24 - Primeira Semana - Victória

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– Esfregue bem as mãos e coloque-as sobre os olhos, fechando-os bem, ok?

– Ok.

– Não vale observar pelas frestas dos dedos, hein? ... Isso aí. Respire devagar e tente se sentir confortável. Vamos lá! A poltrona não é ruim...

...

– Ótimo. Massageie devagar os olhos, ainda com eles fechados. De forma suave, Victória. Eu sei que sua pele das palmas das mãos ainda não está bem hidratada, mas tente ser mais gentil consigo mesma, tudo bem?

– Tá, Jadir.

– Libere as mãos e abra os olhos devagar. ... Ótimo. As luzes não incomodam tanto quanto antes, certo?

– Certo.

– Muito bom. Agora, quero te apresentar o Coador, o lápis com cabeça e cabelos sinistros que pertencia a minha irmã Nádia.

– Por que o nome é "Coador"?

– Porque eu o achava um saco, assim como a dona.

...

– Ok, ok. Não precisa se esforçar para segurar as risadas.

– O que você quer que eu faça com isso?

– Segure-o com a mão direita, mas não como se fosse escrever com ele, segure-o de forma ereta, no sentido da gravidade.

– Assim?

– É. Agora estique o braço, sem mover a coluna. Olhe para o lápis, sem desviar os olhos dele.

– E o que mais?

– É só isso. Fique parada, foco no Coador e se lembre de respirar.

...

– Eu pensei em usar isso para tirar uma selfie, mas, com quase nada de adaptação pode nos servir para afastar mais essa desgraça de lápis macabro. Não desvie os olhos. Vou retirá-lo da sua mão e encaixá-lo no pau de selfie.

– Ok.

– Agora que o lápis está mais distante, continue com o foco. Consegue vê-lo?

– Sim. Com esta cor de cabelos falsos fica difícil não conseguir...

– Maravilha. Estamos melhorando o nosso humor. Mexa o objeto para vir e ir, não se desvie dele. Vamos aumentar a distância do lápis e depois poderemos jogá-lo no vaso sanitário, dando adeus ao medonho artefato.

Não aguentei e esbocei um sorriso.

– Mantenha a concentração. – Mas, mesmo sério, Jadir era engraçado.

– Está bem, o que faremos agora, chefe?

– Após jogar isso pela janela – que foi o que literalmente ele fez quando eu devolvi o lápis, – Vamos usar da tecnologia que a Helena e minha mãe nos dispuseram. Lembre-se, o treino é para o globo ocular, então você não pode movimentar a cabeça, nem o restante do corpo, a não ser que eu solicite.

– Certo chefe – Bati continência com um leve ânimo.

Jadir chegara cedo naquele dia frio e chuvoso. Antes mesmo d'eu acordar, ele já havia montado uma tela de projeção com um data show. Ele parecia gostar mesmo de tudo aquilo e eu costumava me animar na reabilitação por meio do contágio, disposição e paciência que vinham dele. Mas, isso foi antes. Eu não conseguia manter muito o humor ilusório. No entanto, a expectativa de saber o que viria naquele dia, me intrigava e me distraia um pouco. Nunca pensei que uma reabilitação pudesse não ser tão tediosa.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora