Capítulo XI

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Simon disse, minutos atrás, que Alexandre tinha lhe contado o que aconteceu na praia. Mas até que ponto será que ele falou? Pelo teor da nossa conversa atual, deduzo que ele contou apenas sobre o nosso encontro com o Murilo, mas eu me pergunto se foi realmente só isso.

Que eu saiba, os dois nunca esconderam nada um do outro. Pelo contrário, sempre foram cúmplices em tudo que faziam. Será que ele disse ao melhor amigo que quase beijou o irmão dele? Me pergunto, também, até que ponto eu posso confiar que os momentos entre nós dois, naquela praia, foram reais.

Quer dizer, eu sei que foram reais. Ele meio que se declarou para mim e nós quase nos beijamos. Mas e se tudo não passou de uma piada? Uma brincadeira de mal gosto? Depois de tanto tempo sendo ignorado, eu não consigo deixar de pensar que as coisas estão acontecendo rápido demais. É como se nos últimos dez anos eu tivesse vivido a minha vida em câmera lenta e, de repente, alguém apertou o botão de avançar.

As coisas estão acontecendo sem que eu consiga estar preparado para elas e isso me assusta. Eu aprendi, ao longo do tempo, a demonstrar segurança e esconder os meus medos. Vê-los sendo expostos assim, me aterroriza demais, pois eu não estou acostumado com isso.

Apesar de amar demais os meus pais, nem mesmo diante deles eu demonstro as minhas inseguranças. E quando o faço é de propósito para alcançar algum objetivo, como quando eu os convenci a guardar segredo sobre a minha sexualidade. Eles são tão ocupados que eu, simplesmente, não acho justo despejar sobre eles os meus problemas.

São MEUS problemas e sou EU quem devo resolvê-los. Samuel é, provavelmente, a única pessoa que me conhece em minha essência. Nem quando quero eu consigo esconder algo dele. Ele tem o poder de enxergar através das minhas barreiras.

— Sinceramente? — Simon diz, depois de algum tempo, me tirando dos meus pensamentos. — Eu acho que nem existe um "motivo" para as coisas terem sido como foram — ele faz aspas com os dedos quando fala a palavra motivo. — Por mais que eu pense, que busque na memória, eu não consigo encontrar uma explicação que pareça aceitável, nem que seja só pra mim mesmo — seu olhar parece perdido —, a não ser o fato de que eu fui um babaca.

— Isso não faz nenhum sentido, Simon — digo sem muita emoção.

— Não sei se você se lembra, mas, um ano antes de a gente se mudar pro Brasil, eu vim com mamãe e papai passar o carnaval com os meus padrinhos — lembro-me vagamente disso — você não veio porque tava doente. Não era nada grave, mas, mesmo assim, nossos pais quase cancelaram a viajem — ele me encara envergonhado e eu sei exatamente o porquê. — Lembro que eu fiz o maior drama, na época, uma confusão danada — ele sorri sem graça. — Tanto que nossos avós convenceram eles a viajar só comigo e te deixar com eles.

— É, eu me lembro — digo.

— O Alê e eu já nos conhecíamos, claro — ele sorri — já tínhamos nos encontrado algumas vezes antes. A última vez tinha sido no teu aniversário de três anos, você nem deve se lembrar — meneei a cabeça, negando. — Mas foi nessa viagem que nos tornamos amigos de verdade. Nos tornamos inseparáveis — é uma lembrança feliz, pelo menos para ele. — Sabe que eu até achei que vocês se tornariam amigos também, quando se conhecessem?

— Por que isso? — pergunto incrédulo.

— Lembro que eu mostrei uma foto tua pra ele... — ele ri com a lembrança — foi engraçado por que ele ficou todo animado pra te conhecer. Toda hora me perguntava coisas tipo como você era, o que gostava de fazer, de comer, se tinha muitos amigos em Manchester... — ele fala tudo isso rindo. — Por isso eu não entendi a reação dele quando te conheceu.

— Eu lembro que ele ficou me olhando de longe um tempão, mas não veio falar comigo e mal me cumprimentou quando os pais deles vieram nos dar as boas vindas — é estranho resgatar essas lembranças. Parece que foi ontem que tudo isso aconteceu. — Mas o que isso tem a ver?

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora