Paris

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– Eu não entendo você, meu bem. – Ela acariciou o cabelo dele e suspirou, descendo da pia logo em seguida.

– Angeles...

– Eu não vou ser seu joguinho, German. – Falou enquanto arrumava a própria roupa no corpo. – Assumi meu erro e me arrependerei pelo resto da vida.

– E qual o problema? – Ele a encarou.

– Não quero você me levando pra cama e depois me humilhando quando lembrar de tudo novamente.

Ele deslizou uma mão pelo cabelo devagar, sem querer contrariar a mulher que amava, pois sabia que ela estava certa, no final das contas.

– Eu sinto muito. – Falou baixo. – Mas é difícil te perdoar completamente.

Sentindo que perdia cada vez mais sua paciência, Angeles olhou pra cima e tentou manter a calma.

– E o que você me diz sobre perdoar suas idiotices? – aumentou o tom de voz. – Você é um machista de primeira, Castillo. E mesmo assim eu o perdoei, porque eu sabia que era tudo uma máscara.

– O que você tá falando?

– O que você está ouvindo. – Olhou-se no espelho uma última vez. – A verdade é que eu não aceitei casar com você, mas com o outro German. – Apontou para ele. – O que fica escondido aí dentro. O German que eu amei. – Deixou a voz sair quase em um sussurro. – O que eu amo.

Angeles saiu do banheiro deixando o cirurgião completamente sem ação. Sua cabeça parecia querer explodir, ainda mais depois das bebidas que havia tomado.

Sabia que tudo o que Angeles dissera era verdade. E naquele momento percebeu que ainda a amava, talvez até mais que antes.

A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho relaciona-se mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós.
JANE AUSTEN.

German caminhava pelos corredores do HCT pronto para ir embora. Havia tido um plantão estressante e seu corpo pedia descanso insistentemente.

– German! – Uma voz feminina o chamou.

Virou-se e olhou para sua melhor amiga, Silva.

– Eu e o pessoal vamos sair pra beber um pouco. – Falou animada.

– E o que eu tenho a ver com isso?

A mulher revirou os olhos e pôs as mãos na cintura.

– Estou te convidando, seu idiota. Você passa todo tempo que pode no Hospital ou em sua casa fazendo um grande nada.

– Porque eu quero. – Deu de ombros.

– Porque você não tem mulher pra levantar seu ânimo. – Falou séria. – Vamos. Eu arrumo uma loira dos olhos verdes pra você.

Ele a encarou com uma visível raiva. Odiava quando Silvia fazia brincadeiras do tipo, ainda mais depois de tudo o que havia acontecido.

– Qual é, German? Você não vai mais tentar nada?

– Tentar o que? – Colocou as mãos nos bolsos.

– Recuperar sua vida. – Falou baixo. – Faz quanto tempo que ela foi embora?

German respirou fundo e olhou ao redor, sentindo seu peito doer ao trazer de volta aquele assunto.

– Três anos. – Ele não a olhou.

Silvia respirou e olhou para o amigo com receio, pois sabia como aquilo o magoava. Todos os dias, tentava fazê-lo esquecer de que Angeles algum dia havia passado por sua vida, ainda que gostasse bastante da psicóloga. Achava que ela era a única mulher capaz de mudar os pensamentos de German.

– Tudo bem! Entendo você. Entendo seu lado. – Falou baixo. – Mas próxima semana é a festa de aniversário do Hospital.

– Eu sei.

– E você vai ser meu par. – Sorriu. – O tema vai ser amor. Ou seja, pode sim aparecer com suas gravatas borboletas, pois estaremos como um verdadeiro casal.

Com essas palavras, Silvia saiu dando dois tapas no ombro de German, fazendo-o rir.

– Até porque minha vida amorosa está ótima. – Falou para si mesmo.

Portugal. Irlanda. França. Espanha. Itália.

Angeles passava por grandes universidades e centros de psicologia, acrescentando cada vez mais detalhes em sua formação.

Três anos apenas estudando. Se antes era boa, agora era a melhor.

Havia desenvolvido inúmeras pesquisas, que acabaram sendo publicadas em revistas internacionalmente conhecidas. Poderia dizer que estava no auge de sua carreira profissional e não reclamava de nada.

Enquanto passeava pelas iluminadas ruas da grande Paris, sentiu seu celular vibrar dentro da bolsa. Pegou o aparelho e atendeu a ligação de uma das poucas pessoas que a faziam sentir falta de casa.

– Que saudade, Max! – Falou animada.

– Espero que possamos matar essa saudade logo. – Ele respondeu do outro lado.

– Não penso em voltar tão cedo assim.

– Mas vai pensar. – Falou baixo. – O aniversário do HCT está chegando. Vamos fazer uma festa.

– Ah não, Max... – Suspirou. – Eu não vou.

Angeles olhou ao redor, procurando algum restaurante bom para ficar, enquanto segurava o aparelho contra o ouvido.

– Você não pode falar isso só por causa do German. Superem.

Ouvir aquele nome a fez lembrar de tudo o que havia passado e queria esquecer. Não conseguiu falar nada no momento. Esperou alguns segundos até digerir tudo.

– Eu vou pensar e te ligo. Prometo.

Não esperou que Max se despedisse e encerrou a chamada, respirando profundamente.

It Must Have Been LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora