ROSAS BRANCAS - Parte 1

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Victória

Eu tentava correr o mais rápido que podia... No entanto, eu já não enxergava... Eu já não ouvia... Meus pulmões ardiam e me davam a certeza de que, desta vez, a respiração já não fazia parte de mim. Era o meu fim. Por que eu fiz tanta coisa errada? Por que tive que enganar o Daniel? Por que fui a academia naquele dia? Eu queria muito poder voltar no tempo e mudar tudo isso... Mas, que tempo eu tenho? Enfim, no meu fim eu prolongarei, ainda que me arrastando. Eu preciso mudar a situação.

***

Estava tudo branco... Muito branco. Meus olhos quase se ofuscavam e, pela dor, me lembravam do quanto eu detestava àquele lugar.

— Bom dia, Cindy...

Ah, Cícera... A única que me fazia não me levantar de imediato e colocar fogo em tudo.

— Não me chame assim... Não tenho nada de Cinderela.

Com certeza eu estava mais para uma das suas piores irmãs.

— Veja como o dia está lindo.

Sem cerimônia, Cícera abriu as cortinas daquele quarto infernal.

— Ah, não faça isso — tentei me esconder. As luzes não combinavam comigo.

— Tome logo o seu café, minha linda, e se arrume. O mundo espera por tanta beleza.

Quase engasguei com a piada. Assim que eu saísse, com certeza o tempo fecharia.

Apesar da imensa vontade que eu tinha em ficar no mais completo breu o dia inteiro, parada, como uma samambaia, Ciça estava certa. Havia um motivo para eu ter voltado para aquele atormentado lugar: NIELSEN.

Eu mal havia colocado os pés para fora do quarto, tentando respirar o mínimo possível, quando me deparei com a segunda criatura mais deplorável que eu conhecia. A primeira, sem dúvida, se tratava de mim mesma.

— Hen.ri.que Bas.sa.ne.si — frizei, como para me certificar da realidade daquela aparição.

Seu sedutor cumprimento, com um dos braços às costas, uma mão estendida a mim e um clássico meio sorriso desafiador me lembravam que alguém como ele jamais se curvaria a ninguém. Henrique era como eu e não havia outros como nós.

— Victória Nielsen.

— Mendes... — sussurrei, desviando o olhar. Eu detestava aquele sobrenome.

— Sabe que é um imenso prazer revê-la — disse, ao beijar minha mão.

— Não seja tão formal. Não comigo, Bassanesi...

— Vim para levá-la a reunião solene...

— Eu não me esqueci — logo provoquei. — Eu já estava indo para lá.

— Estava mesmo? — arqueou uma sobrancelha, dissimulado. — Você não é muito conhecida por comparecer em seus próprios compromissos.

Desviou o olhar, dando uma volta ao redor de si, como que contemplando a antessala e o imenso lustre do centro da casa. Suas maneiras fingidoras eram como as minhas. Eu o detestava muito! Sorri com escárnio, dando-lhe tempo para falar o que sempre falava:

— Nem mesmo compareceu ao nosso noivado. Por que seria diferente agora? Só porque seus malditos progenitores morreram? Ou será por estar morando numa periferia? Aqueles caipiras já te modificaram assim, Victória Nielsen?

Sorri. Apesar de parecer saber, ele não sabia de nada. Nada importante, pelo menos. Mas, tinha fortes intuições.

Inclinei a cabeça, ainda sorrindo, ao falar:

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora