Simon ainda não veio falar comigo desde o momento em que eu "me revelei". Sei que ele quer me dizer algo, pois me olha de esguelha a cada cinco minutos. Mas sua expressão facial não é de alguém que esteja com raiva ou coisa parecida.
Ele parece triste e eu me surpreendo por ainda conseguir interpretá-lo desse jeito. Passamos tantos anos afastados um do outro, mesmo vivendo sobre o mesmo teto e, ainda assim, eu consigo decifrar cada expressão sua. Não entendo como isso é possível.
Alexandre, ao contrario do meu irmão, não para de me encarar. Ele parece mais leve. Está descontraído e muito animado, enquanto conversa com seus amigos. Mas, até agora, não veio falar comigo.
Mas o que está me incomodando mesmo é esse sumiço do Samuel. Faz quase meia hora que ele disse que iria ao banheiro e, até agora, não voltou. Pensando bem, ele não foi o único que desapareceu. Olho ao meu redor e me dou conta de que o Murilo também não está aqui. Não consigo evitar o sorriso involuntário que surge em meu rosto com essa constatação.
— Danadinhos — murmuro para mim mesmo, deitado sobre uma espreguiçadeira.
— Falando sozinho, irmão? — assusto-me com a voz de Simon. Nem vi quando ele se aproximou de mim. — Por que tu tá aí sozinho?
— Pensando na vida — respondo casualmente, enquanto o vejo sentar na espreguiçadeira ao lado.
— Nossos pais sabem? — ele pergunta.
— Sobre? — faço-me de desentendido.
— Sobre você ser... — ele parece constrangido.
— Gay? — digo a palavra que parece ter entalado na garganta dele. — É claro que sabem. Eu falei pra eles antes de viajar.
— Então, o Murilo tinha razão... — ergo uma sobrancelha — eu sou o último a saber...
Tenho que me esforçar para conter a minha vontade de rir. A cara que ele faz é impagável. Simon ficou chateado, não por eu ter me revelado gay, mas o fato de que eu não falei isso para ele antes. Ver um homem desse tamanho com essa carinha de cachorro que caiu do caminhão da mudança é muito fofo. Eu sou mesmo uma manteiga derretida.
— Não, o Murilo não tinha razão — digo me sentando e ficando de frente para ele. — Só três pessoas sabiam disso, até alguns minutos atrás — ele me encara. — Nossos pais, pra quem eu contei antes de viajar e o Samuel, que sempre soube.
Ele pensa em dizer alguma coisa, mas desiste. Qualquer coisa que ele possa dizer nos levará de volta ao assunto do nosso afastamento e ele, assim como eu, não quer mais ficar remoendo esse assunto.
— Você tá bem quanto à isso? — pergunto sério.
— Sobre você ser gay? — assinto com a cabeça. — Claro, Noah. Isso não muda nada — ele diz olhando dentro dos meus olhos e eu sinto a verdade nas suas palavras — Tu não percebeu que alguns dos nossos amigos são gays? — olho para os amigos deles noto algo que ainda não tinha me chamado a atenção. — A Carlinha e a Vanessa são um casal — ele diz, ao perceber a direção do meu olhar —, e tem o Murilo que e bi — ele segura o meu queixo e vira o meu rosto para ele —, mas fica longe dele, que aquele lá é o maior safado que existe na face da terra.
— E o Alexandre? —pergunto casualmente.
—O que tem ele? —reviro os olhos, me perguntando se essa lerdeza do meu irmão é genuína ou se ele apenas finge.
— Ele é hétero ou o quê? — pergunto da forma mais desinteressada que consigo simular.
Simon me encara por alguns segundos, talvez imaginando se pode falar desse assunto comigo. Eu, de minha parte, tento não demonstrar interesse.
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Eu Sempre Te Amei
Roman d'amourNoah é irmão de Simon, que é o melhor amigo de Alexandre. Seus pais são sócios de donos de uma clínica médica e amigos de longa data. Simon e Alexandre são amigos desde a adolescência e tem a mesma idade. Alexandre sempre deixou claro que não gostav...