Capítulo XIV

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Simon ainda não veio falar comigo desde o momento em que eu "me revelei". Sei que ele quer me dizer algo, pois me olha de esguelha a cada cinco minutos. Mas sua expressão facial não é de alguém que esteja com raiva ou coisa parecida.

Ele parece triste e eu me surpreendo por ainda conseguir interpretá-lo desse jeito. Passamos tantos anos afastados um do outro, mesmo vivendo sobre o mesmo teto e, ainda assim, eu consigo decifrar cada expressão sua. Não entendo como isso é possível.

Alexandre, ao contrario do meu irmão, não para de me encarar. Ele parece mais leve. Está descontraído e muito animado, enquanto conversa com seus amigos. Mas, até agora, não veio falar comigo.

Mas o que está me incomodando mesmo é esse sumiço do Samuel. Faz quase meia hora que ele disse que iria ao banheiro e, até agora, não voltou. Pensando bem, ele não foi o único que desapareceu. Olho ao meu redor e me dou conta de que o Murilo também não está aqui. Não consigo evitar o sorriso involuntário que surge em meu rosto com essa constatação.

— Danadinhos — murmuro para mim mesmo, deitado sobre uma espreguiçadeira.

— Falando sozinho, irmão? — assusto-me com a voz de Simon. Nem vi quando ele se aproximou de mim. — Por que tu tá aí sozinho?

— Pensando na vida — respondo casualmente, enquanto o vejo sentar na espreguiçadeira ao lado.

— Nossos pais sabem? — ele pergunta.

— Sobre? — faço-me de desentendido.

— Sobre você ser... — ele parece constrangido.

— Gay? — digo a palavra que parece ter entalado na garganta dele. — É claro que sabem. Eu falei pra eles antes de viajar.

— Então, o Murilo tinha razão... — ergo uma sobrancelha — eu sou o último a saber...

Tenho que me esforçar para conter a minha vontade de rir. A cara que ele faz é impagável. Simon ficou chateado, não por eu ter me revelado gay, mas o fato de que eu não falei isso para ele antes. Ver um homem desse tamanho com essa carinha de cachorro que caiu do caminhão da mudança é muito fofo. Eu sou mesmo uma manteiga derretida.

— Não, o Murilo não tinha razão — digo me sentando e ficando de frente para ele. — Só três pessoas sabiam disso, até alguns minutos atrás — ele me encara. — Nossos pais, pra quem eu contei antes de viajar e o Samuel, que sempre soube.

Ele pensa em dizer alguma coisa, mas desiste. Qualquer coisa que ele possa dizer nos levará de volta ao assunto do nosso afastamento e ele, assim como eu, não quer mais ficar remoendo esse assunto.

— Você tá bem quanto à isso? — pergunto sério.

— Sobre você ser gay? — assinto com a cabeça. — Claro, Noah. Isso não muda nada — ele diz olhando dentro dos meus olhos e eu sinto a verdade nas suas palavras — Tu não percebeu que alguns dos nossos amigos são gays? — olho para os amigos deles noto algo que ainda não tinha me chamado a atenção. — A Carlinha e a Vanessa são um casal — ele diz, ao perceber a direção do meu olhar —, e tem o Murilo que e bi — ele segura o meu queixo e vira o meu rosto para ele —, mas fica longe dele, que aquele lá é o maior safado que existe na face da terra.

— E o Alexandre? —pergunto casualmente.

—O que tem ele? —reviro os olhos, me perguntando se essa lerdeza do meu irmão é genuína ou se ele apenas finge.

— Ele é hétero ou o quê? — pergunto da forma mais desinteressada que consigo simular.

Simon me encara por alguns segundos, talvez imaginando se pode falar desse assunto comigo. Eu, de minha parte, tento não demonstrar interesse.

Eu Sempre Te AmeiOnde histórias criam vida. Descubra agora