Os Desamores de Elizabeth (REVISÃO)

20 - Ódio Canino

Eu gosto muito de animais. Muito mesmo. Por mim, eu moraria em uma fazenda e terá uma porção deles. E por mais que não pareça, eu gosto do campo, ele me traz uma tranqüilidade que nunca encontrei em outro lugar (nem mesmo na aula de ioga).

Porém, a minha cachorra, me faz questionar se eu terei capacidade de cuidar de outros bichos. Bem, ela é uma mistura de poodle com um cachorro que desconheço a raça, e ela é bem pequena. Aquela típica cachorra de madame, até com o nome de uma, Fifi.

Aliás, me desculpe por isso. Aos sete anos eu achava esse nome o máximo. Hoje, dez anos depois, questiono os meus gostos infantis.

Mas o que me faz questionar se vou mesmo conseguir lidar com tantos bichos, é que eu não consigo lidar nem coma Fifi.

E isso é bem vergonhoso.

Por mais que eu tenha alegrado a vida dela e presenteado com muito amor e carinho nesses últimos dez anos, há momentos que ela parece me odiar. O que, a meu ver, é muito ofensivo, pois eu nunca lhe fiz mal algum.

Ela é mesmo uma traidora.

E como se todos aqui em casa quisessem que ela me odiasse mais, eu sou a encarregada dos trabalhos sujos. Tipo levá-la ao PET SHOP para tosar – o que ela odeia -, tomar vacina – o que ela também odeia –, dar remédios, pingar colírio quando ela está com conjuntivite. E é só para mim que ela dirige os olhares de puro ódio, não para eles.

E é claro, o pior de todos eles: Dar banho.

O que eu estou tentando fazer agora.

Assim que ela percebe que eu peguei o seu xampu na área de trabalho, ela toma chá de sumiço. E como ela é pequena, é bem fácil se esconder pela casa. Pena que ela se esconde sempre no mesmo lugar, e sempre eu consigo pegá-la.

-Fifi, se você não sair daí, eu vou te dar banho na água fria! – Ela não se abalou com a ameaça, só me mostrou os dentes e se afundou mais no vão entre a máquina de lavar e a secadora.

-Depois não diga que eu não avisei! – Levantei irritada e sai da área de serviço. Tudo isso por causa de um banho! Veja o cachorro de Ramona, por exemplo, ele ama tomar banho. Fica todo alegrinho quando ela o chama para o banheiro. Mas Fifi prefere fazer um show ao invés de colaborar comigo.

Fui até o quarto do imprestável do meu irmão, que estava com alguns amigos da faculdade. Ele odiava quando eu aparecia e no dia que seus amigos vinham, e eu respeitava, já que eu também odiava quando meus amigos vinham e ele surgia para atrapalhar.

Principalmente agora que Blake o odiava com todas as forças, pois achava que Seam e Ramona tiveram um caso mal acabado. Sendo que só usamos meu irmão para provocar ciúmes nele.

Também não me orgulho disso.

-Você não consegue dar conta de um cachorro? – ele desceu comigo, bem irritado.

-Ela me odeia! O que mais você queria? – Seam revirou os olhos e entrou na área de serviço. Preferi ficar do lado de fora, esperando que ele trouxesse aquele monte de pelos.

-Aqui está – Fifi lambia Seam, implorando para que ele a salvasse. Mas mal sabe ela que ele é meu aliado, não dela.

-Obrigado meu bem – peguei Fifi, que desmanchou a postura de fofa e começou a tentar me morder. – Se eu morrer quero que você fique com as minhas coleções.

-Ah, fico honrado com isso – ele disse com ironia, me dando as costas.

-Agora sou só eu e você – ela me olhou com raiva e eu retribui. Se ela queria guerra, ela teria.

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Nós somos os dinossauros e a vida é o meteoro.

Eu estou sentada no sol que felizmente saiu, me secando. Quando terminei de dar banho em Fifi e me olhei no espelho, quis chorar. Parecia que eu tinha tomado um banho de chuva, e o banheiro estava um caos. Como um ser tão pequeno consegue fazer tanto estrago?

Estou falando da Fifi, não de mim.

Agora eu tinha que ficar aqui, sentada na grama mal aparada do quintal, impedindo que minha cachorra role na sujeira e fique com vários tons de marrom em seu pelo branco, e pensando na fazenda que eu nunca terei.

Pelo menos, aprendi que, se seu cachorro te odeia, leve-o ao Pet Shop e evite maiores estragos.

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