A volta

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Era noite. A noite mais escura de todos os milênios. Não se ouviam sons que tirassem o silêncio daquela escuridão. As ruínas daquele enorme castelo pareciam um enfeite em meio a tanta devastação. Um lugar inabitável, onde não tinha árvores, grama ou qualquer outro tipo de vegetação. A terra do chão era seca e rachada. Um som pareceu perturbar o silêncio que antes habitava ali. Eram passos. As botas negras de Valácia faziam um barulho inconfundível enquanto subiam as escadas de mármore do castelo abandonado. Em suas mãos, estava algo enrolado em um pano negro, da cor de suas vestes.
Valácia levantou a cabeça, abaixando o capuz com a mão direita. Na sua frente, estava onde antes seria a porta principal do local. Ela continuou prosseguindo a caminhada. Por dentro, o castelo conseguia ser mais abandonado do que antes. Lustres caídos no chão, esqueletos com armaduras negras em outras partes. O cenário, era de devastação total.
No meio do grande salão, havia um trono quebrado, de mármore negro. Logo acima, a visão assustava. Uma mulher flutuava. O vestido negro em frangalhos. Os cabelos mais escuros do que a noite flutuavam assim como as barras de suas vestes da mesma cor. Os lábios eram vermelhos, apesar de estar mais pálida do que a neve. Como se estivesse morta a muito tempo. Valácia se aproximou do corpo, que não respirava. Em um momento, ela ficou olhando. A dona do corpo era jovem. Não era velha como muitas pessoas pensavam. A rainha das trevas e da morte, era jovem. Sua juventude não disfarçava sua crueldade. E isso era um fato.
Valácia tirou o pano de sua mão, revelando o que segurava. Um enorme coração, maior do que o de um cavalo, escorria um sangue dourado. O grifo morreu, para que pudesse dar a vida.
O coração flutuou, indo de encontro ao corpo. Valácia se afastou, um pouco temerosa do que aconteceria.
Ao redor do salão, um redemoinho começou a surgir. Envolvendo a poeira do lugar e todos os escombros. Valácia cobriu o rosto, se protegendo da fumaça negra.
Após um bom tempo, a fumaça abaixou de uma vez. Valácia se ajoelhou. Tinha que se ajoelhar, senão poderia receber sua ira de imediato.
- Valácia. - A voz. Aquela voz. Bem distante dali, um trovão soou. Ele próprio parecia respeita-la. - Se levante.
Na sua frente, estava ela. Com um sorriso nos lábios, ainda pálida, com os cabelos negros jogados nos ombros. Os olhos, um azul e outro branco.
- Bem-vinda de volta. - Valácia disse com a voz ainda tremendo. - Ó gloriosa... Ysmatiz.
E foi ali, que a pessoa mais cruel do mundo, acordou a noite com sua risada.

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