Kris acordou em um grande amontoado de folhas. Parecia que estava na própria cama de tão macia. O ar tinha o melhor cheiro do mundo. O cheiro da natureza livre. Abrindo os olhos, observou a ruiva o encarando.
- Você é bem frágil, não é? - Ela disse, parecendo conter o riso. - Espero que não se comporte assim perante nossos pais.
- Eu não tenho pais. - Kris se sentou, reparando que estava em cima de uma árvore. Parecia que a árvore se deitou para ele de livre e espontânea vontade. Isso era estranho.
- Eu sei que pode ser confuso, mas se vier comigo eu te explico. - Ela respirou fundo. - Você não é um solar, Kris. É um natural. Seu poder não vem do sol...
Ela se levantou, esticando os braços para o ar. As árvores balançaram. Os pássaros pareceram cantar mais alto, a grama vibrava de vida.
- Seu poder vem da natureza. - Ela abaixou as mãos e aquilo cessou. Se sentando em um tronco ao lado dele, ela sorriu.
- Não. - Ele balançou a cabeça, incrédulo. - Eu fui aceito na fortaleza. Eles me acolheram. Eu consigo fazer magia...
- Kris. - Kria tomou um tom mais sério. - Você tem dificuldade em realizar magia, eu sei disso. Seu único dom é cuidar dos cavalos. Os naturais conseguem se comunicar com qualquer animal. Abra seus olhos.
Kris ainda não estava acreditando. Do nada uma mulher que se diz da tribo do fogo vem e causa terror, no outro dia outra vem e diz ser uma natural e que Kris era seu irmão e Príncipe de um lugar que não conhecia.
- Mas e quanto aos meus pais. - Kris perguntou, com curiosidade. - Eles me abandonaram...
- Eles nunca te abandonaram. - Kria se aproximou, tentando um contato mais próximo a ele. - Houve uma guerra há muitos anos. Deve conhecer a história da Ysmatiz. Você foi raptado e tirado de nós...
- Mas porque só hoje você me encontrou? - Kris parecia incrédulo. - Não devia ter me encontrado anos atrás e...
- A pessoa que o tirou de nós se certificou de que ficaria bem escondido. - Kria parecia verdadeira no que falava. - Somente ontem, com a Valácia destruindo a proteção dos solares com seu fogo, conseguimos te sentir.
- Valácia? - Então esse era o nome da encapuzada da tribo do fogo. - Você tem que nos ajudar.
Kris se levantou, indo em direção aos estábulos novamente. Kria continuou onde estava.
- Vem! - Kris disse. - Você tem que ajudar os solares.
- Não quero me envolver com solares. - Ela disse, séria. - Os solares são orgulhosos. Por que acha que não sabiam da existência de outros seres mágicos? Eu só estou aqui por você.
- Mas... - Kris pensou um pouco. Poderia ser verdade o que ela estava dizendo. Ele podia ter família. Seu coração se alegrou com isso. Mas não podia abandonar os solares. Eram todos idiotas, mas mesmo assim cuidaram dele.
- Se você não vier comigo, terei que ir embora. - Ela parecia estar triste agora. Kris agora soube que ela falava a verdade.
- Espera... - Kris pensou mais. Tinha que fazer alguma coisa. - Os naturais... estão contra Ysmatiz?
- Nunca apoiamos seus ideais. - Kria suspirou. - Você virá?
- Por favor! - Kris se aproximou dela e segurou em suas mãos. Os olhos dela eram idênticos aos dele. Uma irmã mais nova. Poderia se acostumar com isso com o tempo, apesar de ser impossível. - Tudo que eu te peço é mais um dia. Fica aqui e eu vou... Eu vou com você.
- Você não pode contar a ninguém...
- Por favor, confie em mim. - Kris disse, implorando. - Somente poucas pessoas vão saber. São pessoas em que confio. Por favor, Kria, se confiar em mim podemos mudar o destino da guerra.
Kria pareceu pensar um pouco. Kris ainda continuava segurando nas mãos dela.
- Um dia. - Kria se soltou das mãos dele e deu um passo para trás. - Se depois desse dia você não vier... irei embora.
A floresta parece a engolir e ela sumiu. Deixando Kris sozinho.***
Kris corria pelos corredores. Estavam vazios. O aparecimento de Valácia pareceu aterrorizar todos. Indo em direção ao cômodo das lunares, ele não diminuiu o passo. Chegando na porta, começou a bater repetidas vezes, ofegante. Quem abriu foi Ayana.
- Kris, o que houve? - Ela disse o avaliando dos pés a cabeça.
- Preciso falar com você. - Ele se apoiou na parede, fazendo uma careta devido a dor do lado. - Onde está Aubrey?
- Aqui. - Aubrey se aproximou detrás de Ayana. Pareciam estar no meio de uma reunião com todas as lunares, mas o que Kris tinha pra dizer era muito importante. - O que aconteceu?
- Preciso falar com vocês duas. - Kris respirou fundo e conseguiu falar mais calmamente. - É muito importante mesmo.
Aubrey assentiu e se virou para as lunares.
- Preciso me retirar por um momento. - Aubrey disse, em especial a Garva. - Podem continuar sem mim e Ayana.
Garva assentiu e quando Aubrey fechou a porta atrás de si, ela continuou a falar com a voz abafada.
- Aconteceu uma coisa... - Kris começou a falar.
- Esperem. - Ayana disse, observando o corredor. Ela girou a mão, fazendo um domo redondo os envolver, os privando do lado de fora. - Não poderão nos ouvir. O que aconteceu, Kris?
Olhando alternadamente para Aubrey e Ayana, Kris começou a contar.
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O Solar
FantasyLivro dois da trilogia "Os Celestiais".Após a fortaleza da lua ser destruída, as lunares realizam uma dura jornada e finalmente chegam na fortaleza do sol, com uma nova esperança. Mas infelizmente os solares não são tão amigáveis quanto elas imagina...