Olho através da pequena janela do avião e já consigo visualizar a costa brasileira no horizonte distante. Foi difícil decidir voltar, mas, no fim, a saudade falou mais alto.
Samuel retornou ao Brasil alguns dias antes do natal, conforme tinha sido combinado. Eu, entretanto, não resisti a prolongar minha viagem por mais alguns dias. Dias esses que se tornaram semanas. Estamos no início de fevereiro e cá estou eu voltando para casa, sem avisar a ninguém.
Quero fazer surpresa para não ser surpreendido. Não duvido que meus pais dessem uma festa de boas-vindas para mim se eu tivesse avisado o dia que iria chegar. Ou talvez não, já que eles não gostaram nada quando eu avisei que não voltaria para o natal.
Felizmente para mim, o dinheiro que eles me deram era mais do que o suficiente para prolongar minha viagem. Sem falar que, assim que a preocupação de pai falou mais alto do que o desgosto por passar as festas de fim de ano longe do bebê deles, eles me mandaram mais dinheiro. No fim, eu tive que resistir à tentação de prolongar ainda mais a minha aventura pelo velho mundo, ou até mesmo ficar em definitivo por lá.
Em vários momentos, durante a viagem, me peguei perdido na lembrança do cheiro de um certo ogro que me abraçou antes de eu deixar o Brasil. O que foi bem estranho, diga-se de passagem. Não sei o motivo de eu não conseguir tirar da cabeça aquele maldito cheiro, ou a sensação de conforto que seus braços me proporcionaram em tão curto espaço de tempo. Como eu posso ter me sentido confortável nos braços de alguém que eu simplesmente não suporto?
Por sorte ou talvez por obra do destino, Peter, o bonitão de olhos azuis que eu conheci no pub que Samuel me levou, apareceu para aquecer as minhas noites e alegrar os meus dias. O homem é simplesmente um espetáculo. Deve ter uns dois metros de altura, no mínimo, todo grande, mas não do tipo rato de academia. E quando eu digo todo grande é todo mesmo.
Se eu tivesse que eleger um homem dos sonhos, com certeza, esse seria ele. Fisicamente lindo, um safado na cama e um doce fora dela. É claro que o Alexandre não chega nem aos pés dele. E eu não faço ideia de porquê eu pensei nisso.
O fato é que o meu plano de "dormir" com todos os homens da Europa acabou sendo frustrado, pois eu não tive olhos para mais ninguém depois de conhecer o gostosão loiro. E olha que ele nem é europeu. Peter é americano e estava, assim como eu, em uma viagem de férias.
Como eu não tinha um itinerário definido para mim, acabei, por impulso, seguindo o roteiro dele. Na Inglaterra ainda fomos a Liverpool e Londres e, de lá, seguimos para Paris e Marselha. Na Suíça formos à Zermatt, onde eu fingi não saber esquiar para que Peter pudesse me ensinar. Acabei me surpreendendo com quantidade de pessoas que falam português naquela região. Na Itália, Visitamos Roma e a Cidade do Vaticano. Desistimos de viajar para a Grécia e, praticamente, fizemos todo o caminho de volta, quando Peter me convenceu de que Amsterdã seria um destino melhor.
Não me arrependo da escolha. A cidade é tão linda quanto eu tinha ouvido falar. Ficamos lá por quase uma semana, até que as férias de Peter chegaram ao fim e, infelizmente, tivemos que dizer adeus. Nós já sabíamos que esse momento chegaria e, por isso mesmo, aproveitamos cada instante que passamos juntos.
Nos despedimos com a promessa de nos reencontrarmos um dia e de mantermos contato. Não posso dizer que tenhamos nos apaixonado um pelo outro, mas, com certeza, dividimos a mesma vontade de aproveitar a vida e fizemos isso muito bem no pouco tempo que passamos juntos.
Agora parando para analisar, me pergunto onde eu estava com a cabeça para viajar sozinho pela Europa com um completo desconhecido ao meu lado. Acho melhor esconder esse detalhe quando meus pais me perguntarem sobre a viajem.
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Eu Sempre Te Amei
RomanceNoah é irmão de Simon, que é o melhor amigo de Alexandre. Seus pais são sócios de donos de uma clínica médica e amigos de longa data. Simon e Alexandre são amigos desde a adolescência e tem a mesma idade. Alexandre sempre deixou claro que não gostav...