16 - Débito ou Crédito?

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-Você tem certeza disso? – Ramona me questionou na hora do intervalo.

-Certeza eu não tenho – beberiquei meu suco -, mas acho que já está na hora.

Ela me olhou desconfiada e depois deu de ombros, não conseguiria me fazer mudar de idéia.

-Até iria com você, mas eu realmente não quero – ela me deu um sorrisinho fofo.

-Isso é algo que devemos fazer sozinha – ela revirou os olhos para aminha infantilidade.

-Você só vai cortar o cabelo Eliza – jogou o papel gorduroso de seu lanche em mim. -, para de drama.

-Drama? – arregalei os olhos para sua insensibilidade – Demorou séculos para crescer! E ele já sofreu tanto por causa das tintas...

Ontem, meus pais recamaram que o cabelo de Seam estava grande demais, e tomei isso como indireta, pois faltava um palmo e meio para que o meu chegasse à minha bunda. Que humilhante dizer isso. Assim, eu comecei a procurar cortes de cabelo que me interessassem e fui confiante marcar um horário no salão.

Agora, eu estou com medo.

-É só não cortar – ela me disse o óbvio.

-Argh! – amassei o canudinho – E se, ao invés de cortar, eu pintar de outra cor?

-Azul, talvez? – fiz uma careta.

-Ele foi azul por muito tempo, verde também e até roxo – ela me olhou curiosa.

-Você pinta seus cabelos desde quanto?

-Desde os quinze – apoiei meu rosto nas mãos. Primeiro eu fiz um teste com tinta spray e vi como ficaria, depois foi só tomar a iniciativa de pintá-lo de verdade. Passei dois anos com ele variando em tons de azul, depois que ele desbotou e ficou esverdeado, decidi aceitar a cor de pintá-lo de verde. Só fui deixá-lo roxo quatro meses antes da volta as aulas, mas mudei para rosa três meses depois.

-Uau, eu não teria coragem – ela olhou para o celular e me deu um sorriso fraco – Tenho aula de física, e você sabe como eu sou ruim nessa matéria, então...

-Vai lá – me despedi, desbloqueando meu celular e voltando aos cortes de cabelo.

Encarei a porta de vidro trabalhada por longos minutos antes de decidir entrar no cabeleireiro. Era agora ou nunca.

-Oi, tenho um horário marcado com o... – arregalei os olhos ao reconhecer o atendente – Jasper?

-Eu acho que você se enganou – deu um risinho -, você tem hora marcada com o Anthony.

-Eu sei disso – bufei -, o que você faz aqui? – ele me encarou por longos segundos e depois olhou ao redor.

-Eu trabalho aqui Elizabeth – Jasper era a única pessoa que me chamava de Elizabeth, e por mais que eu quisesse socá-lo por isso, uma parte de mim gostava.

-Sério? – Franzi o cenho. Não estava gostando da idéia de que ele me visse toda descabelada. Devia ter uma lei que proibisse que os homens vissem as mulheres no cabeleireiro.

-Sim. Só tem um cliente na sua frente – Ele apontou para um senhor que lia um jornal -, as outras duas serão atendidas por outra cabeleireira. – Concordei e fui sentar ao lado das moças. Conseguia sentir o olhar dele em mim, e me peguei pedindo para que ele não puxasse um assunto.

-O que você vai fazer? – ele sentou ao meu lado, mas com o olhar atento no balcão, caso algum cliente chegasse.

-Cortar – ele me encarou.

-Uou – apesar do tom, ele tinha um sorriso no rosto – Em que altura? – Franzi o cenho, ele não tinha que trabalhar não? Eu sei que é segunda e o movimento está fraco, mas não corre o risco de ele ser demitido por ficar papeando?

-Não – me virei para ele assustada, eu falei isso alto? -, esse salão é do meu pai Elizabeth, portanto, não serei demitido. – Senti meu rosto ficar vermelho de vergonha e desviei o olhar para o restante do salão.

Eu sou tão tapada que não percebi as referências. O nome do salão era Jane, a decoração era sofisticada e ao mesmo tempo, retro, o que deixava tudo tão aconchegante. Havia quadros inspirados em alguns romances espalhados pela parede. Estava mais do que óbvio que aquele salão fora inspirado na mãe de Jasper.

-Ah – foi só o que eu consegui dizer, então tratei de pensar em mais alguma coisa – Ele é cabeleireiro?

-Minha mãe era – me encarou, e por alguns instantes, me perdi em seus olhos -, ele só ajudou com os negócios.

-É muito bonito – ele concordou.

-Investimos tudo aqui. – O senhor que estava na minha frente já havia terminado o corte, já que ele não tinha tantos cabelos assim – e em breve abriremos mais um!

-Que fantástico! – O cabeleireiro me chamou e tive que encerrar o assunto – Não tire nenhuma foto constrangedora, ok? Meus piores momentos são no salão!

-Não posso prometer nada! – ele disse enquanto voltada para a bancada.

-Seu cabelo é um arraso! – Anthony tagarelava com sua tesoura. Já fazia um bom tempo que eu estava ali e meu traseiro começava a doer. Ele passou tantos produtos no meu cabelo que comecei a pensar que ele iria cair.

Eu estava evitando me olhar no espelho. Da última vez que fizera, eu parecia um pintinho molhado. Jasper já tinha aparecido aqui duas vezes, para o meu desespero, mas Anthony o enxotara de volta para o balcão.

-Já pensei em pintar o meu, mas morro de medo de danificar o meu bebê – ele alisou seu topete -, prontinho querida. – ele virou a cadeira na direção do espelhou e olhei meu reflexo.

A Elizabeth com cara de criança havia sumido, dando a impressão de que eu era uma jovem adulta. Agradeci Anthony com um abraço e fui na direção de Jasper. Ele me encarou por tanto tempo, que comecei a pensar que havia algo de muito errado que eu não vi no espelho.

-Uau – ele piscou – Você está fantástica! – senti meu rosto arder enquanto eu murmurava um obrigado e entregava o cartão. – Débito ou Crédito? – sorri em agradecimento por ele não ter prolongado com os elogios.

-Débito.


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Os Desamores de Elizabeth (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora