7 - NÃO É A MESMA - Daniel

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Foi quando a vi e o meu mundo mudou. Sim, meu chão deixou de existir, meu coração eu ouvia nitidamente e estaquei por um tempo maior do que pretendera... Até Helena me chamar. Uma das grandes responsáveis pela formação e manutenção da academia era parente da Victória. Tinha que ser logo essa mulher? Após o meu contraste de pensamentos, desde o dia em que vi Victória pela primeira vez e agora, ouvi a irritante instrutora dizer:

– ... Daniel está aqui! Ele vai cuidar de você.

Eu ainda não estava seguro do que iria fazer, mas reparei na expressão ora alheia, ora confusa daquela coitada. Coitada?

Eu não esperava ver Victória daquele jeito. Eu sabia que ela havia sido atingida pelo que ela própria causou, mas jamais cogitei a possibilidade de encontrá-la tão enfraquecida e abatida. Ela não se parecia em nada com aquela roqueira arrogante de pouco tempo atrás.

Quando percebi que ela começou a se agitar, meu impulso me fez sair do lugar e a amparar. Victória ainda estava em tratamento com antibióticos, com baixa imunidade, então eu me mantinha com as luvas e o jaleco descartável. Agachei-me próximo dela, a fim de segurar o seu tronco, para que não se movesse.

– Hey, hey... Você não pode se mover assim.

Eu estava fraquejando... Não. Não. Fraca estava ela! Sua fragilidade era tão nítida e palpável para mim que, se eu a segurasse por mais tempo, temia que eu pudesse deslocar alguma costela dela, ou uma vértebra.

Aliviei a pressão das minhas mãos em suas costas, quando me deparei com os olhos dela atentos a mim. Como podia ser? Seus olhos azuis não reluziam mais... Suas pupilas estavam dilatadas e escurecidas, e a íris tinha um leve tom de vermelho, mais presente no olho esquerdo. Victória parecia assustada e acredito que eu também estava. Não parecia em nada com a garota detestável de antes. Seu rosto estava marcado pela agressão das chamas, pegando um pouco das laterais e zigoma esquerdo. Com certeza, também atingiu uma parte do couro cabeludo, cujo não dava para vê-lo, pois estava encoberto com um tecido fino. Ela não estava me olhando com o desprezo com que sempre olhou! Eu não sabia também se ela tinha noção da realidade e se sabia quem eu era. Seus olhos não se desviavam dos meus, mas ela parecia ter dificuldades para me ler; até que senti um movimento da sua parte. Ela elevou a mão direita e parecia que intencionava a me tocar. Foi quando a ação parece lhe ter chamado a atenção e ela percebeu algo que, como pensei, ela não parecia ter ciência. Victória fez uma expressão de susto, arregalando os olhos e mudando de cor, mas não emitiu um único som. No entanto, sua agitação a fez aumentar os movimentos de respiração. Ela não estava ligada ao monitor, mas era visível seu descompasso hemodinâmico. Era digna de pena.

– Não fique assim... – Logo me vi falando, enquanto lhe dava um medicamento receitado para os momentos de crise. – Tudo ficará bem.

– É sempre assim – ouvi Helena às minhas costas. – Ela tem tido poucos momentos de consciência. No mais, ela passa adormecida ou fora da realidade, olhando para o nada, sem se importar com nada, ou reagir... Essa não é a minha menina!

– Os exames cognitivos e do encéfalo já foram feitos? – Perguntei me mantendo sério e fitando Victória que já voltara a adormecer. O sedativo que apliquei não era forte o bastante para assim fazer, mas assim seria com uma pessoa não tão fragilizada...

– Já, mas não conseguem identificar muita coisa. Disseram que só o tempo dirá se ela se recuperará desse grande trauma que a pobrezinha sofreu...

Pobrezinha?

Cerrei o punho direito e apertei bem os olhos. Mas, antes que pudesse chamar a atenção da Helena, me recompus. Eu não podia me deixar levar pela irritação... Voltei a fitar Victória, quando ouvi Helena de novo:

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora