador das lunares era alguém capacitado que acompanharia as lunares e as ajudaria no que precisasse. Participaria de reuniões e tudo o mais. Não pensou que ele seria escolhido para o cargo que era disputado por todos.
- Ruivinha? - Um solar alto começou a rir. - Ele não será o embaixador.
- Que bom então que não é você que decide, Carl. - Ayana disse com uma voz cortante. - Eu, a lunar residente da fortaleza, decido.
Ele se calou. Abaixando a cabeça. Todos continuaram a comer.
- Por que fez isso? - Kris sussurrou com ela.
- Você é o solar em que mais confio, Kris. - Ayana disse. - Sei que não fará nada de errado com elas. Até porque lhe falta atitude as vezes.
Ele fez uma cara de bravo para ela, que deu uma risadinha.
- Vai se dar bem. - Ayana falou, animada. - E todos terão inveja de você. O mundo gira, não?
Kris acabou sorrindo também. Levantou o olhar para a mesa e percebeu que Aubrey, a sacerdotisa, não tirava os olhos dele.