Capítulo X

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Sinto-me péssimo por ter permitido que as coisas chegassem a esse ponto. Não acredito que ele me deixou plantado aqui esperando por um beijo que nunca veio. Sinto-me a mais ridícula das criaturas e mergulho, na tentativa de aliviar a raiva que começa a se apossar de mim. Então é isso? Fui tudo uma piada de mal gosto?

Alexandre não poderia ter escolhido um lugar melhor para me fazer de idiota e sobreviver para contar a história. A água sempre teve o poder de me acalmar. Papai diz que eu devo ter sido um peixe na minha última encarnação, pois sempre que brigava com o Simon e o amigo dele, ou quando me aborrecia com qualquer coisa, eu me jogava na piscina de casa e só saía de lá depois que a raiva passava.

Depois de não sei quanto tempo nadando de um lado para o outro, finalmente, sinto-me relaxado e cansado. Ouvi Alexandre gritar meu nome algumas vezes enquanto nadava, mas preferi ignorar a sua existência, por um tempo.

— NOAH! — Viro-me em direção à sua voz e o vejo ao lado de um rapaz que, embora me pareça familiar, não tenho certeza se o conheço.

Estou confuso. Será que eu fiz uma tempestade num copo d'água? Foi por isso que ele se afastou de mim, antes de nos beijarmos? Por acaso, eu já disse que tenho uma inclinação para o drama? Encaro os dois por um instante, perdido em pensamentos, mas logo vejo Alexandre fazer sinal para que eu me junte a eles.

— Mas é um peixe mesmo! — Alexandre diz com um enorme sorriso no rosto, quando já estou próximo o bastante. — Cara, eu to te chamando há um tempão — maldito sorriso que consegue me desarmar. — Noah, esse aqui é Murilo. Você já deve ter visto ele com a gente algumas vezes, né? — Murilo, esse é o Noah, meu... — ele limpa a garganta — o irmão do Simon.

Tu disse que ele era um peixe? mais pra sereio — Murilo diz me olhando dos pés à cabeça. Vejo o sorriso de Alexandre desaparecer na hora e uma carranca tomar o seu lugar — Satisfação — ele diz e me surpreende com um abraço —, o prazer a gente deixa pra mais tarde — ele fala baixo, mas eu tenho certeza que o amigo dele ouviu também.

Agora que fomos apresentados, lembro-me de ter visto esse amigo deles, algumas vezes, em nossa casa. Mas nunca fomos apresentados e, sequer, nos falamos, já que Simon e Alexandre não queriam conversa comigo. Em meio a esses pensamentos me dou conta de que o cara continua com os braços em volta de mim e começo a me incomodar com isso.

bom! Já chega! Solta ele! — Alexandre fala um pouco irritado e, praticamente, arranca o tal Murilo de cima de mim, num puxão nenhum pouco delicado.

– Calma, mano! — Murilo diz rindo — Qual o problema? com ciúme, por acaso?

— Para de ser imbecil, Murilo! — Alexandre brada. — Deixa o Simon saber que tu dando em cima do irmãozinho dele. Aí tu vai ver o que é problema — ele completa e o amigo dele apenas ergue os braços em sinal de rendição, enquanto eu reviro os olhos.

Voltamos à mesa e Murilo acaba "se convidando" para a se juntar a nós. Alexandre está visivelmente contrariado, mas tenta disfarçar seu desagrado com a presença do amigo inconveniente, que insiste em puxar assunto comigo.

— Cara, eu não entendo como é que eu estive na casa de vocês tantas vezes sem que nós nunca tenhamos nos esbarrado — Murilo diz, após um gole de cerveja. — Eu nem sabia que o Simon tinha um irmão — isso não me surpreendeu — Aliás, tenho quase certeza que ele disse mais de uma vez que era filho único. Não disse Alê? — agora isso sim me pega de surpresa. E me magoa bem mais do que eu gostaria de admitir.

Tento disfarçar o meu desconforto ao descobrir que fui renegado pelo meu irmão em um nível bem maior do que eu imaginava. Murilo continua tagarelando sem parar, mas eu já nem escuto mais o que ele fala. Sinto o olhar de Alexandre fixo em mim, mas me recuso a encará-lo.

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora