Capítulo IX

4K 453 106
                                    

A família de Samuel mora no interior do estado, a mãe mora conosco na casa dos meus pais, onde trabalha desde que nos mudamos para o Brasil. Embora, meus pais tenham lhe oferecido um quarto em nossa casa, Samuel não aceitou. Acho que não se sentiu confortável em ser hóspede na mesma casa em que sua mãe trabalha como secretária do lar. Por isso mesmo, agora, ele está dividindo um apartamento com outros dois colegas, no centro da cidade.

O trânsito está tranquilo e não demoramos a chegar em frente ao prédio onde mora o meu amigo.

— Está entregue — Alexandre diz, assim que para o carro.

Samuel nos convida para subirmos e conhecermos seu apartamento, mas nós dois recusamos quase que em uníssono. Alexandre por não estar realmente interessado e eu... francamente, não faço ideia de porque recusei o convite dele.

— Juízo vocês dois, heim — Samuel diz com um sorriso maroto nos lábios e sai, praticamente, correndo antes que tenhamos a chance de dizer qualquer coisa.

— E aí, vamos pra onde agora? — Alexandre pergunta animado, seus olhos chegam a brilhar enquanto ele me encara com expectativa.

— Como assim pra onde? Vamos pra casa, ué — digo sem muita convicção.

— Ah não, branquinho — de novo isso de branquinho? Penso em repreendê-lo, mas logo desisto. Até que eu estou gostando dele me chamando assim. — Vamos sair só nós dois — ele me encara e seus olhos brilham. — Já reparou que essa é a primeira vez que ficamos sozinhos, desde que nos conhecemos?

— Mais um motivo para irmos embora — digo tentando me manter impassível. — Não temos nem assunto pra conversar.

— Está decidido — ele fala convicto —, vamos à praia.

— Praia no sábado, Alexandre? — não disfarço me desinteresse. — Deve estar abarrotada de gente.

Vamo, Branquinho — é sério que ele vai ficar me chamando assim? — Tá com medo de andar comigo, por acaso? — Não consigo argumentar contra sua cara de cachorro abandonado.

☼☼☼☼☼

Acho que demoramos mais para encontrar um lugar para estacionar do que para chegar à praia. Alexandre aparenta estar mais animado do que se esperaria que estivesse. Não entendo o motivo disso, mas a verdade é que eu desisti de entender o amigo do meu irmão já faz alguns anos.

Como eu já imaginava, a praia está lotada. Alexandre e eu caminhamos, lado a lado, pelo calçadão. Já passa das quatro da tarde, mas o sol ainda está forte e eu penso em tirar a minha camisa, para amenizar o calor, mas me desisto ao me lembrar que não passei protetor solar, antes de virmos para cá. Recrimino-me mentalmente por isso.

— Vamos sentar ali — ele diz agarrando a minha mão e me puxando, antes que eu possa esboçar qualquer reação.

Como que por intervenção divina, Alexandre avistou uma mesa com guarda-sol vazia, em um quiosque. Atribuo o fato de ele ter segurado na minha mão à sua ânsia de não perder o lugar para algum outro transeunte. Não posso criar expectativas e cair na minha própria armadilha. O objetivo aqui é fazer ele se apaixonar por mim e não o contrário!

Uma mulher muito simpática nos atende e Alexandre pede duas long neck e uma porção de petiscos, que já deveriam estar prontos, pois ela não demora em trazer o que foi pedido.

Ficamos em silêncio durante algum tempo, apenas comendo e bebendo. Começo a perceber uma falha no meu plano de conquistar o paspalho. Não imaginei que fosse ficar tão desconcertado pelo simples fato de estar sozinho com ele. O que só piora com o jeito que ele me olha.

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora