25 - Segunda Semana

693 88 6
                                    

– Vamos lá Victória! Equilibre suas forças.

– Não d.á... – Esbafori. – Isso é loucura, Jadir.

– Você não estava querendo andar?

Sei que lhe dirigi uma carranca furiosa, o que o fez rir mais. Andar sempre foi um ato automático. Nunca tive dificuldades a respeito, ao menos, que me lembre. Mas, hoje, com as barras paralelas instaladas pelo Jadir, no jardim – os nomes até que combinam, colocando a prova todos os músculos do meu corpo, mais ainda dos braços, sozinha, na tentativa de dar um passo, eu percebia o tamanho esforço que era. A palma de minhas mãos começava a suar devido ao esforço e por certo já devia estar bem vermelha, pois a pressão que eu depositava nas barras era tremenda. Queria ter força suficiente para me fazer pender, mas isso não seria andar.

– Você não... vai me dar... nenhuma ajuda? – Questionei indignada e cansada.

– Não sou muleta – zombou. – Mas, eu entendo sua ansiedade. Descanse um pouco.

Quase me deixei cair na cadeira de rodas freada que ainda estava atrás de mim, suspirando aliviada e tensa ao mesmo tempo. Eu havia me decidido! Eu precisava me recuperar, corpo e mente, para poder reencontrar com o Daniel. Mas estava tão difícil!

Desde que ele se fora, sem despedidas nem nada, não tive mais lembranças. Mas, juntando os fatos e relatos, percebi que minha memória parava em muito pouco tempo antes do incêndio na academia e durante essa tragédia também, claro. Esse ocorrido já fazia três meses! Eu conseguia me lembrar de alguns momentos no hospital, da urgência médica, das palavras técnicas e alguns cuidados. Lembrava-me perfeitamente do dia em que Helena me trouxe para a casa dela, após liberação. Me lembrava de quando ela citou o Daniel, do dia em que ele chegou e todo o resto... Mas, antes disso ainda nada! Devia haver uma maneira de estimular meu cérebro.

Assim que me senti recuperada, indaguei Jadir:

– Há alguma maneira de me fazer lembrar do ocorrido no incêndio da academia? – Seria estranho eu perguntar sobre o Daniel e o que eu fiz a ele, embora já tivesse tentado, mas sem sucesso.

– Bem... Há dicas para melhoras na memória, relaxamento, spa, ouvir música suave, esquecer dos problemas, pensamentos felizes... Mas, mistérios da mente, não sei não... Talvez você se lembre, talvez não! Só o tempo dirá.

– Aff – bufei. – Você não serve para muita coisa.

– Eu sei – percebi sua alteração no tom e me assustei.

– Hey, desculpe – apressei em dizer. – Eu estava brincando.

Mais descontraído falou, parecendo mexer os ombros:

– Não esquenta. Sua evolução está mais rápida do que imaginei. Daqui pouco tempo você estará andando, correndo, pulando e chutando as pessoas outra vez.

Foi a minha vez de desanimar:

– Isso é cruel. Sei que fui uma pessoa ruim, mas não serei mais assim.

– Só com quem merecer, que acha?

Suspirei e me voltei para ele:

– Você tem problemas, não tem? Quero dizer, todo mundo tem, mas deve ser algo que tem te incomodado bastante.

O ouvi rir e dizer:

– Não, você não fez nada contra a minha pessoa.

– Eu sei – me incomodei com seu tom. – Você já me disse isso. Mas, dá pra perceber que todo o seu humor esconde alguma coisa. Não sei...

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora