FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos Amâncio

29 - PRIMEIRO DIA

Não me atentei aos assuntos alheios, mas havia algo, ou alguém, que me fazia desviar do meu divertido objetivo. Eu já havia visto aquele garoto de boné, pela rua, por várias vezes... Já havia o visto chutar as canelas dos seguranças, rir e fugir deles com uma velocidade soniquiana*... e ele sempre voltava! Mas, estar dentro da academia? E por que eu estava me importando tanto com isso? Não sei... Algo nele me chamava a atenção.

Sacudi um pouco os cabelos recém chapados, tentando me livrar das distrações e me concentrar. "Foco Victória!" Meu estilo esportivo da Calvin Klein não me deixaria na mão, mas eu ainda teria que esperar...

Daniel chegava antes da academia começar a "ferver" e costumava ir embora logo nesse início. Mas, naquele dia seria diferente... Eu sabia que, falando sobre o aniversário dele com a Helena, ela faria a notícia correr e o estabelecimento bombaria mais cedo. Quanto a mim, eu cheguei durante e pude contemplar aquele alvoroço todo e, claro, me divertir com ele. Daniel claramente não estava gostando daquela atenção toda, embora se mostrasse polido. Na superfície eu poderia não entender sua atitude de pouco querer se mostrar, mas no fundo, eu o compreendia. Não que eu fosse parar para pensar naquilo, naquele instante, mas eu ainda sou humana; mesmo tentando enforcar esse meu lado. Acendi um cigarro e omiti minha presença em um dos cantos da academia. Com tamanho tumulto, acredito que ninguém perceberia uma fumante no local que ria e se engasgava de forma constante com a situação.

Eu não conseguia tirar os olhos dele...

Seu sucesso lhe fazia jus e era perfeitamente compreensível as mãos bobas que vinham após os abraços de felicitações, e essas eram oferecidas não apenas pelo público feminino...

Percebi quando se agitou um pouco mais. Parecia que a vontade de sair dali havia crescido de modo fenomenal e, não mais apenas pelo tanto de atenção que recebia. Era o momento de me aproximar!

Apaguei o cigarro na parede próxima, jogando-o na lixeira logo em seguida e fui determinada ao encontro daquele jogo. Minha concentração era tamanha que meus ouvidos se tornaram abafados para os ruídos externos e minha visão periférica estava inexistente. Nem o garoto de rua, que desaparecia com meus casacos, me desviaria daquela vez.

Aspirei o ar entredentes e me aproximei com facilidade, afinal, eu era mais conhecida do que aquele astro naquela academia.

– Hora de irmos, querido – falei, sorrindo e o fitando com intensidade. Notei sua breve palidez. Peguei em seu braço, o convidando para me acompanhar, a fim de se livrar do aglomerado. Ele pareceu hesitar um pouco, mas logo cedeu e eu voltei a olhar para frente, sabendo claro, que ele não desviava os olhos de mim. Sorri satisfeita, mas não totalmente.

Daniel ainda não havia dito nada. Chegamos a saída e falei em meio a um riso debochado:

– De nada. – Eu era mesmo uma hipócrita.

– Ah, claro – percebi sua agitação. – Agradeço por me tirar de lá de dentro.

– Achei que você tinha outro lugar para ir e estava tentando sair. Errei ao pensar isso? – Arqueei uma sobrancelha, na dúvida fingida, sem deixar de ouvir minha voz mentirosa. Ele não seria tão tolo a ponto de acreditar nas minhas boas intenções, seria?

– Pois é... – Se desviava constantemente do meu olhar, mas logo retornava. Parecia sem saber o que fazer. Nervoso, talvez... – Tenho que voltar para o campus.

– E é muito longe daqui? – Eu quase não me aguentava para saber até onde eu iria chegar daquela vez. Minha adrenalina precisava ser contida. Tossi duas vezes.