''Roubo do Casaco''

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Hoje decidi que tentaria falar com a aluna nova assim que a visse. Estou adiando isso por dias. O problema é que não fazia a mínima ideia de como faria isso. Talvez dar uma desculpa esfarrapada para tentar começar uma conversa, não consigo pensar direito em alguma coisa. Saio correndo pela porta de casa. Assustado, nervoso e bastante ansioso.

Cheguei muito cedo no colégio, apenas eu e outra pessoa desconhecida já estavam ali. Sentei em um dos degraus da escada principal e fiquei lendo, esperando por ela. O tempo foi passando, alguns amigos me cumprimentaram e chamaram para acompanhar eles mas não iria sair dali até a garota chegar. Era hoje ou provavelmente nunca.

O nome dela era Astrid, quando a vi pela primeira vez em frente aos armários conversando com outra garota, fiquei olhando por um pequeno tempo e depois que percebeu que a encarava, sorriu para mim, aquele sorriso me desmanchou completamente por dentro. No primeiro dia tive a sorte de sentar ao seu lado na sala de aula mas não conseguia falar absolutamente nada, nem mesmo sobre o assunto que a professora estava dando. Nos dias que se seguiram, tentei diversas vezes chegar perto, me aproximar de alguma forma, tentar um contato, mas sempre ficava aflito com a ideia de conversar com ela.

Fiquei triste quando o sinal tocou e nada dela aparecer. Não tive outra opção além de entrar ou ia acabar recebendo uma advertência por atraso ou falta. Durante a primeira aula, ainda estava com esperanças de que Astrid iria aparecer, mas infelizmente isso não aconteceu. Por uma semana ela sumiu e a pouca coragem de tentar algo que eu tinha acumulado desde que a vi pela primeira vez, já desapareceu do meu corpo.

Era uma segunda feira, meu fim de semana tinha se resumido a ficar no quarto, jogar, comer e pensar nela, o por que dela ter faltado e se a veria novamente. Estava no fundo da sala conversando com os gêmeos, quando percebi uma pessoa entrando rapidamente e se sentando na cadeira em que tinha ao meu lado. Ela era, podia ver uns fios de cabelo loiro por baixo do capuz que usava

Não conseguia desviar o olhar nem um segundo sequer, não parecia a mesma menina que eu tinha conhecido, não conseguia ver seu rosto parecia triste e com certeza transmitia a mensagem de que não queria que ninguém  incomodasse. 

Durante a aula ela continuou da mesma forma, não falava nada apenas encarava o quadro, eu a olhava algumas vezes, via que seu olhos estavam vermelhos, como os de uma pessoa quando chora, mesmo mal a conhecendo fiquei preocupada com o que possa ter acontecido. A professora também percebeu mas nada falou, apenas seguiu com o seu trabalho. 

Quando a hora do intervalo chegou, Astrid se levantou de onde tinha sentado e saiu cabisbaixa pela porta da sala em direção ao banheiro não a vi depois disso, quando retornamos para a classe suas coisas já não estavam mais lá.

Nas semanas seguintes seu comportamento continuou o mesmo, ninguém sabia ao certo o motivo para que ela estivesse agindo daquela forma, completamente diferente da garota que todos vimos na primeira semana de aula, Alegre e sorridente, agora só víamos sua tristeza e seu casaco preto que tinha agora como uma segunda pele. Tinha tanta vontade de falar mas minha timidez sempre tomava o controle do meu corpo. 

Em um dia ouvia música e caminhava de volta para casa, quando tropeço em uma mochila no chão. Os fones acabam caindo dos meus ouvidos com o solavanco que levo.  

— Foi mal.

Fiquei paralisado quando ouvi sua voz, olhei na direção da pessoa que falou e depois de tanto tempo, lá estava ela, a garota com que eu sonho, penso, anseio e desejo  a semanas, parada na minha frente me pedindo desculpas.

— Tudo bem, eu que sou meio estabanado mesmo. Só para saber o que faz aqui ? —Ela não pareceu entender a minha pergunta, então a expliquei — É que o ônibus não para mais aqui. A nova parada fica na outra rua. 

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