A ruiva da floresta

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Já era dia quando Aubrey deu sinal de vida. O salão das lunares estava lotado. Logo após a aparição da mulher, as lunares levaram Aubrey as pressas para o salão delas, de modo a fazerem feitiços de cura. Demorou para Aubrey se recuperar, quase a noite toda, mas graças aos céus ela estava bem. Ninguém dormiu e portanto todos estavam cansados.
- Aubrey. - Meg se aproximou da amiga no colchão do chão, segurando firme em sua mão. - Pensei que...
- Ela está bem agora. - Luize a interrompeu de falar alguma coisa que piorasse a situação. Aubrey, a sacerdotisa da lua, mais poderosa das lunares, foi derrotada por uma desconhecida. A fortaleza estava agitada. Todos queriam descobrir quem era aquela mulher. Uma mulher cuja magia não é da lua. Era a coisa mais improvável do mundo.
- O que houve? - Aubrey se sentou, massageando a cabeça. - Eu...
- Você ficou inconsciente depois do ataque. - Kris foi quem deu a notícia. O único solar ali presente. - A mulher com o fogo nas mãos.
- É impossível. - Garva disse, andando de um lado para o outro. - Uma mulher comum. Com poderes.
- Ela disse pertencer a uma tribo. - Ayana estava sentada ao lado de Kris, no chão. - Tribo do fogo.
- Fogo? - Luize franziu as sobrancelhas. - Isso me lembra as histórias que mamãe me contava...
- Agora não, Luize. - Meg disse ao lado de Aubrey.
- Não! É verdade. - Luize se levantou do chão, limpando o vestido. - Minha mãe me contava sobre as lendas do mundo. Sobre pessoas más que usavam forças elementais para fazer magia.
- Histórinhas de criança. - Kelene também se levantou. - Não é hora para isso.
- Eu senti... - Aubrey disse, olhando confusa para todas. - A magia dela era diferente. Era quente e... impulsiva.
- Deve ser mais uma lunar rebelde praticante de magia obscura querendo nos assustar. - Kelene respirou fundo. - Vamos cuidar dela.
- Cuidar dela? - Luize riu, irônica. - Você viu o que ela fez com Aubrey? Ela bloqueou sua magia como se espantasse uma mosca.
- Já chega! - Kelene tomou um tom sério e severo. Batidas na porta interromperam a conversa. Kris a abriu.
- Kris. - Um solar apreensivo estava na porta. - Os cavalos do sol. Estão desorientados. Só você consegue acalma-los.
- Tudo bem. - Kris assentiu e se virou para as lunares, olhando fixo em Aubrey. - Ja volto.
Aubrey assentiu e ele saiu, escutando mais discussões lá dentro.
- Como eles estão? - Kris disse, correndo com o solar.
- Parece que ficaram agitados com o fogo de ontem a noite. - O solar disse se afastando e deixando ele ir sozinho. O sol forte da manhã inundou Kris e ele continuou correndo até os estábulos. Chegando lá, ouviu os cavalos relinchando alto.
- Se acalmem. - Kris disse entrando e acariciando um cavalo por vez. Kris não sabia como, mas tinha um dom com os animais. Desde criança, sabia se comunicar com eles. A maioria o obedecia. Aos poucos, os cavalos começaram a se acalmar, escutando a voz de Kris.
- Muito bem. - Kris sorriu para eles. - Muito bem.
- Kris.
Ele se virou para a voz. Parecia familiar. Ele saiu do estábulo, procurando a possível dona. Não achou ninguém.
- Kris!
Ele se virou para a floresta, onde viu um movimento. Ele se arrepiou. Era uma pessoa. Ele viu um movimento de cabelo. Cabelos ruivos.
- Quem está aí? - Ele disse, tremendo de medo. Seria outra pessoa da tribo do fogo? A voz parecia familiar de algum modo. Limpando os olhos, ele observou uma silhueta de mulher em meio aos galhos.
- Se afasta! - Gritou pra mulher. - Ou vou lhe atingir com poder de solar!
A garota pareceu rir. Kris já estava disposto a correr quando ela levantou uma coisa. Era um colar de galhos secos, interligados. Por instinto, Kris levou a mão ao bolso, de onde tirou um colar semelhante. Tinha desde que era criança. Como ela teria um igual? Seu coração estava acelerado.
- Venha.
A garota disse se afastando para dentro da floresta rapidamente.
- Espera! - Kris ficou um tempo ali, segurando o colar na mão. O que ele faria? Com certeza algo estúpido como sempre. Ele a seguiu.

***

A floresta parecia mais cheia de vida do que antes. Os sons dos animais estavam mais vibrantes. O sol que batia nas folhas criava ondas no chão. Kris adorava aquele cheiro. Parecia o renovar. Ele gostava de estar em contato com a natureza, apesar de fazer isso pouco.
- Você cresceu. - A ruiva disse. Ele se virou e agora conseguiu a ver melhor. Tinha os cabelos longos, descidos livremente como cascatas ao longo do corpo. Usava um vestido verde vibrante, sem muitos detalhes, mas que a faziam vibrar de energia. - Faz tempo que não o vejo.
- Faz? - Ele ainda tremia de medo, como um movimento involuntário.
- Me desculpe. - Ela se aproximou, sorrindo. Tinha os pés descalços na grama vívida. - Não precisa ter medo. Meu nome é Kria.
Um turbilhão de pensamentos inundaram a mente de Kris. Ele conhecia esse nome. Parecia algo distante, mas que ele se lembrava.
- Você é... - Ele respirou fundo. - Da tribo do fogo?
- Eu? - Kria arregalou os olhos. - Jamais. Que a mãe me livre. Mas a presença de um membro da tribo do fogo na fortaleza me fez vir aqui.
- Então existem outros seres... - Kris engoliu em seco. - Digo... com magia?
- Kris. - A voz dela dizendo seu nome o acalmava. Parecia uma cantiga de ninar. - Existem muitos outros. O egocentrismo dos solares e lunares os cegaram para a verdadeira realidade. Estamos no estopim de uma guerra. E precisamos de você, o Príncipe de Forestia deve retornar.
Kris ficou imóvel, com os olhos bem abertos. Príncipe? Agora a ideia de estar em um delírio pelo sono parecia mais fácil. Ele continuou sem dizer nada.
- Venha comigo e eu explico tudo... - Ela estendeu a mão. - Venha comigo... irmão.
Kris caiu para trás, desmaiando na grama macia.








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