Capítulo VIII

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Diferente do que eu imaginei, a tia Márcia continua a agir naturalmente junto dos outros. Mas eu ainda consegui flagrar um ou dois olhares atravessados seus em direção à nora. Me pergunto se eles já existiam antes e, apenas, ninguém tinha notado até a gora.

— E aí, como foi? — Samuel me pergunta. Estamos dentro da piscina, na extremidade oposta aos outros.

— Melhor do que eu esperava — digo dando de ombros.

— Não parece — ele diz olhando em direção ao pessoal que conversa animadamente.

— Tudo a seu tempo, meu amigo — digo e tomo um gole da minha cerveja.

— Não gosto quando você fica assim todo metido a sábio da montanha — ele diz jogando água em mim.

— O importante é que a minha futura sogra estará do meu lado quando a hora chegar — tomo outro gole da bebida —, mesmo que ela não saiba — concluo e ouço Samuel ri alto me fazendo rir também.

Claro que eu me pergunto qual seria a reação dela se o Alexandre e eu viéssemos a, realmente, ter alguma coisa no futuro. Será que ela iria preferir uma nora racista à um genro gay? A tia Márcia sempre foi uma mulher "pra frente" nunca demonstrou qualquer tipo de preconceito e até já a vi defendendo a causa LGBT uma ou outra vez.

Mas isso é porque ela só observa de longe. Não posso dizer como ela reagirá quando e se acontecer dentro da própria casa dela. O tio Ruy por outro lado, é claro como água. O comportamento machista e, muitas vezes, homofóbico do Alexandre são nada mais que um espelho do comportamento e das opiniões do senhor Muniz.

Não tenho dúvidas de que ele prefere uma nora racista, porém mulher e "gostosa", do que um genro gay. Eu quase tenho pena de pessoas como ele, tão esclarecidas com as coisas do mundo e de mente tão estreita para algo tão simples quanto o amor independente de gênero.

☼☼☼☼☼

— O que vocês dois tanto riem, heim? — Simon pergunta quando me aproximo deles para pegar mais bebida para mim e Samuel — Já tá todo mundo curioso pra saber.

— Se fosse pra vocês saberem nós não estaríamos conversando baixo e a uma distância segura, você não acha? — meus pais e o casal Muniz riem disso, Aline está com um sorriso falso que destoa totalmente da sua cara de nojo.

Olho para Alexandre e o vejo molhar os lábios enquanto olha descaradamente para o meu corpo. Como é que ninguém percebe isso?

— Fica um pouco com a gente, filho — meu pai diz. — Chama o Samuel pra cá.

— Você quase não falou sobre como foi a sua viagem — minha mãe completa.

— Eu bem queria ter pais ricos — Aline sibila como a boa cobra que é. — Viveria viajando também — acho que ela não se deu conta de quão evidente ficou a inveja no seu tom de voz.

— Se mata, querida — digo no meu melhor tom de desdém. — Quem sabe você dá sorte se nascer de novo.

— Noah! — meus pais dizem em uníssono. Dou de ombros e saio de perto deles trazendo comigo as bebidas que vim buscar.

Antes de me afastar consegui olhar rapidamente para tia Márcia e tive a nítida impressão de que ela se controlava para não rir. Ponto para mim. Eu acho.

— O que foi isso? — Samuel pergunta rindo.

— Sem querer, acho que declarei guerra antes do tempo — respondo enquanto lhe entrego uma long neck.

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O almoço foi servido minutos depois daquela troca de farpas. A vadia oxigenada sequer chegou a entrar na piscina. Se contentou em ficar o tempo todo desfilando de biquíni diante dos olhares cobiçosos dos três héteros de plantão e do namorado dela, claro. Sim porque o jeito faminto com que o paspalho me olha não me permite mais encaixá-lo no grupo dos homens exclusivamente heterossexuais. Tenho cada vez mais certeza de que ele é, no mínimo, bi.

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora