ROSAS BRANCAS - Parte Final

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Victória

— Tragam-na com cuidado, sim?

Eu ainda custava a acreditar.

— Isso, deixem-na aqui.

Pedi para acomodarem Helena no meu quarto, com uma cama de hospital recém instalada. Ela pouco reagia. Apesar de ter passado quase um mês desde o incêndio na academia, eu não compreendia. Como aquilo pôde acontecer?

— Hey tia — me expressei alto, sentando ao lado da cama e lhe pegando a mão ressecada. — Está me ouvindo? Acorde logo. Você precisa me contar o que aconteceu?

— Ela não vai poder, Victória.

Virei-me assustada. Pensei que já não tinha mais ninguém nos acompanhando.

— Quem é você?

— Sou o cuidador da Helena. Meu nome é...

— Você parece muito jovem para cuidar de alguém.

— Eu já faço isso há muito tempo e...

— Hey! Como você sabe o meu nome?

— Todos te conhecem por aqui...

Ele não parecia se importar com minhas interrupções e pouco agrado por sua presença. Mas, com certeza percebeu...

— Você deve preferir ficar sozinha, mas eu tenho que atender a sua tia.

— Ela não é minha tia de verdade — me vi cortando-o outra vez. Era do meu feitio discordar e irritar quem quer que fosse, estranho ou não. Todavia, ele me parecia familiar... Mas, de onde?

— Ah sei, me desculpe — baixou um pouco o tom e percebi, naquele instante, cansaço e tristeza em seu olhar. — Ainda assim, peço licença para acomodá-la melhor.

Afastei-me um pouco, permitindo a aproximação daquele ser... Aquele perfume, não sei...

Balancei a cabeça e me voltei para o momento, perguntando:

— Você sabe, não é? O que aconteceu, afinal de contas? O que provocou o incêndio na academia?

— Eu não sei — falou, se atentando a Helena, mantendo um tom neutro. — Mas, muito foi perdido naquele lugar.

— Ah, é claro que foi — zombei do óbvio, levantando a voz. — O que a Helena e o seu Fausto investiram naquele lugar foi todo perdido. É um desperdí...

— Dinheiro... É só nisso que você consegue pensar?

Confesso que me senti ligeiramente intimidada pela mudança de postura dele. Voltou-se para mim com olhos irritados e continuou:

— Muitas vidas foram perdidas. E veja como a sua tia está. Acha que é o momento para pensar no dinheiro?

Sussurrei nervosa, insistindo, sem saber o que falar:

— Ela não é minha tia de verdade...

— Helena só tem você, Victória — bronqueou. — É isso o que importa.

— É isso o que importa... — repeti, desviando o olhar, e perguntei: — E quem importa para você? Helena? Posso não ligar muito para os comentários, mas sei que ela não era muito querida pelos que frequentavam a academia. Por que seria por você? Por dinheiro, é claro. Você está sendo pago para estar aqui... Ou seja, o dinheiro é o que importa.

— Você não sabe o que diz — voltou-se para a Helena, mas ainda continuou: — Eu também frequentava a academia... E não apenas eu estava naquele dia.

— Você estava no dia do incêndio? — me peguei surpresa, logo me recriminando pelo desvio na postura. Ora, no que aquilo me importava?

— Eu saí algumas horas antes... Mas, havia muita gente por lá.

— Alguém que te importasse? — o que estava acontecendo comigo?

— Minha mãe e minha irmã morreram lá — falou num sussurro, ainda assim eu entendi bem e me senti mal. Oras... O que havia me dado?

Desviei-me para os lados na tentativa de abafar a tensão dentro de mim, procurando por mais ar do que aquele suprimido do meu quarto assombrado. Quando ouvi:

— Nenhuma das duas deveriam estar lá. E eu que estava preocupado com meus irmãos mais velhos... Mas, por algum motivo pelo qual nunca vou entender, elas estavam lá e ninguém conseguiu nem ao menos tentar salvá-las. Foram as primeiras a morrer. E...

— Já chega — me vi interrompendo novamente.

Ele parou e se voltou para mim outra vez. Sua expressão mudou, pareceu preocupado.

— O que você disse?

Tomei fôlego e mesmo assim sentia que não teria forças suficientes para falar, mas falei:

— Eu não conheci sua mãe... Não conheci sua irmã... Não sei quem são seus irmãos... Não sei o que aconteceu na academia... Não sei sobre outras pessoas... Eu nem sei quem é você. E por algum motivo, algo em mim diz que a culpa é minha. Como pode? Eu estava bem longe...

— Sim, você estava aqui.

Me pus surpresa outra vez e senti um forte palpitar no coração. Aquela dor... Ele estava me acusando? Por que a culpa seria minha?

— O que foi, Victória? O que você está sentindo?

Ele parecia me conhecer. Afinal...

— Quem é você?

***

Acordei e estava no hospital. Minha visão estava horrível, mal conseguia discriminar cores. Sentia minha garganta seca e áspera. Ainda que com um prong nasal, eu sentia falta do ar... Meus pés formigavam... Minha coluna doía. E ao tentar contemplar uma das minhas mãos, senti seu toque áspero. Comprimi os olhos e... sorri.

Que tolice da minha parte tentar mudar o passado... Eu tinha que passar por tudo aquilo, não a Helena, nem mais ninguém. E eu me lembrava bem de que a mãe havia morrido para salvar a mim e a irmã, cuja estava muito viva. Eu percebi o cintilante brinco apoiado em algum suporte de mesa ao meu lado. Era inconfundível e bem visível.

Eu também não poderia trocar por nada tudo o que eu havia vivido, até o momento, com ele... Daniel, o meu Daniel. Mas, eu precisava juntar as peças... O que era realidade? O que era ilusão?

— Há quanto tempo, Victória Nielsen.

O quê?! O ar... Eu precisava do ar... Ele havia me encontrado! Eu não conseguia distingui-lo, mas a voz, a fala, a entonação e...

— Trouxe suas rosas preferidas.

... As rosas brancas. Henrique Bassanesi!

Essa era a minha realidade.

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Para os que acompanharam o capítulo de introdução em "Debilitado" deve imaginar que o Henrique "Bassanesi" ganhará um livro só dele... Por isso não poderei revelar a cláusula do avô da Victória aqui e mais... Os bastidores que nem o Jadir pôde contar (Suas Consequências Em Mim) sobre o casamento dela com o Daniel deve aparecer também por lá. Essas ideias não vieram de agora, mas desde os tempos de introdução deste livro 3. Mas, finalmente ganharam forma! O que acharam? O que é ilusão? O que é realidade? Bem, sabemos que Daniel e Vitória são reais e que eles tiveram contato antes mesmo deste livro que acabaram de ler. E o que mais?

Espero vocês em "Suas Consequências Em Mim" (próximo passo desse livro 3) e em breve, em "Imperioso Bassanesi". 

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FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora