Viagem

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Kris estava com a boca seca quando terminou de contar a história. Aubrey estava concentrada, ainda olhando para ele. Ayana estava com a mão na boca, pois tinha ficado impactada com a história.
- Você é um... Príncipe? - Ayana olhava fixamente para baixo. - Como...
- Agora está mais que provado. - Aubrey disse calmamente. - Existem outros seres de magia. Como ninguém nunca soube.
- Kria disse que os solares e lunares são orgulhosos e egocêntricos. - Kris disse, falando devagar para descansar da história longa. - Disse que eles se cegam para a verdadeira realidade.
- Por isso Ysmatiz está um passo a frente. - Ayana cruzou os braços. - Ela sabia da existência desses seres e se aliou a eles. Precisamos fazer o mesmo.
- Também pensei nisso. - Kris falou, passando a língua nos lábios ressecados. - Se eu for mesmo o Príncipe, posso pedir ajuda... aos meus pais.
- Já pensou que pode ser uma armadilha? - Ayana frisou as sobrancelhas. - Parece algo muito do nada, não acha?
- Sei que Kria está falando a verdade. - Kris respirou fundo. - Eu sinto isso.
Aubrey deu um sorriso de lado. Se aproximando, ela colocou a mão no ombro de Kris.
- Se eu tivesse uma família esperando por mim, eu iria sem pensar duas vezes. - Ela disse em um tom calmo e sereno. - Além do mais, você precisa convencer eles a se unirem a nós. Temos até a próxima lua cheia.
- Mas... - Kris olhou para as duas, procurando algum apoio. - Eu não sou bom com... palavras.
Ele ficou vermelho, só agora percebendo a mão de Aubrey em seu ombro.
- Ele tem razão. - Ayana andou para o outro lado da sala e voltou, ainda pensando. - Deve ir com ele, Aubrey.
- Eu? - Aubrey a olhou. - Não posso abandonar as lunares. Não agora.
- Garva e Kelene estão aí, assim como eu. - Ayana tinha razão no que falava. - Você é a sacerdotisa das lunares. Você é a líder. Kris pode ir representando os solares.
- Eles podem não receber muito bem uma lunar egocêntrica e orgulhosa. - Aubrey disse em tom irônico. - Eu não sei...
- Saberão quem você é com seus atos, Aubrey. - Kris disse, não ficando vermelho por sinal. - Você falará pelas lunares.
Aubrey pareceu pensar por um tempo, mexendo devagar em uma renda do vestido dourado do baile anterior. Pensou por mais algum tempo.
- Pois bem. - Aubrey levantou a cabeça. - Quando partimos?

***

Kris estava em seu quarto. Empacotava várias coisas dentro de uma bolsa marrom. Após a decisão de Aubrey, eles ainda discutiram sobre como seriam os próximos passos. O sacerdote com toda certeza notaria a ausência de Aubrey ou até mesmo de Kris. Com esse medo em mente, eles realizaram um plano. Meg iria se passar por Aubrey, com um feitiço de disfarce, ela só apareceria de vez em quando sem dizer nada. Já Kris, seria interpretado por Luize, que disse que não seria difícil imitar outra menina. Garva e Kelene também souberam sobre o plano, de uma maneira mais resumida dos fatos. Agora, Kris estava se arrumando, tremendo dos pés a cabeça por medo do desconhecido. Terminando de se arrumar, ele saiu do quarto, passando pelos corredores ainda vazios.
- Kris! - Aubrey se aproximou atrás dele, lhe dando um leve susto. Ela estava usando o vestido azul escuro de sacerdotisa, com o capuz levantado. - Não pode passar pelos guardas assim. Saberão que saímos.
Ayana também se aproximou, olhando de um lado para o outro no corredor.
- Por favor não se meta em problema. - Ayana deu um abraço apertado em Kris, fazendo um carinho de leve em sua cabeça. Kris retribuiu o carinho.
Ayana se virou para Aubrey e também a abraçou.
- Cuida do meu menino. - Ayana limpou uma lágrima. - Vou tentar manter as coisas normais aqui. Consigam ajuda antes da lua cheia.
- Vai dar certo. - Aubrey disse.
Descendo o braço, ela pegou na mão de Kris, o que o fez arregalar os olhos e corar. Aubrey fechou os olhos e ele sentiu um formigamento por todo corpo. Olhando para baixo, não viu seu próprio corpo.
- Feitiço de disfarce. - Aubrey sussurrou. - Não diga nada alto e não solte minha mão.
Kris assentiu, sabendo que ela não viu o sinal. Ayana fez um tchau com a mão e os dois saíram, de mãos dadas e invisíveis, para fora da fortaleza.

***

Já sem o feitiço de disfarce, os dois andavam pela floresta, procurando algum sinal de Kria.
- Tem certeza que é por aqui? - Aubrey perguntou, descendo o capuz e ficando com os cabelos multicoloridos a mostra.
- Sim...
Kris continuou olhando para os lados. Era aquele o lugar. Tinha certeza. Um barulho alto os assustou. Pulando de uma árvore, Kria aterrissou de pé em frente a eles.
- Fico feliz que tenha vindo, Kris. - Kria sorriu para ele e depois fechou a cara para Aubrey. - Quem é essa?
- Aubrey. - Kris respondeu por ela. - É a sacerdotisa das lunares.
- Ela não poderá vir conosco. - Kria disse, seca. - Não será bem vinda.
- Aubrey é minha amiga. - Kris disse no mesmo tom. - Se ela não for, eu não irei.
Kria continuou encarando a lunar, com um olhar ainda cruel. Aubrey sorriu de lado para Kris, dando a entender um "obrigada" da sua parte.
Ignorando ela, Kria se virou para o lado direito, onde havia um tipo de porta feito de mármore castigado pelo tempo. Kris tinha certeza que não havia aquilo ali antes.
- Deixará Aubrey ir? - Kris perguntou à irmã, que se aproximava do meio do portal.
- Se essa for a sua condição... - Kria disse, entrando no meio do portal e sumindo. Kris se virou a Aubrey, que já se aproximava.
- Pronta? - Kris olhou para ela.
- Pronta.
Depois de Aubrey, Kris entrou dentro do portal.

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