Capítulo II

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Minha chegada ao aeroporto de Manchester é tranquila e sem maiores transtornos, mas, depois de mais de 13 horas de voo, eu estou realmente exausto. Não me espanto encontrar meus avós Amélia e Daniel, já me esperando. Estranho, no entanto, um rapaz negro, muito bonito por sinal, que está de pé ao lado deles. Tenho a impressão que o conheço de algum lugar.

Não tenho tempo para analisar esse belo exemplar do sexo masculino, pois logo sou bombardeado por uma sequência de beijos e abraços dos meus dois avós que tanto amo. Quando eles, finalmente, se acalmam e me permitem respirar, viro-me para o rapaz, com a intensão de me apresentar, quando ele abre um lindo sorriso e, agora sim, eu sei exatamente de quem se trata.

— Ai meu deus! — surpresa é o que me define agora. — Samuel?! É você mesmo?! — Quando eu disse antes que não tenho muitos amigos, poderia ter dito que tinha um único amigo. Teria sido uma descrição mais fiel do meu círculo de amizades.

A expressão que estou fazendo deve ser realmente cômica, pois ele abre um sorriso ainda maior e me puxa para um caloroso abraço. Não acredito que aquele menino franzino que conheci anos atrás é esse homem lindo que está na minha frente. Como alguém muda tanto em tão pouco tempo? Não que ele fosse feio antes. Longe disso. Mas era magrinho, usava aparelho ortodôntico e os cabelos eram fartos, estilo black power, sem falar nos óculos de armação grossa. Era o típico nerd de filme americano.

Na minha frente, agora, está um homem belíssimo. Músculos bem definidos, a vasta cabeleira deu lugar a um corte estilo militar, o aparelho já não esconde os dentes perfeitamente brancos e os óculos também deram adeus. A única coisa que continua igual é o sorriso. Lindo e sincero. Eu reconheceria esse sorriso em qualquer lugar não importa quanto tempo se passasse.

— Cara, como você mudou! — digo ainda surpreso. — Tá fazendo o quê aqui? Você sumiu, a Soninha só disse que você tinha ido estudar "nos estrangeiro", nunca que eu ia imaginar que você estava aqui. Por que não me falou? — Falo rápido, quase sem respirar.

O Samuel é filho da dona Sonia. Ela começou a trabalhar na casa dos meus pais pouco tempo depois de nos mudarmos para o Brasil. Tenho-a como uma segunda mãe. O Samuel morava com a avó, no interior do estado, e nós nos conhecemos na primeira vez em que ele foi visitar a mãe. Nos demos tão bem que meus pais convenceram a Soninha a trazê-lo novamente nas férias escolares. Depois disso, sempre que podia ele vinha nos visitar.

Juntos, nós nos descobrimos. Ele foi o primeiro garoto que eu beijei. Tecnicamente, ele foi quem me beijou, na verdade. Também juntos, iniciamos nossa vida sexual. Eu fui o primeiro dele e ele foi o meu. E, depois que demos adeus à famigerada virgindade, parecíamos dois coelhos. Não podíamos ficar a sós que já começávamos a nos beijar, nos esfregar e o resto é história.

Não sei quem era mais ciumento dos dois, na época. Vivíamos brigando e nos reconciliando. E foi depois de uma dessas brigas, da qual já nem lembro mais o motivo, que ele foi embora e nunca mais voltou. Não guardei mágoa dele. Apenas saudade e as boas lembranças.

— Tem pouco mais de um ano que vim estudar o idioma — ele me responde assim que nos soltamos do abraço. — Seus avós me receberam na casa deles — o seu sorriso lindo ainda me encanta. — Mas eu não fui o único que mudou, né? Olha só você! Não pensei que pudesse ficar mais lindo! — sempre fiquei desconcertado com seus elogios, pois sei que não sempre sinceros.

Olho para os meus avós atrás de mim e eles nos observam sorrindo. Sinto meu rosto corar de vergonha, pois esqueci completamente que eles estavam ali quando me atirei nos braços do Samuel.

— Tão linda essa amizade de vocês — minha vó fala no seu tom de voz sempre repleto de carinho.

— Sim. Mas vamos andando que o pequeno Noah deve estar cansado da viagem — meu avô põe fim a conversa.

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora