Eu Sempre Te Amei

Capítulo I

Com a chegada do meu tão esperado aniversário de 18 anos, meus pais queriam fazer uma grande festa para mim, assim como fizeram quando meu irmão chegou à maioridade. O problema é que, deferente do Simon, eu não tenho lá muitos amigos.

Eu tenho colegas, é claro. Pessoas que a gente vai conhecendo ao longo do tempo, mas ninguém com quem eu, realmente, quisesse compartilhar esse momento tão especial da minha vida. Obviamente, não seria difícil criar uma lista de convidados e lotar um salão de festas. Afinal, quem não gosta de comida e bebida grátis?

O fato é que eu não vejo sentido em estar cercado de pessoas que estariam mais preocupadas em satisfazer, às minhas custas, os seus próprios desejos egoístas do que em comemorar o meu momento especial. Assim, que sentido teria numa festa de aniversário em que o aniversariante seria o único a não estar feliz?

Por sorte, e depois de um drama básico, consegui convencer o senhor e a senhora Collins a não fazer a tal festa. E, para garantir que não haveria nenhuma surpresa no meio do caminho, eu, sutilmente, sugeri que eles poderiam me presentear com uma viagem pela Europa no lugar de fazer a tal festa. Claro que eu fiz parecer que a ideia foi deles e marquei a viajem para dois dias antes da data do meu aniversário.

A expressão de felicidade nos seus rostos, ao ver minha "surpresa" com o presente, não tem preço. Fiquei tão feliz que eu até esqueci, por um momento, que aquela ideia, na verdade, tinha sido minha. Apenas me deixei levar e curti o momento.

Também não tive dificuldade em convencer meus professores a adiantar minhas notas e encerrar meu ano letivo mais cedo. Sempre fui bom aluno e todos eles me adoravam.

Quem não ficou muito feliz com isso foi o meu irmão mais velho, que parecia mais empolgado com a tal festa do que qualquer outro membro da nossa família. Eu só não entendo o motivo disso. Afinal, ele passou os últimos dez anos ignorando a minha existência, enquanto eu corria atrás dele, mendigando um pouco de atenção. Essa inversão de papéis é um tanto quanto inusitada

Talvez ele tenha percebido que já não faço mais questão de tentar chamar sua atenção e que já não me interessa tanto a sua companhia. Dizem que a gente só dá valor às pessoas quando as perdemos, não é? Ele não me "perdeu" de verdade, mas perdeu a chance de ser o irmão mais velho que poderia ter sido. Não me importo mais com isso.

Meus pais, é claro, fizeram questão de me trazer ao aeroporto. Afinal, o bebê deles passará duas semanas sozinho passeando pelo velho mundo. Não será a minha primeira viajem pela Europa, mas será a primeira vez que eu viajo sem ninguém. O combinado é que eu passarei alguns dias visitando meus avós paternos em Manchester e depois estarei "livre" e poderei ir para onde eu quiser.

Aproveito que estamos sozinhos e resolvo me dar mais um presente de aniversário adiantado. Afinal, que lugar melhor para me assumir para os meus pais do que um ambiente público, cheio de gente e, principalmente, com segurança armada que poderá me socorrer, no caso de um acesso de fúria de qualquer um dos dois? Não que eu espere isso deles. Meus pais são as pessoas mais pacíficas que eu conheço. Mas não custa garantir, né?

O momento também não poderia ser mais propício. Afinal, eu estou partindo em uma viagem de duas semanas, com as despesas já todas pagas, e com dinheiro suficiente para manter a mim e mais umas dez pessoas pelo triplo do tempo que a minha viagem durará. Vantagens de se ter pais superprotetores.

Na pior das hipóteses, eu poderei ficar por lá mesmo, em definitivo, e terei como me manter durante algum tempo. É eu penso demais. Talvez eu tenha visto filmes e séries de TV demais e isso me deixou com uma tendência para o drama. O fato é que, desde que eu me aceitei como sou, eu fantasio esse momento e sempre, nos meus "sonhos", eu termino com um olho roxo e o pé na estrada.