Prelúdio

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Ainda era complicado para Kris aceitar as coisas. Aubrey, ainda calma e quieta, estava de pé, entre as árvores, observando a fortaleza distante.
- Precisamos dar um jeito de entrar sem sermos vistos. - Aubrey disse com a voz serena. - Eu já volto.
- Aubrey... espera... - Kris tentou dizer, mas ela já havia saído. Com certeza, para pensar melhor sozinha. Kris, coçando a cabeça, se virou para a irmã, que ainda estava sentada. - Como isso aconteceu, Kria?
- Eu não posso dar detalhes, Kris! - Ela se levantou e aproximando dele, segurou suas duas mãos. - Se você soubesse o quanto nos aproximamos nessa semana. Só... confie em mim.
- Eu quero confiar! - Ele segurou as mãos dela ainda mais forte. - Mas é difícil se você não me dizer nada.
- Nosso pai confiou em você o futuro de todo nosso povo. - Kria tinha verdade nos olhos. Aquilo transmitia confiança total nele. - Em uma semana, ele confiou em você. Eu pedi para ele que a tarefa era grande demais para mim. Você saberá de tudo quando as coisas se acertarem.
Kris ficou imóvel por um momento. Olhando nos olhos dela.
- Eu confio. - Disse por fim. - Só me conte sobre... o casamento. Eu não sinto nada pela Aubrey.
Kria sorriu. Era bom ver ela sorrindo depois de tudo.
- É o efeito da perda da memória. - Kria soltou suas mãos e cruzou os braços. - O casamento foi ideia do meu pai. Ele precisava de um laço que unisse as lunares à nós. Você.
- Então foi um casamento arranjado?
- É claro que não. - Kria andou pela clareira, passando a mão em algumas árvores enquanto dizia. - Naturais conseguem perceber emoções de todas as criaturas. Seu amor por Aubrey era muito forte. Isso propiciou o pedido.
Kris ficou vermelho. Não era possível. Em uma semana ele se casar com Aubrey? Ele achava ela bonita, mas era só isso. Casado?
- Eu pedi? - Kris, por mais que estivesse envergonhado, queria saber mais. - Digo... Eu fiz o pedido?
Kria deu uma gargalhada. Outra vez, Kris ficou feliz por ver seu sorriso.
- Deixa eu te contar uma história. - Ela parou de rir e o encarou, ainda com um sorriso de lado. - Em Forestia, somente a parte boa do coração funciona. Seres com maldade dentro de si, não conseguem entrar. Lá, essa sua parte introspectiva ficou para trás.
- Isso não é ainda um motivo para pedir alguém em casamento em uma semana. - Kris disse.
- Era o único modo do papai confiar em Aubrey. - Kria olhou para trás de Kris e ele se virou. Aubrey vinha na direção dos dois, seguida de alguém. Pelo grito, Kris reconheceu ser Meg. Ela parecia chocada ao ver ele.
- Então era isso que você quis dizer com mais bonito ainda! - Meg disse, rindo de orelha a orelha. - Como isso aconteceu?
- Ele está mesmo menos feio. - Luize também apareceu, com a mesma expressão de "que tédio".
- A história é longa! - Aubrey disse, se virando para Kris e a irmã. - Encontrei as duas no estábulo.
- Luize e eu estávamos ainda mantendo a imagem de vocês. - Meg sorriu. - Fico feliz por não ter que usar o disfarce de vocês.
- Vocês estão muito diferentes para aparecerem agora. - Luize se aproximou, avaliando Kris. - Do nada você aparece de barba e Aubrey de cabelo cortado. Seria suspeito.
- Tenho uma ideia. - Kria olhou para Aubrey.
- Quem é a ruiva? - Meg perguntou.
- Sou Kria. Irmã de Kris. - Kria sorriu para as duas. Luize assentiu com a cabeça e Meg sorriu. - Kris, venha aqui.
Kris se virou para a irmã novamente e ela passou a mão pelo seu rosto. Sentindo um calafrio percorrer as duas bochechas, ele percebeu uma mudança.
- Pronto. - Ela sorriu. - Prefiro sem.
Ele passou a mão pelo rosto e percebeu que ela havia tirado completamente a penugem.
- Eu não vou mudar. - Aubrey passou a mão pelo cabelo curto. - Eu gostei.

***

Conseguiram passar pelos guardas da entrada facilmente. Com um feitiço de disfarce, Meg entrou com Luize e Kria. Sem nenhum feitiço, Kris voltou com Aubrey. Os guardas não disseram nada e simplesmente abriram passagem. Os corredores estavam movimentados devido às aulas das lunares durante o dia. Muitas olhavam para Aubrey com surpresa. Os dois mudaram a cor das roupas verdes. Kris, pela primeira vez, conseguiu conduzir tal feitiço muito facilmente. Isso foi uma verdadeira surpresa.
- Ficou melhor assim. - Ele disse sorrindo para Aubrey. Ela olhou para ele alarmada.
- Como?
- Seu cabelo! - Ele se assustou. Disse aquilo na maior intimidade e nem ficou vermelho. Seria o feitiço da memória perdendo força? - Me desculpa eu...
- Tudo bem. - Ela sorriu enquanto andava. - E eu prefiro você de barba.
Os dois sorriram até chegarem em um corredor isolado. As meninas saíram do disfarce e todos se reuniram ali.
- Kria pode se passar por lunar. - Meg respirou fundo. - Vai dar certo.
- Precisamos nos reunir em conselho. - Kria disse. - Com Garva, Kelene e Ayana. E Luize e Meg é claro.
- Como sabe delas? - Kris disse mas logo depois se lembrou da semana que passaram juntos. - Deixa pra lá.
- Vão todos para o salão das lunares. - Aubrey falou com os olhos fixos em todos ali. - Kria tem coisas a dizer.

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