Capítulo IV

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Acordo, não sei quanto tempo depois, um pouco desnorteado. Demoro alguns instantes para me situar e entender onde estou. Só agora me dou conta de que estava morrendo de saudade do meu quarto. Mais especificamente, da minha cama. Depois de mais de dois meses viajando de um lugar para o outro, é bom estar de volta ao lar.

Pego meu celular, que está sobre o criado-mudo ao lado da cama e me assusto ao descobrir que dormi por mais de vinte horas seguidas. Isso explica a fome que eu estou sentindo agora. Levanto-me da cama e vou para o banheiro fazer minha higiene matinal.

Preciso desfazer minhas malas, que ainda estão intocadas num canto do meu quarto, onde alguém as colocou. Mas a fome fala mais alto e, depois de vestir apenas uma cueca box e uma bermuda, resolvo descer para comer alguma coisa. Já passa das dez da manhã, então, é tarde demais para tomar café e cedo demais para almoçar.

A casa está num silêncio sepulcral. Bem diferente da barulheira que estava ontem quando eu cheguei. Antes de descer, vou até o quarto dos meus pais, apenas para constatar que eles realmente não estão em casa. Devem ter viajado no fim de semana. Aqueles dois vivem numa eterna lua de mel. Não consigo evitar de rir com esse pensamento.

Vou até o quarto do meu irmão, mas desisto de entrar antes mesmo de bater à porta. Provavelmente deve estar de ressaca, depois da farra de ontem. Sem falar que eu não tenho nada para conversar com ele mesmo. Seria estranho e constrangedor.

No andar de baixo também não encontro vivalma e vou direto para a cozinha. Pego várias frutas e preparo uma salada bem caprichada. Praticamente engulo a salada, sem nem mastigar direito, tamanha é a minha fome. Depois de comer, resolvo lavar a louça que sujei. Não quero que a primeira coisa que a Soninha me diga, quando me vir, seja uma bronca por fazer bagunça na cozinha dela.

— Noah? — assusto-me com a voz espantada do meu irmão, atrás de mim.

Viro-me para vê-lo e encontro um Simon todo descabelado e com cara de sono, me olhando como se estivesse vendo uma assombração.

— Ah oi Simon — digo enquanto termino de guardar a louça que já sequei. Acho que meu cumprimento soou um pouco mais indiferente do eu pretendia.

Ele me encara com uma expressão confusa durante alguns segundos, até que, finalmente, parece despertar de uma espécie de transe e avança em minha direção mais rápido do que eu poderia esperar. Sinto sinceridade no seu abraço e forço-me a retribuir da melhor maneira que posso.

— Quando foi que você chegou? Porque avisou nada? — alguém que visse o "desespero" com que ele me abraça, acharia que estamos há anos sem nos encontrar. — Eu tava com tanta saudade de você irmãozinho.

— Nossa! Parece que alguém sentiu minha falta mesmo — digo ainda em meio ao seu abraço.

Não era minha intenção desdenhar do seu gesto de carinho, mas acho que foi exatamente isso que pareceu para ele. Nos soltamos do abraço e percebo a expressão de constrangimento em seu rosto.

— É claro que eu senti sua falta, Noah — diz magoado — poxa irmão, porque você tá me tratando assim? — nossos cinco anos de diferença de idade parecem ter se invertido, nesse momento. Ele me olha como uma criança perdida, que não entende o porquê de ser preterida — acha que eu não percebo que você tem me evitado e não é de hoje? Que faz questão de não me ter por perto? — surpreendo-me com seu desabafo, embora não entenda onde ele pretende chegar com isso — Eu sei que não sou o melhor irmão do mundo, mas eu te amo, irmãozinho, e eu sinto sua falta.

— Me desculpe se eu magoei você de alguma forma, Simon — digo olhando em seus olhos —, não foi minha intenção — e já que estamos, aparentemente, sendo sinceros, resolvo falar também o que eu penso: — Eu também senti muito a sua falta, quando viemos morar no Brasil e você era o único amigo que eu tinha aqui — falo sério, mas tento não transparecer mágoa na minha voz —, mas, assim que se juntou com o Alexandre, foi você que fez questão de se afastar de mim e de deixar bem claro que eu deveria me manter longe de vocês — ele claramente não esperava que eu dissesse isso, pois fica totalmente sem reação. — Eu só fiz o que você tantas vezes mandou, fiquei longe — solto um longo suspiro.

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora