2h10min.
German levantou e sorriu observando Angeles esticar o corpo sobre a cama. Ela havia vestido a camisa social dele, que servia praticamente como um vestido.
— Você é linda. — Ele falou baixo, encostando o corpo em um móvel e bebendo um pouco de água.
— Por que o senhor não vem aqui me elogiar de perto? — a voz dela era calma.
Ele bebeu de vez o resto da água que havia no copo e passou a mão pelo cabelo, tentando em vão arrumar a bagunça feita por Angeles.
— Quero um bom motivo para chegar perto.
— O que nós dois fizemos há pouco... Para mim é um bom motivo.
Ele riu baixo e ficou por mais alguns segundos observando Angeles deitada, com uma expressão de quem estava se divertindo bastante com a situação.
Aproximou-se da cama devagar e desabotoou a calça social que havia vestido ao levantar.
Angeles mordeu o lábio e puxou German devagar para que ele deitasse sobre seu corpo, sorrindo e segurando o rosto dele, beijando-o devagar. Os lábios dele estavam úmidos e ela sentiu o próprio corpo esquentar novamente.
— Como foi que eu passei tanto tempo sem isso? — ela sussurrou, fazendo carinho no cabelo de German.
Ele não respondeu. A única coisa que fez foi voltar a beijá-la com calma, deitando entre as pernas de Angeles e pressionando suas cinturas. Era sempre uma sensação embriagante ter aquele contato tão íntimo.
— Nós precisamos descansar, Castillo.
Ele sorriu e apoiou o corpo em um braço, deitando-se ao lado de Angeles.
— Você tem plantão mais tarde?— ela perguntou, arrumando-se por baixo das cobertas.
— Não.
Angeles observou a forma como o maxilar dele parecia relaxado e sorriu ao ouvir as poucas palavras de German. Talvez fosse essa uma das coisas que ela mais gostasse nele, sua objetividade.
4h30min.
A madrugada estava extremamente fria, mas apesar de estar quase amanhecendo, Angeles não via nenhuma ponta de expressão do sol. Levantou-se e caminhou até um piano preto de cauda próximo à sacada, procurando o celular que havia largado por ali. Ligou o aparelho e observou a hora na tela inicial. Arrumou a camisa do German que vestia e abraçou o próprio corpo, encostando-se na curvatura lateral do grande instrumento.
Os olhos dela estavam dando bastante trabalho para que permanecessem abertos, por causa do sono que sentia, mas não queria deitar. A vista era de tirar o fôlego e precisava pensar um pouco sobre tudo o que estava acontecendo.
Ainda que a noite tivesse sido uma das melhores de sua vida, Angeles não tinha certeza do que faria. Não se sentia preparada o suficiente para lidar com um relacionamento com German, porque ainda doía lembrar dos anos passados. Talvez nunca mais chegasse a sentir por alguém o que sentia por ele, mas isso não era um problema. Preferia viver distante a ter que lidar com a lembrança do que fizera estando perto. Para ela, era muito complexo, pois ainda não havia se perdoado.
Sentindo um vento forte adentrar o quarto, fechou os olhos e deixou que uma lágrima escorresse pelo rosto, não de tristeza, mas talvez de um sentimento catártico.
Ouviu passos lentos pelo quarto e não abriu os olhos, pois já sabia de quem se tratava. Não demorou muito para ouvir também alguns sons vindos da madeira do piano. Logo, algumas notas começaram a se espalhar pelo cômodo. Ela pôde identificar rapidamente. German estava tocando Johann Sebastian Bach. Concerto en ré mineur, BWV 974: II. Adagio. Angeles sorriu e sentiu tudo ao mesmo tempo. Reconheceria aquelas notas em qualquer lugar. Era provavelmente a sua composição preferida de Bach. Descruzou os braços e virou o corpo para observar o homem que tocava.
German estava com a mesma postura de sempre, apesar de parecer mais relaxado. Continuava sem camisa e com a calça preta que vestira na festa. Ela nunca o tinha visto tocar piano, mas agora, estava definitivamente apaixonada. Os dedos dele pareciam flutuar sobre as teclas, com movimentos delicados, ainda que precisos.
Caminhou devagar e sentou no banco, ao lado dele. Seus olhos castanhos permaneciam fixos às teclas do piano, mas ela sentia como se ele a estivesse olhando.
Angeles descansou a mão sobre a perna de German e suspirou, ouvindo as últimas notas da composição e acompanhando os dedos dele com os olhos.
Terminada a música, German respirou fundo e segurou a mão de Angeles sobre a própria perna, ainda sem olhá-la nos olhos.
— Eu não sabia que você tocava. - ela sussurrou, deitando a cabeça no ombro dele.
— Deixei de lado por alguns anos — a voz dele era um pouco rouca por ter acabado de acordar—, mas voltei a tocar quando você foi embora.
— Por que?
— Porque eu não tinha mais uma atividade sexual ativa. — Ambos riram, e ele continuou: — Você sabe, esse é o lado ruim do nosso sentimento.
— A vida sexual? — ela riu.
— A dependência. A incapacidade de encontrar alguém que me faça sentir o que você faz.
Angeles não falou mais nada. Levantou a cabeça do ombro de German e o observou por alguns segundos. Seus lábios estavam um pouco vermelhos, provavelmente por causa do frio. Sorriu e levou uma das mãos até o cabelo dele, entrelaçando os dedos entre os fios.
Sem avisar, German a beijou com uma paixão admirável. Ela não esperava toda a intensidade do momento, mas sentiu como se seu corpo elevasse a temperatura a cada movimento que German fazia com os lábios. Foi tomada por uma crescente adrenalina.
Seus hálitos quentes se misturaram e suas bocas estavam molhadas, dando lugar a uma eletricidade estimulante. Rapidamente, German puxou Angeles para seu colo, deixando mais confortável. As mãos dele estavam nas pernas nuas dela, sentindo suas curvas e a maciez do corpo de Angie. No entanto, ao começar a acariciar o quadril dela, ele hesitou um pouco.
Como resposta, ela levantou e fechou as teclas do piano. German não precisou de muito tempo para entender. Levantou-se também e segurou Angeles pela cintura, sentando-a sobre a tampa das teclas. Ele posicionou o seu corpo entre as pernas dela, despindo-a com pressa. Durante esse tempo, bocas e línguas continuavam insaciáveis, explorando-se. German parecia querer percorrer todo o corpo dela outra vez. E foi exatamente isso que fez. Desceu suas mãos pelas costas, agora nuas, de Angeles e seguiu até suas nádegas, apertando-as. Ela gemeu enquanto o beijava, puxando o cinto de German com uma habilidade que havia adquirido com a prática.
A mão direita de German deslizou ainda mais para baixo, agarrando-lhe a coxa e pressionando seus corpos de forma mais intensa. Estava quase dançando um tango argentino (erótico) sobre o piano. Projetou o quadril para frente, fazendo com que Angeles sentisse toda a rigidez presa na calça dele. Era uma tensão tentadora para ambos.
German afastou seu corpo apenas para conseguir tirar a calça. Agradeceu mentalmente por não ter vestido a cueca após o primeiro sexo da noite, pois isso lhe custaria mais trabalho agora.
Voltando sua atenção para Angeles, ela desceu as mãos do cabelo dele, para acariciar-lhe os ombros e a cintura, redescobrindo todas as partes do corpo que ela considerava quase vindo do Divino.
Eles não encontraram nenhuma resistência. Ofegar, beijar, sentir... Não havia hesitação alguma naquele momento.
Segurando o corpo dela, ele a inclinou o suficiente para que conseguisse penetrá-la. E assim o fez. E foi glorioso, quase único. Eles nunca haviam tido uma conexão tão intensa, tão arrebatadora. Seus corpos ofegavam, assim como suas respirações. Os movimentos de German eram lentos e firmes, seguidos de beijos rápidos e molhados. Ambos gemiam, sem qualquer constrangimento, como sempre havia sido. À medida que a velocidade do quadril de German aumentava, ele acariciava o corpo dela no mesmo ritmo. Sussurros eróticos e palavras murmuradas adentraram os ouvidos de Angeles.
Por fim, ambos chegaram ao ápice do prazer, gozando juntos de uma sensação intensa, sem pudor.

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It Must Have Been Love
RomanceGerman Castillo, neurocirurgião obcecado pelo trabalho e pela segurança de sua filha Violetta. Homem frio, calculador e duro com qualquer um que entre em seu caminho. Anos trabalhando no Hospital Central de Toronto, sempre procurou esconder as dores...