11 - Victória

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Eu estava revoltada, por isso decidi fazer de tudo para provocar os meus pais, principalmente ao meu pai. Eu havia sido a filha perfeita até então, mas isso mudaria.

Comecei pelo que seria mais visível. Aproveitei a viagem para as suas farras, que diziam ser a negócio, e iniciei. Meus cabelos que, antes eram loiros ondulados e compridos, passaram a ser curtos, lisos e negros; como eu determinara que seria a minh'alma. Fiz três furos em cada lóbulo das orelhas e coloquei um piercing no nariz e outro no umbigo. Meus pais defendiam a sobriedade, mas era tudo o que eles não eram e não poderiam exigir isso de mim mais.

Pela agenda, eles voltariam e iriam direto para um jantar com algum cliente que julgavam ser de muita importância. Fiz algumas pesquisas e decidi me aliar a pessoas que eu julgava das mais repugnantes. Porém, agora eu via quem realmente os eram.

– Sim, sou filha dele – disse, no escritório, ao gerente do restaurante. – Quero fazer essa surpresa aos meus pais. Posso contar com a sua ajuda?

Aproximei-me com meu melhor sorriso, deslizando meus dedos na gravata que usava. Os homens são tolos e imundos! É claro que não se importaria em saber que eu ainda era menor de idade, contanto que conseguisse se satisfazer.

– Não vejo problema algum – falou, com um sorriso porco.

Segurei minha náusea e continuei a farsa da sedução. Valeria a pena para ver a cara que meu pai faria.

E foi naquela mesma noite que eu me apresentei em uma banda pela primeira vez. Por vingança sim! Ele merecia...

Assim que fomos apresentados, começamos a tocar e cantar as músicas mais pesadas que eu já ouvira no "Metal". Claro que meus pais estavam ali e foram atraídos pelo barulho. Eles estavam próximos de mim, na mesa a frente, eu os fitava com intensidade e ansiedade. Minha mãe estava boquiaberta, assustada. Quanto ao meu pai, ele não se permitiu impressionar por muito tempo. Eu podia sentir o calor da sua fúria! O plano dera certo.

Após a apresentação de mais duas músicas saí do palco, pulando a minha frente, e, ainda com o microfone, falei:

– Este é meu presente para você, papai querido! – Larguei o microfone sobre a mesa em que estavam, ouvi a dissonância da microfonia, mas isso não me incomodava. Pelo contrário! O barulho desafinado do microfone me excitava mais. Assim, dei-lhe um beijo estalado no rosto.

A princípio, meu pai ficou sem reação, mas ele não perdia o controle por muito tempo. Logo se virou para o cliente velhote, que estava em sua companhia, me prendeu pelo cotovelo e lhe disse:

– Deem-me licença, sim? Fazia tempo que eu não via minha amada filha.

Estremeci com sua frase, mas eu também era forte! Não me permitiria esmorecer àquela altura. Mantive o sorriso e cumprimentei minha mãe e o velho:

– Olá mamãe! Não acha que estou bonita assim? E como vai o senhor? Gostou do show?

Minha mãe riu sem graça, assim como o tolo cliente.

Bem próximo ao meu ouvido, forçando o sorriso, meu pai falou:

– Vamos!

Senti seu hálito quente. Eu o havia provocado de verdade, como eu queria.

O gerente pervertido cedera a sala para que conversássemos. Assim que chegamos, meu pai bateu bem forte a porta e, com igual força, me esbofeteou, grunhindo:

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora