Apenas uma espinha de peixe

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No alto da colina mais afastada do vilarejo de Berk, soluço comemorava as últimas horas do dia de seu aniversário de dez anos sozinho e sentado abaixo de uma grande árvore que foi atingida por uma raio durante a tempestade noite passada. 

Enquanto assistia ao por do sol, soluço repassava tudo que aconteceu naquela manhã. Ele se lembrou da queda que levou assim que colocou os ''pés para fora da cama'', do café da manhã que deixou cair no chão, do trabalho pesado que Bocão o tinha passado, da humilhação que sofreu quando derrubou as espadas no treinamento de guerreiros e da briga que teve com seu pai, essa foi a pior que eles já tiveram.

Quando as estrelas já começavam a surgir, soluço escutou passos de alguém se aproximando, pensou ser bocão o procurando para que ele retornasse para casa mas teve a surpresa de ser Astrid. A garota dos cabelos loiros e olhos azuis que adorava bater nele. Eles se conheciam desde que conseguiam se lembrar, brincavam muito quando eram mais novos mas não se consideravam verdadeiros amigos, apenas pessoas que cresceram e convivem perto uma da outra.

— Oi soluço — Astrid se aproximou e sentou ao seu lado abaixo dos restos da grande árvore — Eu escutei a briga que teve com seu pai. Você está bem ?

— Acho que todo o arquipélago escutou a briga Astrid e sim, no geral estou bem.  — Respondeu olhando para o horizonte, ainda tentando processar o dia ruim que teve.

— Se está bem, por que ficar aqui sozinho ? — Indagou

— Não quero voltar, na verdade acho que não estou pronto para voltar, eu só queria ficar longe de tudo um pouco. — Disse. Soluço desejava sair de Berk, viajar por aí, descobrir novos lugares, novas pessoas, sair daquele vilarejo, ir para algum lugar que não fosse criticado por absolutamente tudo que fizesse.

— Se não está pronto para voltar é porque não está completamente bem, ainda chateado com o que seu pai falou, não é?

— Não só com ele, com todos aqui. Astrid eu não sou um guerreiro, sei muito bem que não tenho aptidão para ser, bem diferente de você que todos sabem que se tornará uma incrível guerreira daqui a alguns anos, mas eu ? Sou só uma espinha de peixe ambulante, é o que o povo sempre fala, mas meu pai não quer admitir de uma vez por todas que eu não sou aquilo que ele desejava como filho — Desabafou

— Você é horrível como guerreiro. 

—Obrigada Astrid — Respondeu com ironia ''ótima forma de me animar '' — Pensou

— Mas soluço, você é criativo, cria umas coisas bem malucas, coisa que praticamente ninguém em toda ilha é capaz de fazer. 

— Coisas inúteis de acordo com meu pai

— Hoje podem ser inúteis, amanhã já não.

Soluço olhou para Astrid sentada seu lado, estava de cabeça baixa, cutucando a grama enquanto falava, sua franja cobria boa parte de seu rosto mas mesmo assim ele conseguia ver uma parte dele.Estava realmente aquilo acontecendo, ela o estava apoiando ou melhor o incentivando. Ele não conseguia acreditar.

Astrid nunca tinha demonstrado o mínimo de interesse pelas coisas que soluço fazia durante todos esses anos. Lembrou-se do dia em que tinha construido uma espécie de nova arma que deveria ajudar a capturar dragões, foi direto a ela para mostrar como funcionava mas de alguma forma que não conseguia se lembrar acabou queimando a casa dela.

— Acha mesmo que posso criar algo útil ?

— Te conheço a muito tempo, você é inteligente Soluço, tenho que admitir, bastante atrapalhado também mas sei que um dia vai conseguir criar alguma ou algumas coisas que não causem uma confusão.

Enquanto Astrid falava, soluço a observava, não sabia exatamente o motivo mas percebeu que as batidas do seu coração começaram a se intensificar, um nervosismo cresceu dentro dele rapidamente, estava completamente extasiado com o que a ela havia falado. Ninguém antes, nem mesmo seu pai o tinha encorajado daquela forma. 

— Obrigada Astrid, o que você disse sabe... foi bem legal — Agradeceu.

— Não se acostuma soluço

—Não vou prometo.

Por alguns minutos assistiram ao sol se por no horizonte, sem falar nada um para o outro eles ficaram apenas olhando a beleza que era aquele fenômeno da natureza. Quando a lua já começava a surgir e a iluminar tudo em volta deles, avistaram as luzes das fogueiras da aldeia ao longe, o garoto olhou para o chão, ficou cabisbaixo pensando que teria que retornar para casa.

— Já está na hora de voltar, você vem ? — Perguntou ao garoto mas percebeu que o sorriso que tinha enquanto assistia ao por do sol se desfez, ficou triste com isso, então ela encostou a mão em seu ombro e sugeriu — Ou eu posso ficar aqui com você se quiser. 

— Não, é melhor você voltar, seus pais podem ficar preocupados com você.

— Stoico também ficará preocupado soluço e você sabe disso. Vamos ? — Se levantou e estendeu a mão a ele, com um pequeno impulso o ajudou a levantar e caminharam por entre a floresta em silencio de volta a Berk. 

Quando chegaram aos arredores do vilarejo soluço respirou fundo, sabia que teria que enfrentar os olhares de reprovação que todos os habitantes lhe davam todos os dias e que teria que encarar seu pai depois da discussão que tiveram.

— Está pronto ? — Perguntou Astrid olhando para o menino na sua frente que parecia cansado, não cansado fisicamente mas mentalmente.

— Quero dizer que sim mas — Respirou fundo e completou — Não, não estou. Eu gosto muito de Berk Astrid esse lugar pra mim é simplesmente perfeito, o problema é as pessoas, elas não gostam de mim e duvido que um dia me respeitem se eu chegar a me tornar líder. — Falou se referindo ao motivo da briga que teve com Stoico.

— Soluço eu não sei prever o futuro, não sou a Gothi mas de uma coisa eu sei, você mesmo não sendo aquilo que todos esperam de um líder, sei que fará tudo para tentar ser um bom líder e isso é mais do que o suficiente e sabe se quiser pode contar com a minha ajuda.

—Obrigada Astrid, você foi uma amiga pra mim hoje

—Não se acostuma — Avisou mais uma vez fazendo soluço sorrir um pouco. Antes dela seguir o caminho para sua casa, Astrid o abraçou — Feliz aniversário Soluço —Completou dando um beijo em sua bochecha.

Soluço voltou para casa com um sorriso no rosto, não sabia exatamente porque não parava de sorrir e nem de pensar no simplório beijo que Astrid lhe deu. Como ela havia fala o Stoico estava preocupado com o paradeiro do seu filho e ignorou todos os sentimentos negativos que tinha sentido depois da briga e correu para abraça-lo, acabaram fazendo as pazes em menos de segundos.

Na mesma noite soluço tinha se deitado em sua cama e tido um sonho com Astrid, acordou feliz, não a conseguia tirar da cabeça, não tinha reparado o quão linda ela era e sempre foi até hoje, ficou pensando um pouco em todos os momentos bons e ruins que tinha passado ao seu lado e acabou chegando a conclusão de que estava completamente apaixonado por ela. Ele respirou bem fundo e suspirou já quase adormecendo novamente

—Astrid.

Contos HiccstridOnde histórias criam vida. Descubra agora