-Você tem certeza disso? – Ramona me questionou na hora do intervalo.
-Certeza eu não tenho – beberiquei meu suco -, mas acho que já está na hora.
Ela me olhou desconfiada e depois deu de ombros, não conseguiria me fazer mudar de idéia.
-Até iria com você, mas eu realmente não quero – ela me deu um sorrisinho fofo.
-Isso é algo que devemos fazer sozinha – ela revirou os olhos para aminha infantilidade.
-Você só vai cortar o cabelo Eliza – jogou o papel gorduroso de seu lanche em mim. -, para de drama.
-Drama? – arregalei os olhos para sua insensibilidade – Demorou séculos para crescer! E ele já sofreu tanto por causa das tintas...
Ontem, meus pais recamaram que o cabelo de Seam estava grande demais, e tomei isso como indireta, pois faltava um palmo e meio para que o meu chegasse à minha bunda. Que humilhante dizer isso. Assim, eu comecei a procurar cortes de cabelo que me interessassem e fui confiante marcar um horário no salão.
Agora, eu estou com medo.
-É só não cortar – ela me disse o óbvio.
-Argh! – amassei o canudinho – E se, ao invés de cortar, eu pintar de outra cor?
-Azul, talvez? – fiz uma careta.
-Ele foi azul por muito tempo, verde também e até roxo – ela me olhou curiosa.
-Você pinta seus cabelos desde quanto?
-Desde os quinze – apoiei meu rosto nas mãos. Primeiro eu fiz um teste com tinta spray e vi como ficaria, depois foi só tomar a iniciativa de pintá-lo de verdade. Passei dois anos com ele variando em tons de azul, depois que ele desbotou e ficou esverdeado, decidi aceitar a cor de pintá-lo de verde. Só fui deixá-lo roxo quatro meses antes da volta as aulas, mas mudei para rosa três meses depois.
-Uau, eu não teria coragem – ela olhou para o celular e me deu um sorriso fraco – Tenho aula de física, e você sabe como eu sou ruim nessa matéria, então...
-Vai lá – me despedi, desbloqueando meu celular e voltando aos cortes de cabelo.
Encarei a porta de vidro trabalhada por longos minutos antes de decidir entrar no cabeleireiro. Era agora ou nunca.
-Oi, tenho um horário marcado com o... – arregalei os olhos ao reconhecer o atendente – Jasper?
-Eu acho que você se enganou – deu um risinho -, você tem hora marcada com o Anthony.
-Eu sei disso – bufei -, o que você faz aqui? – ele me encarou por longos segundos e depois olhou ao redor.
-Eu trabalho aqui Elizabeth – Jasper era a única pessoa que me chamava de Elizabeth, e por mais que eu quisesse socá-lo por isso, uma parte de mim gostava.
-Sério? – Franzi o cenho. Não estava gostando da idéia de que ele me visse toda descabelada. Devia ter uma lei que proibisse que os homens vissem as mulheres no cabeleireiro.
-Sim. Só tem um cliente na sua frente – Ele apontou para um senhor que lia um jornal -, as outras duas serão atendidas por outra cabeleireira. – Concordei e fui sentar ao lado das moças. Conseguia sentir o olhar dele em mim, e me peguei pedindo para que ele não puxasse um assunto.
-O que você vai fazer? – ele sentou ao meu lado, mas com o olhar atento no balcão, caso algum cliente chegasse.
-Cortar – ele me encarou.
-Uou – apesar do tom, ele tinha um sorriso no rosto – Em que altura? – Franzi o cenho, ele não tinha que trabalhar não? Eu sei que é segunda e o movimento está fraco, mas não corre o risco de ele ser demitido por ficar papeando?
-Não – me virei para ele assustada, eu falei isso alto? -, esse salão é do meu pai Elizabeth, portanto, não serei demitido. – Senti meu rosto ficar vermelho de vergonha e desviei o olhar para o restante do salão.
Eu sou tão tapada que não percebi as referências. O nome do salão era Jane, a decoração era sofisticada e ao mesmo tempo, retro, o que deixava tudo tão aconchegante. Havia quadros inspirados em alguns romances espalhados pela parede. Estava mais do que óbvio que aquele salão fora inspirado na mãe de Jasper.
-Ah – foi só o que eu consegui dizer, então tratei de pensar em mais alguma coisa – Ele é cabeleireiro?
-Minha mãe era – me encarou, e por alguns instantes, me perdi em seus olhos -, ele só ajudou com os negócios.
-É muito bonito – ele concordou.
-Investimos tudo aqui. – O senhor que estava na minha frente já havia terminado o corte, já que ele não tinha tantos cabelos assim – e em breve abriremos mais um!
-Que fantástico! – O cabeleireiro me chamou e tive que encerrar o assunto – Não tire nenhuma foto constrangedora, ok? Meus piores momentos são no salão!
-Não posso prometer nada! – ele disse enquanto voltada para a bancada.
-Seu cabelo é um arraso! – Anthony tagarelava com sua tesoura. Já fazia um bom tempo que eu estava ali e meu traseiro começava a doer. Ele passou tantos produtos no meu cabelo que comecei a pensar que ele iria cair.
Eu estava evitando me olhar no espelho. Da última vez que fizera, eu parecia um pintinho molhado. Jasper já tinha aparecido aqui duas vezes, para o meu desespero, mas Anthony o enxotara de volta para o balcão.
-Já pensei em pintar o meu, mas morro de medo de danificar o meu bebê – ele alisou seu topete -, prontinho querida. – ele virou a cadeira na direção do espelhou e olhei meu reflexo.
A Elizabeth com cara de criança havia sumido, dando a impressão de que eu era uma jovem adulta. Agradeci Anthony com um abraço e fui na direção de Jasper. Ele me encarou por tanto tempo, que comecei a pensar que havia algo de muito errado que eu não vi no espelho.
-Uau – ele piscou – Você está fantástica! – senti meu rosto arder enquanto eu murmurava um obrigado e entregava o cartão. – Débito ou Crédito? – sorri em agradecimento por ele não ter prolongado com os elogios.
-Débito.
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Os Desamores de Elizabeth (REVISÃO)
Teen FictionElizabeth quer provar ao mundo que pode viver muito bem sozinha. Mas tudo começa a sair dos eixos quando Jasper, o novato, começa a mexer com os seus sentimentos. Será que ela irá resistir ao rapaz e provar para todos que não precisa de um namorado...