Os pilares da enorme fortaleza balançavam conforme tudo tremia. Aubrey parecia estar muito apreensiva, pois ela já havia passado por isso antes, quando a fortaleza da lua caíra.
- Esse grifo do sol... - Aubrey disse enquanto corria. - Ele é como o cristal da lua? O núcleo de tudo?
- Sim. - Kris desviou de um quadro da parede, que de tanto tremer, caiu em sua direção. - Ele está adormecido há milênios, mas se for acordado, tudo desmorona.
- Ysmatiz quer ele para viver novamente. - Luize deu sua opinião. - Se ela conseguir...
Ouviram um rugido alto. Era uma mistura disso com um piado agudo. A espinha de Kris se arrepiou, juntamente com seus pelos ruivos da nuca. Estavam de frente para a porta do grande salão. O barulho vinha lá de dentro.
- Se preparem. - Aubrey tomou frente deles, ficando perto da porta. Kris lançou as mãos para baixo, fazendo se formar duas espadas de esmeralda, uma em cada mão. Luize levantou as duas mãos e ficou em posição de ataque. Aubrey lançou uma rajada de energia na porta, que desabou para dentro.
Valácia, que parecia ser a líder da tribo do fogo, estava no centro do salão. Todos os solares e lunares estavam ali presentes, com as chamas nos olhos, observando ela. Quando eles entraram, somente Valácia se virou para eles. Sorria, triunfante. Na frente dela, estava o grifo do sol.
Kris não saberia dizer se existiria algum animal semelhante a aquele. Tinha o corpo dividido entre águia e leão. Seus olhos pareciam afiados, observando tudo a sua volta. Tinha o tamanho de um cavalo adulto.
- Parece que chegaram tarde. - Valácia disse olhando pra ele. Ela levantou a mão para cima e acariciou o animal. - É uma pena estarem aqui para ver a destruição de sua amada fortaleza. A única que sobrou dos dois povos.
- Se afaste. - Kris disse, sem medo e ficando ao lado de Aubrey. - Liberte...
Valácia não esperou ele terminar de falar. Com as duas mãos, lançou uma coluna de fogo em direção a eles. Aubrey e Kris se uniram e conseguiram desviar, porém já era tarde demais. Valácia montou no grifo, que saiu voando pela grande salão, saindo por uma das janelas quebradas. Aubrey lançou disparos mágicos repetidos em cima deles, mas de nada adiantou. Ela já havia fugido.
- Não... - Kris sussurrou, para si mesmo. Acabou. A fortaleza cairá. Os solares e lunares do local, caíram no chão, em desmaios múltiplos. Os espíritos do fogo saíram dos corpos deles e foram embora, na mesma janela que Valácia.
- Temos que tirar todos daqui. - Aubrey disse, observando os presentes despertarem confusos. - Esta acontecendo de novo.
- Luize! - Kris se aproximou da garota. - Ayana está lá embaixo em meus aposentos...
- Estou indo. - Luize saiu em disparada. Como previsto, a fortaleza começou a ruir.***
Kris imaginava estar em um pesadelo. Um sonho era bem melhor do que qualquer coisa imaginável. A fortaleza da lua desabou e nunca mais poderia ser reconstituída. Isso devastou as lunares de tal forma, que vieram buscar abrigo com os seus semelhantes. O único refúgio para todos agora, era a fortaleza do sol, que em breve não existiria mais.
O escudo protetor que os rodeava, parou de funcionar. Os corredores estavam abarrotados de pessoas correndo assustadas. Os portões permaneciam abertos, para não atrapalharem a correria.
- Isso não pode estar acontecendo. - Garva parecia prestes a desmaiar. - De novo, não. Isso...
- É o início da guerra. - Kria disse com os olhos fechados. Parecia sentir o ar. - Hoje se inicia a verdadeira batalha contra...
- Não diga o nome dela. - Meg colocou as mãos na cabeça. Kris se lembrou de Aubrey ter contado algo sobre ela ser da descendência de Ysmatiz. Tataraneta de uma irmã ou algo assim.
- Temos que ir embora! - Luize chegou com Ayana, que parecia melhor. Kris pegou no braço da mãe adotiva e todos juntos começaram a sair do lugar, que tremia mais que tudo.
Indo pra área externa, Kris observava muitos lunares e solares já na orla da floresta, seguros do perigo. Só faltavam mais alguns e eles.
- Aubrey! - Meg segurou a amiga de um lado. Aubrey parecia ter o olhar enjoado, com a mão na barriga.
- Só estou me sentindo tonta. - Ela disse, logo em seguida engolindo seco. - Eu estou bem. Prossigam!
Kris continuo a andar, assim como os outros, com os olhos fixos em Aubrey. Ela estaria mesmo bem?***
Não houve vozes. Sussurros. Ou qualquer outro tipo de som, a não ser o pesar e a dor. Quando a primeira torre do Castelo caiu, o coração de Kris embargou de dor. O cenário de destruição lhe trazia as lembranças de uma vida inteira nesse castelo. Ifar, parecia o mais afetado, devido a longa estadia no lugar. Enquanto o Castelo se reduzia a ruína, Ifar subiu em um degrau da entrada e encarou a todos. Tinha lágrimas nos olhos.
- Quando eu era jovem, a fortaleza ficou sabendo de uma mulher que estava devastando o mundo conhecido. - Ele disse, em voz alta e tom grave. - Todos tinham medo. Quando ela subiu ao poder, lunares e solares tiveram que se rebaixar às leis dela. Por um tempo, ela reinou. Nesse tempo, só morte e caos fizeram nosso povo. Não estávamos mais aguentando aquilo...
Outra torre caiu, fazendo uma coluna de poeira levantar. Ifar ignorou e continuou a falar.
- Vimos, que o modo de derrota-la, era nos unirmos. - Respirando fundo, ele prosseguiu. - De todas as maneiras, o mal tentará entrar nesse mundo. Mas é nosso dever, manda-lo de volta para as profundezas de onde ele saiu! Ysmatiz voltou uma vez e foi derrotada. Que ela volte novamente! Pois será mandada de volta para as profundezas de uma vez por todas!
O grito foi geral. Todos com sede de vingança por isso. Aplausos tomaram conta da floresta. O barulho das ruínas foi abafado pelos vivas dos presentes. Kris sorriu. Mesmo que Ysmatiz voltasse, estavam prontos para ela.
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O Solar
FantasyLivro dois da trilogia "Os Celestiais".Após a fortaleza da lua ser destruída, as lunares realizam uma dura jornada e finalmente chegam na fortaleza do sol, com uma nova esperança. Mas infelizmente os solares não são tão amigáveis quanto elas imagina...